quarta-feira, 13 de outubro de 2010

MEMÓRIA DOS 35 ANOS DE ANGOLA

Um breve e arrepiado suspiro marca o corte difuso entre o real e sonho. Na minúcia do desdobrar dos óculos para melhor enxergar a palavra escrita, o ultimar do reordenamento das vivências translúcidas nas nervaduras da memória.
Um olhar esticado na picada do tempo e bem lá no fundo está o seu berço, uma aldeia ornamentada pelo verde dos cafezais, banhada pelo rio Mazungue e cercada por montanhas. É lá onde nasceu e cresceu correndo tresloucado atrás de borboletas coloridas.
A notícia sobre o desabrochar dos Cravos da Primavera de Abril de 1974 foi recebida tardia e por poucos, mas não sem alegria. Em grupo, os colonos agora falavam baixinho e olhavam à volta desconfiados! Falavam de um tal Spínola, que usava camuflado e um monóculo para ver o novo mundo em convulsão! Uma nova cena: MFA, Costa Gomes, Mário Soares, Almirante Rosa Coutinho e General Silva Cardoso!
Os nativos, a maioria composta por camponeses e operários humildes, cobriram-se de alguns receios no raiar de um novo dia. - Talvez seja algo efémero! Pois não acreditavam na queda do edifício de Salazar e Caetano. E na sua ignorância secular, antes de adormecer, rezaram e procuraram esquecer a inquietação da véspera. Queriam seguir seu caminho, como o rio Mazungue faz conformado o seu trajecto.
Mas o amanhecer cobriu os olhos de surpresa. Nas paredes da cidade, em letras vermelhas, encontraram escrito: Viva o MPLA! Abaixo o Colonialismo! A Luta Continua! A Vitória é Certa”. Semana seguinte, vieram os cartazes e panfletos: Agostinho Neto, o de boné e óculos, Savimbi, o de barbas, Holden Roberto, o de óculos escuros. A partir dos posters pregados nas paredes, os seus olhos seguiam os transeuntes.
As bandeiras e os comícios e a euforia geral. A delegação do MPLA - UM SÓ POVO! UMA SÓ NAÇÃO - instalou-se no bairro da Aricanga, numa casa cercada de cafezeiros.
A UNITA - KWACHA ANGOLA - instalou-se defronte à antiga oficina de automóveis do Amboim e ao lado do Bar Estrela, no Bairro Cateco, a uns metros do quartel do exército português. A FNLA - ANGOLA OYÉÉ – Liberdade e Terra! Primeiramente, escolheu a pedra da cadeia e depois as instalações do quartel colonial. Tempos de resgate da auto-estima, tempos de sonhos e de liberdade! Cada um escolhera o seu. Cada um o seu critério.
Alguns jovens ingressaram nas FAPLA (MPLA) e foram receber treino no CIR “Sangue do Povo”, no Assango. Queriam ser kwembas, SOLDADOS, mas os treinos eram duros. O alinhamento da formatura era feito com tiros. Era preciso coragem! As canções militares mobilizavam as aldeias! “Quero, quero ser soldado ai-iáiá…quero ser soldado! Com esta farda, aprender a marchar e com as armas lutaremos contra a opressão!”
Os programas radiofónicos conquistam audiência. “De longe ouvi aquele nome inesquecível dos filhos de Angola...Valódia, Valódia tombou em defesa do povo angolano...” assim cantava Santocas. Morre também o comandante Nelito Soares! A dor desce país adentro. A morte do Russo, o homem das motos da Gabela, comove a população local. Russo foi atropelado intencionalmente por um colono, quando estava estacionado. Aiué, Pedro Benje!
E finalmente o que muitos temiam, o tiroteio. Arma G3 e a cartucheira cobrindo a cintura, a Pepechá (arma de disco) e as Sterlings. E as explosões das bazukas! E as correrias!
Na guerra da Gabela, do lado do MPLA, falava-se da presença do Comandante “Incansável”, Sidónio, António Paulino, Urbano de Castro, David Zé e Sabata. Os heróis usavam farda castanha e chapéu à cowboy. As crianças já não eram meninos, viraram pió e imitavam os adultos.
– Arrastou comandó, bate o pé esquerdo! Uma travagem!...
A moda era montar comités e ter mutimbas, armas de madeira, para defender a aldeia. E os acidentes não faltaram. Tomás, um adolescente de 15 anos, feriu-se gravemente na omoplata direita, depois de ter feito um disparo com a sua arma artesanal. A velocidade do percutor perfurou o cartucho e os gases da pólvora fizeram explodir a câmara de combustão. Um estilhaço da chapa atingiu o adolescente. Chovia, mas o sangue salpicou o capim do caminho. Os acidentes multiplicaram-se e enlutaram famílias. Um jovem achou uma granada F1, quando regressava da lavra. Posto em casa, reuniu a criançada no seu quarto, para desmontarem o objecto estranho. Ele e algumas crianças morrem na explosão. Sangue e tecidos humanos salpicaram as paredes caiadas do quarto. A dor estendeu-se a bairros como Culembe, Manda-fama, Pange, Munguco, Nova-Ereira e Londa. Era prenúncio da guerra generalizada que faria jorrar ainda muito mais sangue de irmãos angolanos. Os portugueses, a maioria partiu desesperada deixando tudo para trás! Depois um novo medo chega do Sul. Os sul-africanos invadem o território nacional e traçam Luanda como meta. Passam pela Huíla, Benguela, Lobito e Novo Redondo! As populações recuam aflitas na esperança de salvar a vida! Os invasores atingem as margens do rio Keve ou Kuvo e sentem pela primeira vez o sabor acre de ser alvo da pontaria alheia.
Era Outubro de 1975. Faltavam escassos dias para o 11 de Novembro, o dia da proclamação da independência! Subia a intensidade dos bombardeamentos! Mas os canhões de 88 milímetros dos blindados AML-90 não conseguiram dobrar a defesa da outra margem do rio e às zero horas de 11 de Novembro, as populações do Pange reuniram-se todas defronte ao Comité de Acção para hastear a bandeira Nacional. Era preciso esticar um fio feito antena para melhorar a recepção do sinal da Rádio Nacional.
Aguardaram ansiosos sob o descompasso do coração, até ouvirem entre os ruídos o Hino de Angola Independente. No Norte, a FNLA fez a sua festa. No Planalto, a Unita também! Cada um cantara o seu hino. Não era o “Heróis do Mar!”
No Amboim, era o “Angola Avante!” E a bandeira vermelha e preta foi subindo. A emoção seguia a mesma frequência! Ambos foram subindo, subindo até atingirem o ponto mais alto do mastro de bambu. Abraços, gritos e lágrimas. Tiros feitos foguetes riscaram a noite nebulosa e a alegria perpassou Angola de norte a sul! Estamos independentes! Viva a Dipanda ! Viva a liberdade!
Ao amanhecer, olhos sonolentos insistiam em não dormir e a voz rouca esforçava-se em gritar mais alto ainda, talvez quisesse buscar no grito a bênção dos deuses ancestrais pela tamanha proeza: a independência tão sonhada, tão desejada, tão sofrida e tão esperada por gerações sucessivas de angolanos!
Tinha 12 anos, o seu pé pequeno calçava botas nº 42 e um uniforme verde cobria o corpo franzino. Empunhava uma arma de madeira e guardava um sonho: o de ser um dia militar e poder defender a pátria independente! 11 de Novembro de 2010! Trinta e cinco anos depois, eis-nos aqui corporalizando o devaneio de infância numa Angola que ser quer em paz e reconciliada! E ao percorrer o país, o perfume da paisagem faz gerar novos sonhos! E um sorriso morno banha o rosto: Angola é um país lindo! Vamos caminhar de mãos dadas para construir a nossa felicidade. O horizonte é o espelho de novos desafios!
- Valeu a pena a independência?
- Sim! Quem duvida, desconhece o sabor da palavra Dignidade!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Fucik, prémios e jornalistas!

Prólogo: Jornalista debate-se no pântano, quando mais se mexe mais se afunda!

