quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

अ Borboleta

Mais de 30 minutos de fogos de artifício marcaram o ínicio do ano novo. No ribombar das explosões, procurou-se afugentar os fantamas de ontem e nos fleixes e constelações vislumbrar o amanhã, que se quer radiante. E no rosto da gente que inundava a Baía de Luanda, bailava um sentimento partilhado: o da transcendência.
O estar-se vivo ainda no caminho do sonho é algo significativo, mas que o sonho de cada um ajude todos a serem felizes. Ou então pelo menos, se assim não for, que ao caminhar ou ao estacionar na berma do caminho, não ocupe a faixa toda, deixe sempre espaço para que não atrapalhe a marcha dos que perseguem a sua Borboleta da felicidade.
Lembre-se que a realidade de cada um é medida pelo tamanho do sonho.
Estamos em 2009!
Com mais paz e mais trabalho, construámos uma vida nova em um país novo!
Felicidade para todos em 2009
Viva a utopia!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Dificuldades do noticiário económico em Angola

A importância da imprensa para o crescimento económico, com incidência para o papel da publicidade, foi pela primeira vez analisada de forma profunda por Harold Adams Innis. (SANTOS, 2001, p.76)
Para economista canadiano, os meios de comunicação de massas eram como o motor do desenvolvimento económico. Mais tarde, as suas pesquisas levaram-no “a entregar à Comunicação Social a pesada responsabilidade de ser o motor da própria História”.
Esta teoria foi desenvolvida na obra “Uma história da comunicação” que serviu de base para outros três livros editados em 1950 e 1952: “Império e comunicações”, “A Tendência da Comunicação” e “Conceitos de Tempo em Mudança”.
A minha reflexão: “As dificuldades do noticiário económico em Angola”, vai no sentido de partilhar algumas experiências acumuladas primeiro como leitor, ouvinte e telespectador e depois como repórter e mais tarde como editor de economia do Jornal de Angola. Não há a presunção, no entanto, de esgotar a abordagem do tema. Mas sentimo-nos felizes pelo facto de podermos contribuir de alguma forma para a compreensão de um assunto que goza sempre de actualidade como é o exercício do jornalismo económico.
Os vendedores ambulantes inundam as ruas de Luanda. As autoridades se preocupam e os cidadãos questionam. Os cambistas de rua perseguidos aqui, ressurgem num outro lugar com o mesmo vigor e com as mesmas notas novinhas acenando às pessoas que passam. Empresas nacionais não conseguem vender a sua produção, porque as mercadorias importadas oferecem preços mais competitivos. Os industriais reclamam da cobrança do imposto de consumo às matérias-primas. Empresários queixam-se da falta de crédito bancário e ou dos juros altos. A má gestão que leva a falência algumas empresas e o crescente exército de reserva aguardando vaga na entrada dos edifícios em obras. A descoberta de mais um poço de petróleo em águas profundas, a exploração de mais uma mina de diamantes a céu aberto. A substituição das plantações de café pelas de mandioca. A greve de petrolíferos na Venezuela que baixa as receitas do petróleo comprometendo a execução do Orçamento Geral do Estado angolano. O preço do combustível que sobe nas bombas de combustíveis, o taxista que encurta a viagem e o funge que diminui no prato. Enfim, é a mão invisível do mercado!
Esses problemas, que têm a ver com o funcionamento do sistema económico, influenciam profundamente a vida de todos os cidadãos. Porque o bom ou o mau funcionamento da economia determina o grau de satisfação das expectativas dos cidadãos de um país. Por isso, é natural que as notícias sobre o funcionamento da economia gozem sempre da proximidade com o leitor, ouvinte ou telespectador. Pois são fenómenos simples que marcam o quotidiano de cada um de nós. Estão à mercê de cada um. Adans Smith tornou-se Pai da economia ao descrever o processo de produção do casaco de lã, na sua Obra “A riqueza das Nações”. Contemplou, quantas pessoas intervinham directa e indirectamente em todo processo. É processo simples e concomitantemente complexo!
Infelizmente, há dias em que notamos em todos órgãos de comunicação nacionais dificuldades para o fecho da edição, sobretudo por falta de notícias económicas. Será que faltaram factos? Não! Faltou faro para detectar e transformar em notícia questões que aparentemente estão desprovidas de qualquer valor noticioso.
Os factos económicos estão aí, precisam apenas de ser identificados.
No passado, no contexto do regime de orientação Socialista alguns factos não seriam abordáveis, senão tendo sempre como âmbito o domínio político. A economia era centralizada, o Estado era proprietário de todos meios de produção, o mercado era regulado por medidas administrativas.
As questões económicas eram sempre abordadas em páginas de política, devido ao facto de o regime político de partido único que vigorava na altura não permitir destrinça entre o noticiário económico e o político. A campanha de colheita de café, por exemplo, era visto mais como uma actividade política e não económica.
A abertura democrática verificada na década de 90 veio propiciar condições para o surgimento de publicações económicas. Existe, pois, uma relação directa entre a democratização da sociedade, a abertura do mercado económico e a cobertura da média. Assim, a liberdade de imprensa é directamente proporcional ao grau de democratização de uma sociedade.
Numa economia moderna, o Estado assume outra função: a de promover a eficiência, o equidade e a estabilidade.
Portanto, com a abertura do mercado iniciado com o SEF (Saneamento Económico Financeiro) aos meios de comunicação apresentou-se uma nova perspectiva de abordagem dos problemas da sociedade.
Vem daí o surgimento das primeiras publicações privadas como o “Correio da Semana”, “Comércio Actualidade” . O noticiário económico é algo muito recente entre nós.
O papel dos meios de comunicação na etapa actual de reconstrução nacional é reconhecidamente importante. No entanto, “a qualidade das informações continua ainda desigual: informações abordadas com superficialidade, notícias divulgadas a partir da Press House. Informações reproduzidas sem no entanto, se ter o conhecimento do contexto em que as mesmas foram produzidas, facto que inclusive, leva ao questionamento da liberdade de informação económica. As informações destinadas aos consumidor não lhes são adaptadas. ”(AMARAL, 1978, p.111).
As principais dificuldades do jornalismo económico são as seguintes:

