quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Desejo


Apesar da distância, a festa do fim do ano teve o sabor à Candando. No cair do pano sobre 2009, o sentimento predominante é o de alegria por termos chegado são e salvos ao fim do ano e de uma década. Não se esqueçamos porém, que no percurso tortuoso da vida, todos somos afluentes de um mesmo rio que desce em direcção à foz.
Desejo-vos um 2010 cheio de fé, muita saúde, paz e prosperidade!
Olha, em 2009 aprendi que quando as estrelas desaparecem do céu é porque está a amanhecer. Seja você a estrela de um novo dia!

Nos vemos em 2010, se Deus assim o desejar.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Tempero!

Funge, peixe, carne e feijão preto eram os pratos preferidos pelos dois, mas
quem os confeccionava com maior frequência era o Cativa. Cada um tinha a
sua especialidade. Wandalika dedicava-se em confeccionar arroz com bife e
salada, peixe grelhado com macarrão. Era criativo que chegou a fazer kizaca
com o liquidificador e funge de bombó a partir da farinha de mandioca não
torrada. Aos sábados, quando houvesse dinheiro, fazia geralmente compras no
supermercado do Bairro São Mateus, antevendo o fim-de-semana. Quando na
cozinha, até usava avental e o tempero inundava a casa. À noite, temperava o
peixe ou carne, colocava em via de alho e no dia seguinte, em fogo brando,
confeccionava o almoço.
E durante a refeição, Cativa não poupava elogios. Pai, aprendeste cozinhar
assim aonde? Aprendi com a minha dama, mas ela diz que eu não sei
cozinhar. Hum! Talvez não goste de concorrência! Talvez! Cozinhas tipo dama!
Tens mãos de fada! Eh rapaz, cuidado! Yá, outro dia até fizeste calulú! Aquilo
era uma delícia, até bizei! Onde é que compraste a rama de batata? Encontrei-
a na quinta do meu colega. Eles aqui não comem rama nem folhas de
mandioca! Não sabem o que estão a perder! Aquilo é a pura vitamina. Olha,
durante a Festa dos Africanos, fizemos um prato de Angola, que os brasileiros
não resistiram! Kizaca com muamba! Até estavam a lamber os dedos. Outros
diziam que era medicamento. Têm razão, p’ra nós que bebemos, aquilo ajuda a
manter a forma.
Agora estes frangos que nascem num dia e crescem na noite seguinte, é só
doenças para o corpo. Ah porque colesterol! No kimbo nunca ouvi falar disto.
Falando em colesterol, tens de ter cuidado com o uso de gorduras. Você põe
muito óleo na comida. Ah, agora estás a controlar até o óleo? Estou mal! Não é
controlar o óleo, é controlar a saúde, …Basta ver a maneira como abres a lata.
Deves fazer dois furos, um pequeno e o outro um pouquinho maior. Não
precisa estuprar a lata! Eh, aquilo são buracões! Isso é coisa de pobre. O pobre
é sempre muito exagerado no uso das coisas. Já tem pouco, mas usam sem
parcimónia. Depois dia seguinte, está com a caneca na porta do vizinho!
Wandalika, falando em vizinha. Tive uma no bairro São Pedro da Barra que de
manhã, mandava o filho pedir fósforo, açúcar e chá. No almoço, sal, gindungo
e óleo. Um dia reclamei, sabe o que ela disse? Aquela senhora é bruxa, yá!
Que estão a se achar, mas quando morrerem vão deixar tudo para o velório!
Um dia destes, bebi uns copos, quase lhe dei uma surra, a sorte é que ela
fugiu! Você vai querer bater uma mulher? Yá, ela estava a brincar… Nunca
viste? Mulher tem muito jeito. Ainda vai manipular a informação e quando o
marido dela ouvir!... Epá, se eu estou a ver que o marido dela tem músculos,
não vou perder tempo. Pego logo no ferro, antes que não me passam uma
bassúlas e cabeçadas. Há gajos que batem à sério. Eu lhe furo e vou lhe
cumprir... Também, já viram um tropa a levar purrada na mão de um civil… Em
Luanda, ninguém te acode e ainda por cima começam a agitar: lhe dá mesmo!
Yá, lhe pega, Uááá! Palmas e assobio e tudo! Olha, falando em purrada. No
Bairro Golfe, um 2º tenente estava a conduzir o seu carrito, quando ao travar
para deixar passar um peão foi atingido na parte traseira por um turismo. O
gajo estava distraído! Yá, ouve então! O tenente desce para ir saber o que
aconteceu. Assim que se abaixou para ver os danos, o condutor que havia
batido, também desce e dá-lhe duas galhetas daquelas, pai! O tropa cai! Todo mundo só a olhar. Era hora do engarrafamento. O tenente levantou-se
calmamente, puxou na pistola e disparou no joelho do cara. Todo mundo
começou a gritar: Matou! Matou!…UÁUÉÉ Outros puseram as mãos na
cabeça! Uaéé… O militar subiu no carrito dele e bazou.
As moças que vinham no carro que havia batido, fugiram todas deixando o
condutor deitado no chão. A boca já bem seca! Fala mais! Aquilo tudo é só
ilusão, por causa das catorzinhas… Essas pequenas o que fazem!!! Lhe saiu!
Acho que o militar depois foi julgado, mas ganhou razão. Yá, bater no tropa é
teu azar que estás a procurar! Isto até é porque a guerra acabou, no tempo da
quitota quem é que levantava o coiso!!!... A paz é fixe! Todos estamos
misturados no engarrafamento!.... Desencartados, gatunos, malucos,
assassinos…chefe, subordinado, general, soldado. É como na Internet! É
democracia global, yá! O general está se esticar com o jeep Toyota Prado
novinho, você aqui do lado com o teu Starlet a deitar bué de fumo no escape,
também a fazer banga! É o quê? Isso é Angola! Estamos sempre a subir!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal com palavras