LARGO JULIUS FUCIK! Na baixa luandense, irreverentes e frondosas mulembeiras recusam a conformidade da esquadria humana e caminham para o meio do asfalto. Não temem sequer os automóveis endiabrados. De dia, sob a sombra, muita gente afaga seu próprio destino. A noite, morcegos disputam frutos e humanos paixões. O vento da noite vence a força de gravidade e dissemina o sentimento de liberdade mundo afora. O raiar do sol vence as trevas!
PRAGA! Era uma primavera incomum, a de 1943. “Cem vezes fui aqui espectador do meu próprio filme, mil vezes lhe segui os pormenores. Agora vou tentar explica-lo. E se o nó corredio da forca me apertar o pescoço antes de terminar, ainda ficarão milhões de homens para o completarem com um happy end”. Assim escreveu Fucik antes da sua morte aos 8 de Setembro de 1943.
Sob o silêncio da sua voz, outras vozes se ergueram entoando revigoradas as mesmas canções!
Conterrâneo de Franz Kafka, Fucik nasceu a 23 de Fevereiro de 1903. Filiado ao partido comunista checoslovaco, foi preso no dia 24 de Abril de 1942 e condenado à morte por um tribunal de Berlim.
Chileno Pablo Neruda em sua memória disse estarmos a viver uma época que amanhã se chamará a época de Fucik, época do heroísmo simples ...Em Fucik há o sentido não só de um cantor da liberdade, mas de um construtor da liberdade e da paz...»(10).
O marxismo, que desmascarou o capitalismo e previu seu velório sob responsabilidade do proletariado disciplinado e organizado, ruiu. O movimento operário comunista internacional entrou em colapso. Mas perenes continuam os ideias de liberdade e de justiça social. E são esses ideais que, como utopias de Saint Simon, mobilizaram milhares de cidadãos na luta contra a opressão e o despotismo. Milhares tombaram na luta renhida pela defesa da vida.
Como Che, para a maioria da juventude, Fucik continua vivo entre os que, no mundo inteiro, fizeram do jornalismo a profissão da sua grande paixão! Seu último trabalho, a “REPORTAGEM SOB A FORCA”, sobreviveu às masmorras. Nela, Julius narra passo a passo as intempéries passadas na prisão. A tortura e a morte! “Com certeza já não vou ter possibilidade de escrever. Fica aqui, portanto, o meu último testemunho”.
E o seu testemunho feita reportagem, continua nas vitrinas do mundo inteiro. Tem maior gratificação que isso?...
Rituais, fazem emergir a lembrança do feito heróico. Concursos e prémios sustentam a existência na necessidade de distinguir os que se salientam dentre os demais: Galardão aos jornalistas (...) Azulai, Candembo, Luísa Fançony, Ismael e Sanhanga. O prémio Maboque anima a classe. Acaba sendo o pico mais alto nas celebrações do dia internacional dos jornalistas.
Por isso a expectativa é grande! À partida todos os profissionais dos órgãos de comunicação nacionais são candidatos ao galardão. O sinal que indicia, na véspera, o facto de estar na lista dos seleccionados, é o convite para a Gala. Se estiver convidado, o cheiro do prémio está por perto. A possibilidade de vencer, faz desenterrar velhos projectos, alguns há muito adiados. Trinta mil dólares fazem bem a qualquer um, sobretudo quando se é jornalista. Enquanto se aguarda pelo dinheiro investido em jogos que se tornaram moda em Luanda, como o Pentágono! Apesar do dinheiro, sei-o que o melhor prémio mesmo, é saber que o seu trabalho está sendo seguido e seu esforço reconhecido.
Cada Nação tem seus heróis, cada disputa um vencedor! Os prémios não garantem excelência, mas rejuvenescem vontades! Valeu a pena!
Mas a cada edição do Prémio, algumas vozes discordantes se fazem ouvir! Um dos aspectos questionados está nos critérios. Um prémio único de jornalismo é incapaz de atender a peculiaridade de órgãos de todos os órgãos de comunicação. Julgar uma reportagem em TV e outra feita em jornal ou rádio é algo muito difícil. Pois, cada um dos órgãos tem a sua especificidade. Jornal é escrita, Rádio voz e Tv imagem. Julgar um diário de cobertura nacional e internacional com um Semanário deve ser algo penoso. E as novas Revistas? Tudo é joio? Como julgar, por exemplo, o feito de um jornal diário que conseguiu neste ano ser publicado em Luanda e na Europa simultaneamente. Critérios, critérios.
O prémio Pulitzer de jornalismo, um dos maiores do mundo desde 1917 é um exemplo. Administrado pela Universidade de Columbia, é outorgado anualmente para trabalhos em 21 categorias nos campos de jornalismo, fotografia, reportagem, literatura, música e teatro.
Para o nosso caso, é chegado o momento de procurar apoios para a criação de um prémio nacional. Aliás, o Ministério da Comunicação e o Sindicato de Jornalistas devem coordenar acções nesse sentido. Assim teríamos um prémio que entre outras categorias teria de contemplar:
- Categoria de impressos (Jornais e revistas)
- Categoria Rádio (reportagem)
- Categoria Televisão (reportagem, edição e imagem)
- Categoria Fotojornalismo (imagem)
- Categoria Jornalismo Político
- Categoria Jornalismo Económico
Assim, os riscos de misturar alhos e bugalhos seriam bem reduzidos!



OBS: Texto publicado em 2005 no Jornal de Angola sob a rubrica "Atalhos da Utopia"

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

DE VOLTA À BOA-ENTRADA

A Associação dos Naturais e Amigos da Boa-Entrada (C.A.D.A) realiza entre os dias 13 e 15 de Agosto de 2010 a 3ª Excursão à aquela localidade situada no município do Amboim província do Kwanza-Sul.
Com partida prevista para às 8 horas de sexta-feira, 13, a concentração dos excursionistas será no Bairro Benfica, em Luanda, nas imediações do Supermercado Nosso Super. Durante a estadia na antiga sede da Fazenda Boa-Entrada, os naturais e amigos irão realizar a Assembleia para eleição do Presidente e dos demais órgãos da Associação e participarão de actividades culturais e desportivas.

MEMÓRIA - Em tempos áureos, a Companhia Angolana de Agricultura (CADA) tinha uma área de 14 mil 944 hectares de café. Era conhecida como "A CADA das mil produções". A dinâmica de trabalho que ali se desenvolvia deu à antiga fazenda o papel de pivot no desenvolvimento da economia angolana. As províncias do Kwanza-Norte, Kwanza-Sul, Uíje e Bengo juntas ainda não ultrapassam hoje as cifras de produção cafeícola apresentadas pela CADA nos seus velhos tempos.

A semente da construção da CADA foi lançada em 30 de Junho de 1919, data em que se constituiu a Companhia Fabril e Pastoril de Benguela Velha.
O proprietário, Bernardino Alves Correia, a partir de Porto Amboim foi tirando terras aos nativos para construir a 11 de Novembro de 1920 a Companhia do Amboim, que mais tarde se viria a chamar Companhia Angolana de Agricultura (CADA). Porém, Bernardino Correia, que exportava café para os EUA, Inglaterra e Alemanha, vê-se num repente impossibilitado de vender o café, o que lhe causou graves problemas financeiros.
Em 1927, Bernardo Correia, ante as dificuldades de tesouraria, decide então vender a Companhia Angolana de Agricultura a um grupo de belgas da empresa Alé e à Société Financier de Cachot. Em 1939, início da II Guerra Mundial na Europa, a Bélgica é ocupada militarmente pela Alemanha e toda a actividade política, administrativa, económica e financeira fica paralisada, o que afecta as propriedades dos belgas na CADA.
Os novos proprietários passaram a controlar e a construir a Boa Entrada/CADA, expandindo a produção do café e suas actividades.
Estes proprietários decidem, cinco anos depois, isto é, em 1944, vender a propriedade, altura em que se conclui a ponte das cachoeiras.
O governo português faz uma publicação para a venda da empresa, comprada pelo Banco Espírito Santo e pela editora Guedes de Portugal.
A partir de 1949 tornam-se donos de toda a extensão agrícola da CADA e a produção de café em 1950 aumenta para cerca de sete mil e quinhentas toneladas.