1- DIFICULDADES INTERNAS:
- Existe dificuldade na definição do que é matéria de economia, de política e ou de social. Por exemplo, os critérios da Angop são diferentes aos do Jornal de Angola. (Camponeses que recebem enxadas no Kwanza–Norte, o Governo que promete pagar a dívida pública através de títulos, ou trabalhadores de uma fábrica que entram em greve?) Qual destas matérias deve ir para a página de economia. Temos consciência que os critérios não são estanques, mas a tendência crescente da segmentação leva a que se preste mais atenção na distribuição dos conteúdos. Não é aceitável, por exemplo, que uma matéria de economia vá para a página de polícia apenas pelo facto desta não possuir material noticioso para fechar a edição.
- Alguns jornalistas ainda pensam que fazer parte da editoria de economia ou escrever economia é como ser colocado no guichet de um banco para receber dinheiro. Para estes, editoria de economia tem a ver com facturamento, “valores” como se diz, na gíria. As matérias feitas por encomenda cabem nesse capítulo. Cada dia é crescente o número de publireportagens embaladas como notícias. Isso, não é vender ao público gato por lebre?
- Falta de sectorização dos repórteres. A especialização marca a nova tendência dos meios de comunicação. Alguns dos repórteres escrevem sobre tudo. Escrevem economia, social, política, enfim são generalistas. Por mais competente que o repórter seja não escreve com tanta propriedade sobre todos assuntos. Constata-se que alguns jornais ainda não têm repórteres fixos em editorias. Por outro lado, a tendência da maioria dos repórteres do nosso país é escrever sobre assuntos da página Geral. Dizem ser mais fácil.
- Um outro problema tem a ver com o uso de termos técnicos de difícil acesso para o público. Isso é uma prática que afecta todas as áreas do jornalismo. O “tamodismo”(Tamoda é personagem de um livrodo escritor Unhenga Xito, que paralhava a plateia com o seu português retirado do diccionário) tem vários adeptos.
- Estrutura das redacções. Importa definir correctamente qual a estrutura que permite tornar o órgão de comunicação mais produtivo. A cópia de modelos não é a melhor opção. As vezes estruturas pequenas e menos complexas têm melhor funcionalidade e economizam tempo e recursos humanos e materiais, do que as complexas e pesadas. Qual seria a melhor estrutura para as empresas de comunicação angolanos? É um desafio que devemos vencer.
- Falta de matérias investigativas - Denuncismo dos meios de comunicação, sobretudo privados, os levam a divulgar informações sem a cuidadosa investigação. Existem vários temas que serviriam para serem investigados: por exemplo: especulações sobre escândalos financeiros, corrupção, más condições de trabalho em empresas, transparência ou não em contratos e concursos de adjudicação de obras etc, etc. Agora, o problema está na investigação. Depois de anos de silêncio, é natural que, concretizada a abertura democrática, o cidadão queira ver denunciados aspectos, que em seu entender são responsaveis pela sua insatisfação. Mas o jornalismo responsável não deve embarcar na Calúnia, na difamação e na injúria. É preciso publicar informações sustentadas por provas documentais. Assim estar-se-ia a contribuir mais para a transparência e a democratização da sociedade. Nada de alarmismos. Por isso, a especulação não é a melhor escola. Com um pouco mais de profissionalismo é possível publicar-se matérias investigativas de boa qualidade e evitar-se-ia o constragimento de ver a impresa sentada no banco dos réus.
- Falta de pautas originais: É um mal que enferma a imprensa angolana. O noticiário económico anda muito preso ao press release, ou a conferências de imprensa. Será preciso sair do noticiário institucional e partir para a elaboração de pautas originais. As queixas de falta de acesso às fontes podem ser contornadas buscando temas mais atraentes fora dos ministérios e empresas públicas. A maioria dos repórteres saem à rua sem pauta. As pautas devem ser elaboradas diáriamente em reunião de pauta (no caso dos jornais diários, rádios e TV). Importa também pautar os correspondentes das províncias. Muitos deles andam desorientados, sem saber sobre o que escrever. O que é que o correspondente do Kuando Kubango, por exemplo, vai escrever para ser noticiado nas páginas do jornais editados em Luanda? Isso implica um outro desafio: o da regionalização dos meios de comunicação. Ainda sobre a pauta. O ideal é que cada repórter desenvolva suas próprias pautas. Coisa que entre nós ainda é visto com certa reserva. Escrever duas matérias sobre o mesmo assunto, levanta-se logo a suspeita de promiscuidade com a fonte. Lá vêm as insinuações: “quanto é que te deram?”
- A complexidade dos textos: Alguns leitores recusam-se a ler as páginas de economia, sobretudo quando os texto são herméticos devido ao uso de muitos termos técnicos, alguns deles, quiça, desconhecidos para o jornalista. Não se orienta o consumidor através de projecções e de tendências de mercado. Raramente aparecem tabelas, gráficos e infografias para ilustrar as matérias facilitando a compreensão do leitor. A informação é remetida ao leitor sem os seus antecidentes históricos.
Tudo tem que ser doseado: “Excesso de números e estatísticas esconde uma falta de ponto de vista, de foco, sobre o que se quer mostrar”(BASILE, 2002,p.13)