No Natal, estamos em comunhão, mas é um dia incomum, porque rompe com o ciclo de rotinas moldadas no fazer da vida um lugar de vencer distâncias e derrubar obstáculos. É momento de pausa para um olhar desarmado, ainda que de soslaio, para o mundo que se estende além do ego de cada um.
Apreciar a beleza e o significado da obra que erguemos e as relações que estabelecemos e mantemos com a esposa, com os filhos, com os outros membros da família, com os colegas e amigos, com Deus e a Pátria!
Com certeza, para muitos, no fim, ao voltar o olhar para o horizonte, a retina guardará um tapete colorido de flores, cujo perfume agradará às redondezas. E outros, amaldiçoarão a sua sorte, quando se aperceberem que, a seus pés, das sementes germinaram apenas espinhos. Permanecerá todo o sentido da parábola segundo a qual quem semeia ventos colherá tempestades. E a festa que se fizer, ajustar-se-ia ao devido tamanho e à qualidade da colheita no fecho da safra. Se calhar, muitos teriam poucas razões para festejar.
Haverá outros, para quem as sementes não germinaram. Chorarão, mas a porta não se fechou! Não amaldiçoe nem culpabilize os demais. Reveja os seus próprios métodos e técnicas que usou no amanho da terra. Verificai a fertilidade do solo e a qualidade da semente!
O semeador sofrerá, chorará e suará, mas, se tudo for feito com amor resultará numa safra de muita fartura em paz e alegria. O amor brilha e é comum confundi-lo com o de muitos cascalhos que abundam na natureza. Muitos caíram em desgraça por o terem confundido.
Saúde, dinheiro, carros, felicidade. – “A felicidade, todos nós queremos”, cantou Sebem! A todos existe a chance de encontrá-la, mas ela pode estar por detrás de um simples gesto de amizade, de amor, de carinho, de camaradagem e de solidariedade.
E ontem, por razões que transcendem a imodéstia, foi um dia daqueles que ganham lugar cativo no arquivo da memória e coroam a vida com o sublime dos presentes.
- Ainda guardo uma foto daquele tempo antes da independência. Nela estou eu e outras crianças da minha idade. As crianças brancas, de que faço parte, estavam bem apresentadas e naturalmente sorridentes, enquanto as negras mal vestidas e tristes. Hoje, os meus olhos vêm coesas que não viam naquele tempo. Se naquela altura não fosse assim, o nosso futuro teria sido diferente!
Essas são palavras de um ex-estudante da Escola Primária nº66 Augusto Gil, na Gabela. Hoje, ele tem 46 anos e vive no Porto, Portugal.
Uma dessas crianças negras de que se refere, e que levavam banana cozida com dendém e lavavam os pés empoeirados pela marcha no riacho antes de entrar na cidade de asfalto, sou eu! E o meu Natal era diferente do dele, mas tinha presépio e menino Jesus!
Na conversa mantida através do MSN, ele contou a saudade que sente dos antigos colegas e amigos e de Angola. E ficámos remoendo nossas lembranças, costurando sob o frio do inverno os nossos sonhos num amanhã radiante, que enterre para sempre as tristezas que amargaram a vida!
Ao terminar, ele clicou num bolo e eu num presente! E ficou a promessa de vermo-nos em 2010, em Angola! Que Deus nos abençoe!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Parabéns Proletário

É Dezembro, estamos em clima de festa. E não podia ter sido escolhida uma data diferente para o lançamento do primeiro CD do músico Proletário. No cenário musical desde 1970, Proletário consegue gravar o seu disco 39 anos depois. Parabéns pela perseverança! Foram vários anos de lutas e esperas, mas finalmente o sonho se concretiza. É uma vitória para o músico e para todos os amantes da sua arte, que de Scania 111 passaram em Sanguiguenda, Kapelequeze, Makumba e até Kimbonbeia. As 13 faixas editadas representam ínfima parte do reportório do cantor, mas para começar, valeu! Coragem! É uma Caminhada!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009


Saudade é um pouco como a fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Clarice Lispector


OBSERVAÇÃO: Essa foi a última carta de Edna, antes da sua morte por atropelamento em Maio de 1998. Se estivesse viva faria dia 25 de Dezembro de 2009, 21 anos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

REFAZER VIDAS! HARMONIZAR DESEJOS!





A Palanca Negra gigante foi uma das vítimas do conflito angolano, que terminou há sete anos, depois de mais de 30 anos.
A localização do antílope, que é símbolo da Selecção de Futebol e da Companhia Aérea angolana, põe fim à especulações sobre a sua extinção. Depois do fim da guerra, manadas de elefantes e outras espécies estão regressando aos parques e reservas naturais. Todos estão desejosos dereconstruir as suas vidas, a sarar as chagas, a cicatrizar as feridas! Incrível, homens e palancas partilham o mesmo desejo: viver em paz e harmonia!