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domingo, 18 de julho de 2010

Cavaco medi-a-dor!

Cavaco Silva desembarcou ontem em Luanda. A cidade acordou calma na expectativa do encontro da lusofonia. Os espinhos da descontinuidade são polifonias de uma realidade que se procuram ajustar e harmonizar.
Edifícios e guindastes cobrem a linha do horizonte. Cidade está agitada no esforço de reconstrução. É o recuperar do tempo perdido em conflito entre irmãos desavindos. A casa está em obras e lentamente regressa à normalidade.
Cavaco Silva e Durão Barroso! Eram mais jovens! Vejo-os nos idos anos 80 a chegarem e a partirem com a esperança para o fim da guerra entre a Unita e o Governo. Na ângutia das esperas, confundiram-se com a própria esperança. E a confiança no mediador foi expressa a 31 de Maio de 1991 em Portugal com a rubrica do Acordo de Bicesse.
Cavaco é amigo de Angola! Cavaco MEDI-A-DOR!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Adeus ao Danquá no último Comboio de Caxias!



Nos dias de aulas eu, Chume, Danquá e Serafina desembarcávamos em Alcântara e subíamos a Calçada das Necessidades. Sonhávamos e tecíamos o rumo futuro das nossas carreiras e países. Ao subir o morro, da minha Angola a visão sempre assente no consenso de que é preciso trabalhar cada vez mais afincadamente para aprofundar a reconciliação e a democracia, a paz e a construção de infraestruturas. Incentivar o exercício livre da opinião como factor geoestratégico. A ruptura com o ciclo de unanimidades e conformismos como fórmulas do determinismo do destino de nações africanas pobres e sem um futuro. - Temos de andar rápidos por razões de sobrevivência! Uns diziam sim e outros diziam não. Era preciso a aprender a estar de acordo, como nos ensinou Brechet.
Ao chegar ao Instituto, juntávamo-nos aos demais colegas do Curso. Cada um tinha o seu país, mas o sonho era comum: aproveitar o conhecimento disponibilizado pelo Instituto de Defesa Nacional de Lisboa para ajudar a concretização do sonho de felicidade de milhares de compatriotas.
O triste é saber que morreu, na Quinta-feira passada, em São Tomé e Príncipe o amigo e colega Fernando Danquá. Deixou pela metade o seu sonho! É um momento de muita dor e consternação. Calou-se o nosso sorriso, emudeceram as nossas conversas, uma cratera de dor se abriu no caminho.
Sua voz se sobrepõe ao ruído da velocidade do comboio de Caxias sobre os carris e as calemas entoarão sua sinfonia de enleio feito trilha sonora das nossas esperanças.
Acabou o Verão.O inverno permanecerá em nossas almas e as lágrimas expressarão a dor, o inconformismo e a impotência! É penoso perceber que parte de nós se foi com a morte do amigo Danquá, mas permanecerá insepulto o nosso sonho e as nossas boas lembranças!
Que Deus o tenha!


LEGENDA DA IMAGEM: Foto de Fernando Danquá, auditor do IDN e ex-ministro da Defesa de São Tomé e Príncipe, tirada na Ilha dos Açores em Abril de 2010 durante a deslocação do CDN10.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

NOSSO BEM, NOSSO MAR!

A vida, na sincronia com a história e a cultura, é feita de eventos carregados de simbolismo, que se tornam correias de uma cadeia de transmissão que interlaçam o passado, presente e o devir de gerações inteiras.
Os mitos se reactualizam e permanecem prenhes de sentido modelando atitudes e comportamentos de indivíduos e sociedades, graças ao papel semiótico dos rituais na sua revalorização e actualização diante de metamorfoses e desafios. Sem estes, aqueles se desvaneciam no percurso sinuoso do tempo e apagar-se-iam da memória das geraçãos depositárias que, assim não poderão transmitir os conhecimentos acumulados aos seus sucessores.
Através de cerimónias, danças, celebrações, orações, sacrifícios, os mitos perpassam as relações interpessoais, familiares e institucionais.
O 10 de Julho se inscreve na memória colectiva como a data da criação da Marinha de Guerra Angolana, enquanto Ramo das Forças Armadas. Foi o dia em que um punhado de jovens imberbes concluiu o primeiro curso de formação que os habilitou a integrar as primeiras tripulações dos Navios de patrulha herdados da Armada Portuguesa.
Eram parcos os conhecimentos científicos sobre a Arte Naval. Eram quase impíricos os gestos no manuseamento dos equipamento de bordo.
Na lição do provérbio segundo o qual o seguro morreu de velho, no mar a navegação era quase sempre costeira. Sem sonda acústica operacional, incaucos encalhariam em dunas e rochas submersas que povoam o mar misterioso.
Mas foram tempos de muita euforia e entrega, marcados por um contexto revolucionário que mobilizava e animava a sociadade para a defesa armada da pátria.
Mais tarde com quadros bem treinados, a Marinha foi equipada com as lanchas torpedeiras, lanchas de desemparque e as porta-mísseis.
Todos se entregavam de corpo e alma para um projecto comum, o de patrulhar as águas nacionais contra a infiltração do inimigo, a pirataria, a pesca, o narcotráfico, o tráfico de seres humanos, o contrabando e a imigração ilegal. Era preciso garantir a segurança da navegabilidade e o exercíco da actividade económica e a soberania do Estado angolano no mar e rios. Não se olhava ameios. Não se olhava a sacrifícios, não se mediam os esforços no remar a barca. Até se esqueciam o esticar das horas e a dor da fadigae da distância.
O amor amaina qualquer tempestade! O amor por Angola. O Amor pela Pátria. O amor pelo povo. O Amor à Marinha!
E no remoinho do percurso da memória centenas de marinheiros deixaram as suas marcas no projecto que cresceu ao sabor das estações. A todos eles, a nossa sentida homengem e gratidão por terem feito parte desse desafio e deixado com sacrifício a sua pedra no grande edifício. Trinta e quatro anos depois, eis-nos aqui, reunidos numa enorme família de mãos dadas para o engrandecimento do projecto iniciados a 10 de Julho de 1976.
E nas tensões das cordas que nos amarram ao cais do projecto de uma Marinha forte, gritemos em uníssono:
Viva o 10 de Julho!
Com mais trabalho, disciplina e amor, reedifiquemos a Marinha de Guerra Angolana!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Cristóvão deixa um rasto de boas lembranças