2- DIFICULDADES EXTERNAS
- Algumas fontes ministeriais e empresarias desconhecem como funcionam os meios de comunicação; ainda vêem a imprensa como uma intrusa e perigosa; (Alguns assessores de imprensa ao invés de facilitarem o trabalho dos jornalistas atrapalham ainda mais o trabalho da imprensa. Aliás, alguns são verdadeiros porteiros).
- Ainda é incipiente a prestação de conta sobre os negócios desenvolvidos! E isso, não diz respeito apenas aos negócios públicos. Por exemplo: uma empresa privada angolana havia realizado uma conferência de imprensa com todos órgãos de comunicação anunciando a criação de uma fábrica de electromésticos e motorizadas. Prometeu empregar mais de 3 mil trabalhadores. Um ano depois, procuramos saber como estava o projecto. A resposta foi, “esperem até que a gente vos volte a chamar”.
- Quanto a falta de transparência nos negócios. Recentemente procuramos uma concessionária de automóveis e manifestamos o desejo de saber como ia o negócio, já que a mesma inundava a TV com vários clipes. A resposta: “Não estamos interessados em falar sobre os nossos negócios com o senhor jornalista”.
- Falta de divulgação de dados actualizados sobre o desempenho da economia. Por exemplo qual é o índice de desemprego? Isso para citar apenas um indicador.
- A quase ausência de economistas a abordar em coluna de jornal e com regularidade aspectos da nossa vida económica. Especialistas a analisarem com profundidade situações sobre o funcionamento da economia angolana. Queixas sobre a falta de espaço para o exercício do debate não colhe.
- Questões de grande alcance geral, o Orçamento Geral do Estado, a lei de finanças públicas, a modernização das Finanças Públicas, a dívida pública, a balança de pagamento, os juros que o Estado paga pelos empréstimos, tornam-se “notícia” apenas no período da discussão para a sua aprovação no Conselho de Ministros e ou na Assembleia Nacional. Depois saem das páginas e caem no esquecimento.
- Falta de senso crítico. E o mais caricato acontece nas famosas cerimónias do fim do ano de ministérios e organismos públicos: Em todos eles o “BALANÇO É SEMPRE POSITIVO! Há casos em que durante o ano a imprensa divulgou informações sobre o mau desempenho de alguns deles, como entender o “balanço positivo”?
Portanto, eis algumas regras práticas para o jornalista económico extraídas do livro de Furio Colombo “Conhecer o jornalismo hoje”:
- A notícia não é um pormenor. É um todo. É importante procurar ver sempre esse todo.
A notícia não está quase nunca no facto específico que nos é mostrado. Na melhor das hipóteses, este constitui um lado, uma ponta, um sintoma, um dado de qualquer outra coisa.
Raramente a notícia se forma no local onde parece ter-se formado. Raramente chega na forma de um fruto maduro, como uma dádiva da Natureza. A missão é, ao invés, procurar percursos e segui-los até encontrar o ponto onde o acontecimento tem origem.
Quase sempre um facto económico é proposto com a sua interpretação. Raramente a interpretação proposta é a mais credível.
A maior parte das notícias económicas é como as da moda e do espectáculo. Chegam acompanhadas não só da informação, mas de materiais ilustrativos.
A maior parte das notícias económicas chega ligada a um nome. Existe uma constelação pequena e brilhante destes nomes que dominam o firmamento das notícias económicas e o iluminam. A maior parte dos equívocos formam-se aqui, quando o jornalista usa aquele nome como chave de leitura, para si próprio e para o leitor.
Também a desinformação chega com um nome. Mais uma vez, a presença louvada ou condenada do nome deveria constituir um bom sinal de alarme.
Antes da explicação de cada notícia, o jornalista de economia deveria apresentar uma perspectiva do campo que está explorar, apresentando a sua própria chave de leitura (o que pensa do produto, da utilidade do mesmo, que preconceitos tem em relação a aquele campo, sector ou empresa específica e por que razão).
O mundo económico está dividido em campos, por vezes em contraste dramático entre si, outras vezes ligados a sectores editoriais. Indispensável evitar tomar partido.
O jornalismo económico tem a missão de contribuir para o bem estar dos cidadãos, apoiar a democratização da sociedade e lutar pela gestão transparente e racional dos recursos. Enfim, denunciar e combater os crimes contra a economia.
Os conflitos marcam a vida económica, por isso, não basta apenas divulgar factos, pois essa tarefa é bem executada pela publicidade, importa questionar o por quê? As causas são muito importantes para a compreensão do facto.
Ainda como diz Colombo, um jornalismo que aceita viver com a memória curta dos factos tal como eles se apresentam num determinado dia e com a versão que deles foi dada pelas fontes interessadas, é um jornalismo mutilado que se coloca nas mãos das partes em conflito!