Ano 2000! O ponteiro das horas, no seu rodopio estonteante, completava as exaustivas 24 voltas do dia, mas os jornalistas, empenhados em dar à estampa a primeira versão do novo projecto do jornal, não relevam o cansaço do esticar da jornada de trabalho. Queriam experimentar a agradável emoção de ver as páginas fresquinhas a circular logo de manhãzinha empurrados pelo pregão de jovens e dinâmicos ardinas luandenses.
A conversa animada salpicada por um humor fino versando sobre as mais variadas questões do quotidiano eram o remédio para descontrair e recarregar os ânimos. Ou descontrair os músculos faciais com suculentas gargalhadas! Não havia censura nem auto censura. E a melodia suavizava as tensões e amainava a alma para o resto do troço sinuoso do fecho, num momento em que o mês atingia o dia 45.
- Se não pagaram hoje, pagam amanhã, se amanhã não pagarem, a única certeza é que irão pagar.
José Cristóvão tinha sempre certezas e humor diante de dificuldades e de incertezas. Até sabia de todos os resultados dos nossos Palancas: A nossa Selecção se não ganhar empata, se não empatar, perde.
Aceitava todos os desafios e enfrentava-os com coragem e valentia. Era um verdadeiro combatente temperado nas fileiras das Forças Armadas de Libertação de Angola.
Na sua humildade indisfarçável, desfiava amor ao jornalismo e amizade e lealdade para com os seus camaradas, a quem aptou chamar por “Granda Vingarista”. Brincava, sorria e circulava em todas a editorias. Seus desabafos eram feitos com sinceridade e apego aos superiores interesses da classe e da Nação. Zeloso, desconhecia espaços proibidos, intrigas, inimigos ou grupinhos. O seu único estandarte era o do Jornal de Angola. Era daqueles que arregaçavam as mangas todos os dias para pensarem o jornal e fazerem funcionar a rotativa. Dialogava, negociava, conciliava, perdoava e reconciliava e consolova.
Atencioso para os jovens jornalistas a quem prestava ajuda ao engatinhar nos leads do jornalismo, sua voz inundava a redacção ao relembrar os grandes nomes da música urbana de Angola: David Zé, Artur Adriano, Urbano de Castro e ultimamente a nova versão da música de Prado Paim “Zezé gui bekelé monami…”.
Com a sua morte, se calou a voz das nossas canções comuns que serviram de trilha sonora no compasso da marcha de todos os dias.
E tudo acabou! Ontem, José Cristóvão foi a enterrar no Cemitério da Santana. Directores, jornalistas, fotógrafos, paginadores, amigos e funcionários do Jornal marcaram presença. O inconformismo e a resignação se revejam num cenário onde o olhar perdido sobre o horizonte coberto de sepulcros, se acha prenhe do vazio difícil de preencher.
A nova campa recebe rosas, dálias, lírios e malmequeres. E ao refazer o caminho do regresso, deixando para trás o corpo inanimado do companheiro e amigo com quem se partilhou momentos agradáveis na Redacção, cada um experimenta um ambiente ainda mais pesaroso.
Enquanto uns partem para a casa do falecido, outros persistem incrédulos e ficam na entrada do cemitério a ruminar agradáveis lembranças. Talvez aguardam em vão pelo regresso do Cristovão-Camarada. Entre os protagonistas destaque para Kizunda, António Paulo, Honorato, Cruz, Tchitata, Cavumbo, Teixeira, Meireles. Salvador, Luisa, Cassoma… E no rescaldo do percurso profissional de José Cristóvão, o reiterar do reconhecimento das suas qualidade humanas e profissionais: Granda Homem!
No dia em que o editor José Cristóvão foi a enterrar eis que um outro infortúnio bate novamente a porta do Jornal: morre o fotógrafo Pedro Salvador. Mais dor, mais lágrimas, mais lembranças! E perto das 13 horas, ocorre a dispersão do grupo. Um longo suspiro antecede a partida. A vida nos reserva muitas surpresas! E a imagem de Cristóvão e a de Salvador ficam congeladas na memória como películas delicadas de um evento inesquecível.
Adeus camaradas! E obrigado pela vossa amizade e generosidade!


LEGENDA DA IMAGEM:
José Cristovão (3º a contar da direita para a esquerda), no município do Wako Kungo, Kwanza Sul, acompanhado pelo brasileiro Raimundo Lima, Augusto Alfredo, um câmara da TPA e quadros de nacionalidade israelita que trabalham no Projecto Aldeia Nova. À foto é do jornalista Cândido Bessa.

terça-feira, 25 de maio de 2010

DESAFIO AFRICANO

Hoje é dia 25 de Maio de 2010. É feriado alusivo ao 47º aniversário da criação da Organização de Unidade Africana no âmbito da luta contra a colonização. A bandeira das independências flutua em hastes de quase todos os países africanos, exceptuando o território do Saara, ocupado por Marrocos.
Depois da Expansão europeia, que levou a penetração e à ocupação do continente e a exploração das suas riquezas (materiais e humanas) por parte das potências industriais, hoje a África volta a estar na moda! A história não se repete, mas incrivelmente a presença estrangeira é motivada pelas mesmas razões: matérias-primas!
Ao celebrarmos o 47º aniversário, a elite académica, política, militar, empresarial e os cidadãos de uma maneira geral devemos reflictamos em conjunto para buscar o caminho, não só do crescimento económico com a ambição de melhorar os índices dos números mas que estes se convertam em desenvolvimento sustentável e melhorem as condições sociais de milhares de africanos que vivem na indigência e sem esperança no amanhã.
Não bastam as intenções dos discursos ou dos programas eleitorais é preciso que as nossas acções tenham reflexo positivo na vida de cada africano. Para o efeito, descansemos os 7 sapatos sujos antes de passarmos na soleira da modernidade africana como nos sugere Mia Couto. Não culpemos sempre os outros dos nossos problemas!
Aliás, segundo Agostinho Neto, A África parece um corpo inerte onde cada abutre vem debicar o seu pedaço!
Unamo-nos e lutemos para o desenvolvimento e a dignificação do africano.
Quem sabe faz, não espera acontecer
Estamos juntos

DESAFIO AFRICANO

Hoje é dia 25 de Maio de 2010. É feriado alusivo ao 47º aniversário da criação da Organização de Unidade Africana no âmbito da luta contra a colonização. A bandeira das independências flutua em hastes de quase todos os países africanos, exceptuando o território do Saara, ocupado por Marrocos.
Depois da Expansão europeia, que levou a penetração e à ocupação do continente e a exploração das suas riquezas (materiais e humanas) por parte das potências industriais, hoje a África volta a estar na moda! A história não se repete, mas incrivelmente a presença estrangeira é motivada pelas mesmas razões: matérias-primas!
Ao celebrarmos o 47º aniversário, a elite académica, política, militar, empresarial e os cidadãos de uma maneira geral devemos reflictamos em conjunto para buscar o caminho, não só do crescimento económico com a ambição de melhorar os índices dos números mas que estes se convertam em desenvolvimento sustentável e melhorem as condições sociais de milhares de africanos que vivem na indigência e sem esperança no amanhã.
Não bastam as intenções dos discursos ou dos programas eleitorais é preciso que as nossas acções tenham reflexo positivo na vida de cada africano. Para o efeito, descansemos os 7 sapatos sujos antes de passarmos na soleira da modernidade africana como nos sugere Mia Couto. Não culpemos sempre os outros dos nossos problemas!
Quem sabe faz, não espera acontecer
Estamos juntos

sexta-feira, 21 de maio de 2010

ANGOLANO LANÇA NO PORTO AVENTURA DE ESTUDANTE NO ESTRANGEIRO

O livro “Aventura de Estudante Angolano no Estrangeiro” do jornalista Augusto Alfredo foi apresentado na cidade do Porto, Portugal, numa edição da Corpos Editora.
A obra, escrita em forma de diário, retrata, em 250 páginas, a vida de dois estudantes que partem do país na expectativa de formar-se no estrangeiro, onde se confrontam com várias dificuldades, desde a adaptação cultural, a falta de notícias do país, na altura em guerra, bem como a saudade.
No acto de apresentação da obra a professora universitária e auditora do Instituto de Defesa Nacional do Porto Dárida Fernandes, sublinhou que quando se escreve um livro, com a intensidade deste, vivido em terras longínquas, da sua terra natal, algo de muito profundo pretende o autor despoletar e fazer permanecer no leitor. “Nesta aventura de estudante emergem histórias poema prenhes de ternura que são vividas pela saudade onde se instalam e que depois de as lermos, sentimos uma parte da felicidade que o autor semeia (…) Estas histórias são retalhos da vida e provocam em nós reflexões, plasmadas de forma significativa no sub consciente e com o sal necessário para saborear e construir pontes entre as gentes, entre os povos, numa roda sem fim”.
Os dois personagens principais Wandalika e Cativa, ao longo do enredo, vão desfiando o rosário dos seus conflitos e dramas em diálogos descontraídos onde estão em pauta os mais variados assuntos desde os corriqueiros do quotidiano, até aos desafios que perpassam o presente e futuro de Angola e do continente africano.
Para professora da Universidade Federal de Juiz de Fora – Brasil, Márcia Cristina Falabella que redigiu o prefácio, o livro de Augusto Alfredo, constitui “crónicas de uma viagem que trazem à superfície a outra face de uma história – dos combates internos à luta pela sobrevivência num território desconhecido.
Augusto Alfredo é jornalista graduado em Comunicação Social pela UFJF - Minas Gerais, Brasil, e autor do ensaio “Inquietações do Jornalismo” e do Livro-reportagem “Memórias Precoces - Luanda-Gabela, uma viagem de 30 anos”. O autor já foi editor de Economia do Jornal de Angola e professor de Teoria da Comunicação e Géneros jornalísticos no Curso de Comunicação Social da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Levaram-me até à Boca do Inferno!

Condução suave e mãos firmes segurando a direcção! Depois de ter estado no ponto mais Ocidental da Europa, desci a Boca do Inferno e lá encontrei pescadores e coleccionadores do exótico. Olhei perdido a paisagem inquieta. Regressei com relutância! Na hora da partida, o sobressalto. A esposa e a filha não apareceram para o embarque. Com maus pressentimentos na retina, corri tresloucado na passarela até à Boca do Inferno. “Não posso viver sem ti. A outra boca do Inferno apanhar-me-á…” Mas era apenas um engano que valeu suculentas gargalhadas, quando a caminho do jantar num cantinho do restaurante com o crepúsculo espreitando nas frestas das nossas almas. Imaginem! Há 50 anos, Lénia Godinho frequenta o lugar. Tinha 7 anos quando pela mão dos pais entrou pela primeira vez naquele lugar. Há 50 ela mantém uma relação de fidelidade com a equipa daquele restaurante. E o simbolismo cobre a mesa centrada por uma vela incandescente. O suspiro de gratidão substitui as palavras silenciadas, enquanto o gesto se decantava no fundo da alma de cada um! As palavras não dizem tudo! No inusitado lembro-me e busco a Ponta Padrão de Angola. Encontro-o no Soyo, província do Zaire, e tem registo da passagem de Diogo Cão por aí. Na província do Bié, está implantado o marco que assinala o centro de Angola. O Ponto mais a leste de Angola fica em Cazombo, Moxico. Rosa-dos-ventos! Aparente simples mas a geografia condiciona a cosmo visão, pois cada um de nós fala a partir de um ponto que pode ser geográfico, cultural, ético ou qualquer. Não há ponto sem azimute!

sábado, 24 de abril de 2010

No corredor da história!










No domingos passado, depois do passeio com a arquitecta Liseta Pinto, que nos conduziu nos corredores do Museu da Marinha, Palácio da Ajuda e do Forte de São Jorge, segunda, terça e quarta-feira viajamos até os Açores (Ilha Terceira e Ponta Delgada).
Quinta-feira, assistimos a manobras militares na Brigada Mecanizada, em Lisboa. Os tanquistas de ocasião experimentaram a dureza do ofício? Com ufanismo, ao tirarem o capacete, exibiram um sorriso insuspeito de muita felicidade! Os soldados olharam e corresponderam com complacência… Quem já viu não dance no meio !
Sábado, saímos em busca de outros ares com a cidade de Óbidos, Alcobaça e Mafra no trajecto. O Mosteiro de Alcobaça, os Castelos de Mafra e de Óbidos saltam dos livros e ganham corporalidade.
No Mosteiro da Alcobaça reaviva-se a lenda de D. Pedro e de Dona Inês morta por envolvimento num amor proibido. Ela foi assassinada por ordens do pai de D. Pedro. Cinco anos mais tarde após D. Pedro alcançar o trono ordenou a exumação dos seus restos mortais sendo coroada rainha. A cena comove a única mulher do Grupo, que se deixa fotografar ao lado do túmulo da Rainha! “Foi por amor proibido”, diz ainda sob comoção! Não há qualquer paralelismo com a cena de Romeu e Julieta de William Shakespeare. Essa é profundamente trágica!
Eu deixe-me fotografar junto ao túmulo do rei. Só para contrariar? Cada um sabe onde o sapato lhe aperta o pé. Assim ensina a sabedoria popular. Quer dizer, cada um sabe como ser feliz do seu jeito. O expedito colega e amigo Botelho sempre incansável diversificou na dose. Subimos e descemos o Forte de Óbidos, percorremos a catedral de Mafra e acabamos em casa de José Francos, homem da região cheio de engenho que deixou uma obra inigualável. “A aldeia típica regional do famoso oleiro e escultor José Franco é um verdadeiro museu etnográfico, que é digno de uma visita, pois ele concebeu uma réplica da aldeia em tamanho natural e miniaturas funcionais dos arredores de Lisboa”, lê-se num texto publicado sobre a sua obra.
No fim do dia, voltamos extasiados, valeu a pena! E ainda comemos e levamos para o hotel pão com chouriço comprado na Casa Museu de José Franco! Não podia ser melhor! Obrigado pelo carinho, amigo Luís Botelho!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cadê os Gambozinos?






Portanto, não há ilhas num mundo de interdependências crescentes! Não há qualquer descontinuidade possível entre nós. Multilateralismo!
No intervalo, vejo a ansiedade com que eles se convocam para a baforada urgente na varanda do edifício. Resignados procuram seu cantinho, pois é proibido partilhar nicotina com os não-fumadores!
Os rolos do fumo se perdem no ar como os sonhos! Vagamente, depois de cada baforada, vão conversando descontraídos sobre a vida, sobre as coisas… Dividem o olhar gaseado entre o relógio e o tamanho do cigarro. E aguça-se o prazer ao ver a cinza a aproximar-se dos dedos eriçados. Mas poupa-se, redobra-se o desejo, aprofunda-se o paladar! Quer-se prolongar o cigarro, mas em vão! É o prelúdio do fim! Depois a beata é afogada no cinzeiro! Soçobra! E regressam extasiados!
Durante as conferências gracejam feito adolescentes e há quem faça aviões de papel, quando a aula resvala na monotonia dos conceitos e na frieza do chumbo dos paradigmas! NATO, Geopolítica, geoestratégia…BRIC. CPLP, só Soft Power! Não há Cruz, nem Aquino por perto!
Na viagem, o cenário contagia! Hortênsios ornamentam o caminho enquanto o verde cobre as colinas onde vacas pastam calmamente! Da cratera do vulcão adormecido, brota um carpelo de esperança para fecundar a vida de açorianos.
A noite húmida, disfarçada pela luz do prolongamento dos dias de primavera, anima-se ao sabor de fermentos da amizade!
«Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade».
O meu amigo madeirense cantarola a música “Os Meninos de Huambo”, letra de Manuel Rui e música da Paulo de Carvalho.
Tropeça na memória, mas prossegue irreverente:
«Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia».
As meninas da mesa, respondem também com suas canções da infância. E todos juntos querem voltar a ser meninos!
Querem voltar a caçar Gambozinos.
- O que são gambozinos?
- São bichos, pretos e peludos. Tens de levar um saco, uma lanterna para poder apanhá-los.
E a rapaziada gargalha animada. A ignorância, insinua, na mente de um, os muitos bichos obsceno que inundam a noite. Mas sou homem adulto, feito para durar, vou gerindo e ingerindo o cardápio.
Na onda, alguém queixa-se de dores no peito. Contorce-se, ergue-se mas não desiste. Procura o maço de cigarros e convoca a sua turma para a baforada colectiva.
O Hermínio, não o Maio, mas o Matos; Hermínio, não o Engenheiro de Benguela e o Comandante do Regimento 13, mas o Comando, o seu nome condiz com o personagem! Mesmo com-dor, não arreda pé! Ainda bem, pois equipa estaria desfalcada. Seria uma ausência de mais de 100 quilogramas no equilíbrio do grupo CDN-10!
E a apanha de gambozinos marcará sempre o ritual de passagem da adolescência para a juventude! Essa juventude que desejo para todos florescente e eterna!
«Dividem a chuva miudinha pelo milho
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar»
Kamba-diami , cadê os Gambozinos? Meu computador corrigiu Kamba-diami e cadê! Ainda alguém procura por um acordo ortográfico?


Eis-me: Alfredo Mazungue

domingo, 11 de abril de 2010

Vida!


- Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, e depois perdem o dinheiro para a recuperar. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido... (Confúcio)

sábado, 10 de abril de 2010

Laço inoxidável!


Antes balão acima das nuvens flutuando, depois é-se largado como objecto inanimado à grande altitude. Cai livre de amarras! Corolas primaveris entapetam o gume da imaginação.
O prazer é driblar a morte e gozar quinze segundos de queda livre antes de tecer a fatalidade de um pára-quedas encravado. São aulas avulsas de pára-quedismo servidas ao sabor de manjares e licores. Amores e humores à Molière longe de doenças imaginárias!
No rescaldo da noite, as lições sobrevivem afeiçoadas pela pluma do travesseiro. Na subtileza da vida, os ínfimos gestos se foram empilhando em cumplicidades, que a rotina se encarregou de cristalizar. Confidências perdem o rótulo. O tempo-azimute separou o cascalho do caminho, o sorriso acanhado se converteu em gargalhadas de cristal que extraíram olhares do tilintar de mesas vizinhas. Simples soslaio de bisbilhotices de quem formatou emoções e deixou-se ficar no frio do betão da cidade grande, onde as estrelas se confundem com as luzes da urbanização!
Na brisa, o engodo do tempo, quando a noite esquecida avança na inércia da embriagues do crepúsculo. Como pára-quedistas, aqui estão gozando o tempo efémero do ócio antes do desenlaço. Depois pousarão são e salvos em terra firme e retomarão a vida sob o peso da gravidade. E no escaninho o registo na lápide que fica para a posteridade! Foi uma noite de prazeres, margaridas, balões e pontes! O temporal e a erosão mostrar-se-ão incapazes de apagar as pegadas.
Passou por aqui o CDN-2010!

quinta-feira, 25 de março de 2010

A verdade das crianças!



OS OLHOS DAS CRIANÇAS VÊEM UMA REALIDADE QUE OS ADULTOS IGNORAM!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Angola centro da obra lançada em Lisboa




“Angola e África na Rota de Portugal” é o título do livro do Economista Manuel Ennes Ferreira lançado, segunda-feira, 22, em Lisboa.
- Fazemos parte do Partido África, constituído por gente que tem procurado promover a cooperação entre África e Portugal, disse o embaixador António Monteiro, ao apresentar a obra.
Para ele, da leitura do livro ressaltam 20 pontos importantes entre os quais se destaca a necessidades de se olhar para Angola como sendo um país que por si encontrou a via para o seu desenvolvimento.
Já para o director adjunto do Expresso Nicolau Santos: as crónicas mostram não só o domínio absoluto dos temas sobre que o autor escreve, como os descodifica para o leitor vulgar, servindo-lhe as ditas cujas em doses pequenas, facilmente apreensíveis e sempre polvilhadas com uma pitada de ironia ou de humor. É por isso que se lêem como se tratasse quase de um romance, pois todas elas se entrecruzam e nunca se perde o fio à meada.... Para quem quer saber o que se passa em África, em particular nos PALOP, este livro é indispensável na mesa-de-cabeceira ou no gabinete de trabalho. E para quem quer o exemplo de um académico que sabe descodificar e tornar interessantes os temas mais complicados e áridos, ei-lo nestas páginas.
Manuel Ennes Ferreira é Professor do Departamento de Economia do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa e investigador do SOCIUS, Centro de Excelência da FCT, e do Grupo África e do Conselho Científico do IPRI da Universidade Nova de Lisboa. É Doutorado em Economia pelo ISEG/UTL e lecciona e investiga sobre Economia Africana e questões ligadas ao desenvolvimento e cooperação internacional. É Sócio Honorário da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola.

domingo, 21 de março de 2010

REI ÉDIPO EM LISBOA


A peça Rei Édipo de Sófocles está em cartais no Teatro D. Maria II, em Lisboa. O que mais surpreende ao espectador é a sua actualidade. Escrita antes do nascimento de Cristo, ela fala com segurança para o homem do séc. XXI marcado por um contexto de violência, conflitos, terrorismo, incertezas, insegurança, arrogâncias, falsidade, pobreza, calamidades e corrupção! E a justiça que tarda no dia-a-dia, na peça funciona até ao ponto do rei ser vítima dela ao bem da comunidade tebana!

MULHERES E O REGRESSO DO COMBOIO AFRICANO


Março caminha para Abril! E Lisboa acorda calma para a sua rotina! É Domingo! Na Baixa Chiado, ela procura descontraída na prateleira da loja que comercializa música africana. E lá encontra Bonga, com Rosa Maria, Paulo Flores, com Sassasa, Danny L, com Kalumba , David Zé, com Sofredora, Candinha, Lamento da Angêlica e Mama Kudilé . Mas apenas desabrocha de contente logo ao rever a cantora Tchinina: Hossi, Somaiangue ! Uteque ! Taté , Ekumbi , Mukanda …!
A razão da escolha talvez resida no mês de Março dedicado às mulheres! Talvez, há escolhas mudas.
E no regresso a casa, o embalo na voz de Tchinina recoloca-lhe o aparelho de rádio de marca Philips empoeirado ao ombro décadas depois da última farra ali bem perto do rio Mazungue, na Gabela. Entre cafezeiros, ginga confundindo o seu andar com o da gazela.
Apanha o comboio em Sete Rios e parte! O tapete verde desliza na velocidade das lembranças, onde o único solavanco que chocalha a alma é a melancolia da saudade. No rastilho da paisagem em convulsão, desfilam laranjeiras e tangerineiras com seus frutos maduros pendentes enfronhados no seu aroma. As aldeias correm atrás. A angústia escava a Tundavala da melancolia naquela tarde chuvosa de inverno. No êxtase embrulha e expulsa tudo num longo suspiro! Mas fica no desejo! O enleio persiste!
Lá fora, a chuva cai e lentamente a água acumulada no tejadilho desce sobre o vidro embaciado da janela do comboio, que liga Lisboa a Sétubal. Mas ela percorre um outro atalho entre a cidade da Gabela e a de Porto Amboim numa distância de 123 quilómetros de extensão de linha.
Mano, olha fruta fresca! Era assim que na estação da Boa-Viagem as camponesas com seus filhos às costas ofereciam laranjas, tangerinas, agrião, couve, repolho, abacate e óleo de palma aos passageiros. Os produtos eram de qualidade e baratos! E o seu comboio do Caminho de Ferro do Amboim (CFA) ainda fumega no morro da memória.
Adicionada à paisagem de pomares, depois da estação do Setenta-Quirimbo e Torres-Quijiba emerge, nas bermas, as plantações de algodão. Aqui e acolá gente curvada protege a cabeça com o chapéu-de-sol. Nas mãos, o cesto de palmas cheio de tufos de algodão.
Fogueteiro! E a buzina do comboio eléctrico empurra-lhe para a praia. E desperta! Era diferente! A do seu comboio tinha vida própria. Tinha voz de gente falecida na construção da ferrovia! O corta-cabeça povoa o medo das aldeias. Dizia-se! O comboio gritava e dialogava com os falecidos! Uéé-Uééééé! Pouca-sorte-pouca-sorte-pouca-sorte-pouca-sorte!
E electrizava a garotada que corria na sua loucura inocente para ver o trem passar. Acenavam e enchiam a cabeça de sonhos! Era o Comboio Africano que virou signo precursor da libertação da Mãe Negra oprimida e colonizada.
O Comboio Africano conquistou a liberdade, mas logo depois tudo ficou na saudade, porque aboliram a linha e as populações ficaram em ilhas isoladas, tristes e perdidas no meio do capim alto. Gabela e Porto Amboim ficaram mais distantes uma da outra! Mas as populações esperam que um dia o comboio ainda volte a apitar no trajecto para reanimar vidas adormecidas! Quem sabe! A esperança é verde como o capim que hoje cobre a linha esquecida!
Ao desembarcar, ela estica o olhar perdido para o horizonte e renova a fé. E há razões para tanta fé, pois contrariamente aos carris, o sonho e a realidade terão um dia ponto de encontro.
Mona Ku Jimbe Manheno ! Kalunga Nguma !

MULHERES E O REGRESSO DO COMBOIO AFRICANO

sexta-feira, 19 de março de 2010

PEDAÇO DE CHOCOLATE!


Karl Marx, esquecido na fragrância da Mais-Valia, espreita sorrateiro na esquina, onde os flashes bombardeiam a figura de um menino a urinar! Como crianças ao toque de recreio, quando livres da rotina laboral, os adultos gracejam e gargalham descontraídos.
Viajar em excursão tem esse condão de adocicar amarguras cristalizadas no passar dos anos. Se amolecem as tensões e o corriqueiro ganha direito na taxinomia.
No enlace das pedras da calçada, seguem enlaçadas diferentes raças e culturas. Na proxémica, cada um ocupa o seu lugar! Sem colisões mas com coalizões harmónicas, o lingala, o inglês, quimbundo, francês, russo, português… são línguas irmãs. Bruxelas é um mosaico de culturas e povos, um tipo de cidade onde o vocábulo forasteiro há muito caiu em desuso. É património-universal!
No labirinto da história, a modernidade pára ofegante no seu cortejo de ufanismo e ergue os olhos para o cimo das torres de edifícios e catedrais talhados com esmero por exímios e anónimos artesões.
- Como os homens conseguiram erguer tamanha obra no alvor do séc. XVI?
Na relutância da resposta, assume-se a consciência da pequenhez! O passado emerge e confronta o presente com o seu consumismo entregue ao desvario de um prazer insaciável. É o hedonismo!
O flash se apaga, decantando na imagem guardada na memória a curiosidade do novo no velho! E na pausa, o silêncio é eloquente, enquanto se dissolve sobre a língua o pedaço de chocolate negro!

Estamos juntos!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Caldo verde



Ainda era criancinha, mas voar era o meu sonho, para transpor aquelas montanhas que cercavam a minha aldeia como barreiras para impedir a evasão de sua gente. Queria conhecer além do horizonte nublado. Queria vencer o nevoeiro e conhecer mais coisas além das bananeiras e dos cafezeiros. Invejei os pássaros que no seu exibicionismo iam e vinham cheios de felicidade visível no cantar.
Um dia tardei dormir, quando pela primeira vez um avião passou bem baixinho sobre as casas da nossa aldeia. Corremos atrás do seu rasto até cairmos sob o cansaço das pernas e dos pulmões. Renovei o sonho de voar.
Naquela noite sonhei. Um sonho bonito. Meu pedido havia sido satisfeito. Um pássaro de ferro veio buscar-me e eu estava radiante despedindo-me dos meus amigos todos esfarrapados. Mas ao acordar, era afinal apenas sonho de menino pobre sem asas para voar.
Decidi retomar a rotina de lugares pequenos e deixar o meu sonho no molho verde da esperança. É como se alguém comprasse sapatos grandes e deixasse os pés crescerem para os por usar. E nessa espera nasceu uma outra paixão sobre as águas do rio Mazungue.
Agora queria ser marinheiro e descer rio abaixo até atingir o mar. Um dia desci até ao mar, não de barco, mas de camião. Um camião que fumegava e nos buracos jogavas os passageiros de um lado para o outro. Era preciso segurar para não rolar na carroçaria feito bola de trapos. Quando vi o mar tive medo. Fugi das ondas como louco, mas com o tempo fui-me acostumando a deixar-se embalar nas suas ondas.

domingo, 14 de março de 2010

Silêncio!



Uma criança
Na esquina
Sem amparo
Adultos passam
Sem pejo
MEDO baila
Nas ruelas escuras

sábado, 6 de março de 2010

Última Primavera!



Ainda era menino quando procurava decorar as quatro estações do ano. Na minha aldeia, depois do Verão, na inocência da idade corria eufórico atrás das folhas amarelas e dos frutos do Outono. No inverno, era o Presépio que mexia a rotina da criançada, que procurava na sua pobreza aconchegar o Menino Jesus que havia nascido para salvar o mundo do Pecado!
Depois, veio o vendaval e acabou com o Verão, Outono, Inverno e Primavera! As estações encolheram-se: tempo Seco e Chuvoso. Mas na reminiscência, as folhas ainda cobrem o chão atapetado de amarelo.
Com esses pensamentos, desembarquei na Avenida Marquês Pombal e caminhei até ao destino! Chovia, num Inverno que os europeus consideram o mais rigoroso dos últimos seis anos. E os estragos da Madeira são eloquentes!
Cheguei ao destino às 6H30 e na fila, entre sotaques de africanos, europeus do leste, asiáticos e sul-americanos, olhava com enleio a chuva que cai de mansinho.
Naquele dia, acordei cedo, nem deixei o despertador disparar. Aliás, a ligação da esposa e a mensagem da filha desejando parabéns pelo aniversário, foram madrugadoras. Que bom! Precisava chegar primeiro para a renovação do Visto de Residência em Portugal. Era Estrangeiro.
Enquanto aguardava, divertia-me em descobrir a nacionalidade de cada um deles. Ouvia e olhava, olhava! Perscrutava sobretudo a língua e o sotaque! A tarefa não foi difícil para a maioria deles. Chineses, ucranianos, senegaleses, guinienses, malianos se exprimiam na sua língua de origem. Português era apenas a ponte para unir falantes de outras línguas. Eu era o 4º na fila. Havia decifrado a origem de quase todos eles. Onde tivesse dúvida procurava confirmar!
- Desculpa, o senhor é mesmo da onde?
Chegou uma senhora. Aproximava-se das 8 horas. Esperei que ela falasse. De onde era ela? Angola? Moçambique? Cabo-Verde e Guiné-Bissau, não!
Esperei! Quando ela quis saber o lugar que ocupava na fila, consegui ver a silhueta da realidade cultural que o véu do silêncio escondia. Mas era insuficiente! Solução.
- A senhora é de Angola?
– Não, sou de S. Tomé.
Sorri contrariado! Perdi o jogo. Para o alívio, a porta se abriu e os estrangeiros em Portugal alinharam-se para a renovação dos papéis que garantia-lhes a permanência legal no espaço europeu.
Trinta minutos depois, estava tudo resolvido e parti apressado para o Instituto, onde cheguei antes do início do primeiro tempo. Mas no fim da aula, ocorre o inusitado! A primavera desabrocha, explode com as suas pétalas, seus coloridos, perfumes e borboletas.
A Turma ergue-se e canta parabéns a você! Todos os gestos e olhares absorvem-me. Saio da penumbra: era o dia do meu aniversário! Longe da pátria, eu estava radiante pela surpresa! No convés da Fragata desenhada sobre o bolo, os abraços, os beijos e desejos firmados de longos anos de vida!
Como eles descobriram a data do meu nascimento? E não tive dúvidas! Inconfidência! A vizinha de carteira, Lénia Godinho era a cúmplice de um momento sublime que se retém no altar da memória. Eu já não era mais estrangeiro, era apenas um cidadão de Angola, que em cada esquina de Portugal tinha alguém com quem partilhar lembranças, cultura, história e futuro.
Ainda caminhava nas nuvens, quando hoje o telefone toca. Era um amigo português de nome Augusto, que convidava-me para o almoço em sua casa. E cai para trás, quando ao entrar na sala, vi a mesa ornamentada tendo no centro um bolo com a Bandeira de Angola, Nosso Orgulho Maior!
Viva as primaveras da vida!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Esqueçam São Tomé!

“A mudança produz imprevisibilidade e surpresa. Isso significa que sempre que pressionamos para que haja mudanças – e eu defendo que precisamos de ainda mais mudanças do que temos hoje -, temos de nos preparar para o facto de muito do que vamos obter ser imprevisível. Esta instabilidade inerente tem de mudar a forma como elaborámos a política da nossa nação as nossas vidas…”.
Essas palavras são do jornalista americano Joshua Cooper Ramo, apresentadas no seu livro “A era do Imprevisível”. Fui busca-las depois do e-mail que recebi reagindo ao meu texto, onde defendia a necessidade de todos os angolanos erguerem-se em prol da luta contra a corrupção desencadeada pelo Governo de Angola.
Num mundo globalizado que muda de forma veloz, há que alterar a maneira como olhamos para a realidade. Há modelos do passado que não servem para compreender os desafios actuais.
Segundo dizia o referido e-mail - já estamos envelhecidos com as promessas por um futuro melhor e prefiro ser como São Tomé, ver para crer!
Estranho! Num momento tão importante para a história do país em que é preciso arregaçar as mangas para o verdadeiro movimento contra a corrupção que como cancro definha o organismo social, alguém prefere esperar para ver!
Vivemos um momento histórico, mas o cepticismo não conduzir-nos-á a lado nenhum. O correcto é cada cidadão fazer a sua parte, participando activamente na luta. Quer esperar para ver e depois colher o fruto da seara alheia?
Esqueçam São Tomé! Contrariamente ao que se diz, como sendo um homem titubeante e céptico, ele foi um dos discípulos mais corajosos de Cristo, que deixando tudo para trás seguiu o Salvador nas peripécias por que passou na terra. Tinha fé em Cristo a apoiava-o.
Ontem, quando o país estava em guerra gritávamos: “Cada cidadão é e deve sentir-se necessariamente um soldado”. Hoje devemos dizer:
- Cada angolano é e deve sentir-se necessariamente um combatente na luta contra a corrupção!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma Nova História

O país entra numa nova era! A aprovação da Nova Constituição da República de Angola e a consequente nomeação do novo elenco governamental, guardadas as devidas particularidades, tem para o país o mesmo significado que teve para o Mundo a queda do Muro de Berlim em 1989, dando lugar a alteração de paradigmas que regiam as relações internacionais durante Guerra Fria. Jamais o mundo foi o mesmo. Aquele acontecimento inaugurou uma Nova Ordem unipolar, não só com o fim do Sistema Socialista Mundial e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mas porque surge na cena mundial um novo jogar, os actores não-estatais.
Foi um acontecimento marcante, crucial, mas poucos haviam dado por isso, nem mesmo muitos estudiosos de Relações Internacionais conseguiram perceber o alcance e a profundidade das mudanças que se anunciavam.
Ao nos atermos aos últimos pronunciamentos de Sua Excelência o Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, antes e depois da Aprovação da Constituição da República, pondo fim ao longo processo de transição, percebe-se uma acentuada preocupação com a estabilidade política, o desenvolvimento económico e a segurança nacional.
Nada mais será como antes! Haverá, segundo as palavras do Presidente, um “corte” vertical com o passado, apostando afincadamente no trabalho, na transparência, na disciplina e na organização e no melhoramento do bem-estar das populações.
Destaca ainda a importância no melhoramento da gestão das finanças públicas e a criação de condições para a moralização da sociedade através da criação da Lei sobre probidade administrativa, que “No senso comum, quer dizer honestidade, honradez e integridade de carácter”. Sublinhando que a probidade administrativa define os deveres e a responsabilidade e obrigações dos servidores públicos na sua actividade quotidiana, de forma a assegurar-se a moralidade, a imparcialidade e a honestidade administrativa.
Portanto, há claramente um virar de página, sendo todos os angolanos, sem distinção de qualquer espécie, chamados a participar com dedicação e espírito de sacrifício. Pois cada um tem de fazer a sua parte na construção do bem-estar comum. E só juntos poderemos alcançar as metas anunciadas pelo Presidente da República. Cada um deve assumir essa meta como sua trabalhando mais e melhor!
Para a moralização da sociedade, os meios de comunicação sociais terão com certeza um papel inquestionável nessa empreitada. E ela terá de assumi-lo com responsabilidade, profissionalismo e acima de tudo com honestidade, ajudando a sociedade no processo de monitoramento da gestão da coisa pública.
Conforme vários estudos à respeito: - Administração Pública não exerce suas actividades e direitos com a mesma autonomia e liberdade com que os cidadãos particulares exercem os seus. Enquanto a actuação dos cidadãos particulares baseia-se no princípio da autonomia da vontade, a actuação do Poder Público é orientada por princípios como o da legalidade, da supremacia do interesse público sobre o privado e da indisponibilidade dos interesses públicos.
A clara distinção entre o público e o privado evita a promiscuidade a que o Presidente José Eduardo dos Santos se referiu em anos anteriores. É com este princípio que cada gestor ou seja servidor público deve proceder no exercício das suas tarefas, para que as perspectivas que se avizinham para o país venham a ser concretizadas de facto.
“O Fim da História”, é assim que o americano Francis Fukuyama considerou a queda do Muro de Berlim. Para os angolanos, com a nova Constituição inicia-se uma Nova História! Quem não acordar, será jogado com a água do banho!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

REVER FEVEREIRO


O silêncio cobre a plateia reunida no auditório do Hotel Sana, em Lisboa. O embaixador Manuel Pedro Pacavira, vindo de Roma a propósito, desfia, na sua fala calma, o rosário das suas lembranças, das dificuldades e dos perigos da clandestinidade. Nas breves pausas, a emoção espreita sorrateira. Ele cita nomes de companheiros tombados e apela aos jovens de hoje ao patriotismo.
– É preciso que vocês assumam o vosso papel na história de Angola, porque nós já passamos. Já estamos velhos.
O quatro de Fevereiro de 1961 ficou distante no tempo, mas a saga heróica prevalece, feito semente de um passado projectado para o futuro. São passados 49 anos desde dia em que angolanos se ergueram com catanas para romper as algemas da colonização e da opressão. Muitos morreram naquele dia, mas o grito de revolta ecoou no mundo inteiro.
Depois foi a vez do Embaixador de Angola em Portugal, Marcos Barrica, falar dos desafios do presente. A aprovação da primeira Constituição Angolana e os projectos sociais em curso. A habitação, a saúde e educação são as grandes prioridades do novo governo. A plateia questionou, queria saber mais do país. A curiosidade foi satisfeita com imagens de vídeo projectadas no telão.
E o almoço recheado de iguarias serviu para a confraternização entre os angolanos residentes em Lisboa, fechando as celebrações do aniversário do 4 de Fevereiro. As conversas e a gastronomia angolana adocicaram o paladar de um país que todos querem rever e ajudar a construir.

sábado, 9 de janeiro de 2010

VIVA O CAN 2010!


Finalmente termina a contagem regressiva! Foram anos, meses, semanas e dias de angústias pelo início da cerimónia de abertura do Campeonato Africano de futebol de 2010.
É hora de todos os angolanos, seja qual for a sua opção política e credo religioso, seja qual for a sua opinião, unir esforços em prol da participação de Angola. É hora de unidade, porque o que nos une é bem mais importante do que aquilo que nos separa!
“Acima de tudo, o importante é aprender a estar de acordo. Muitos dizem que sim, e no entanto ninguém está de acordo. A muitos, nem sequer se pergunta e muitos estão de acordo com coisas erradas. Por isso: acima de tudo, o importante é aprender a estar de acordo.” Como escreveu o dramaturgo alemão Berlot Brecht na sua peça “Aquele que diz sim e aquele que diz não!
É crucial saber que há vários anos, gerações sucessivas de angolanos sonharam com a possibilidade desse momento glorioso, e muitos partiram sem ter experimentado a emoção do país ser anfitrião do futebol de África, mas com certeza bem queriam estar na bancada e torcer ao vivo, vibrar com cada lance, com cada drible e com cada golo. Acendamos o archote e empurremos os Palancas para a vitória.

É preciso aprender a estar de acordo!

Incidente com a selecção togolesa

A notícia sobre o triste episódio, que envolveu a selecção togolesa em Angola, nesta sexta-feira, 8, em Cabinda, mostrou o carácter terrorista dos seus executantes, e por isso deve merecer a nossa veemente condenação. O incidente, segundo o comunicado do Governo angolano, ocorreu no troço rodoviário entre Bicongolo e Chiculu, na província de Cabinda.
A informação veiculada apressadamente em destaque por órgãos portugueses, brasileiros e outros deixa um cordão de reticências quanto as circunstâncias que envolveram o acontecimento.
A selecção do Togo chegou ontem a Angola? Qual o local onde a selecção foi emboscada? A que horas? De onde saiam? Saiam do aeroporto ou vinham da fronteira do Congo? Se vinham do Congo, porque não o fizerem por avião? Essas são algumas questões que não estão claras em nenhum momento nos noticiários, deixando os leitores desprovidos de detalhes importantes para a compreensão da informação divulgada.
Quantos leitores sabem onde fica Bicongolo? E Chiculu? Partindo do pressuposto de que o leitor ignora pormenores do facto, a notícia carece de mais dados, para que possa fazer um correcto julgamento.
Para os meios de comunicação(jornais, TV e imprensa digital), bastava fazer recurso a infografia (mapa com detalhes do local do acontecimento).