Bibliográfia:
i. AMARAL, Luiz. Técnicas de Jornal e Periódico. 3 ed.Biblioteca Tempo Universitário. Editora Fortaleza, 1982.
ii. ALMEIDA, Rosa, VAZ, Joaquim. Comunicação e Difusão. Plátano Editora, Lisboa, 1995
iii. COLOMBO, Furio. Conhecer o Jornalismo hoje. Como se Faz a informação. Editorial Presença, Lisboa, 1998.
iv. CRATO, Nuno. Comunicação Social. A imprensa.4.ed. Editorial Presença, Lisboa, 1992.
v. SANTOS, José Rodrigues dos. Comunicação. Lousanense. Lisboa, 2001.



OBS: TEXTO PUBLICADO EM 2003 NO JORNAL DE ANGOLA E INCLUÍDO NO LIVRO "INQUIETAÇÕES DO JORNALISMO" DE AUGUSTO ALFREDO, PUBLICADO DIA 3 DE MAIO DE 2008, NO DIA DEDICADO À LIBERDADE DE IMPRENSA.

SILÊNCIO MAGOADO DOS REPÓRTERES

Prólogo: O caudal do rio invadiu as margens, porque os homens inundaram o leito de lixo!

O insólito conquistou a audiência em todos os meios de comunicação. A notícia, um verdadeiro “fait divers*”, explodiu como fogo de artifício numa noite escura. “Avião Boeing 727 desaparece do aeroporto de Luanda”. O ineditismo, a surpresa, a curiosidade e as repercursões do facto, noticiado em primeira mão pela Rádio Luanda, tornaram fácil a escolha da manchete do dia.
Era a segunda vez, em menos de um mês, que uma aeronave monopolizava a atenção da opinião pública, ainda mal refeita da indigestão da razão da força americana no Iraque. E as armas químicas?
Depois da tomada de Bagadad, os noticiários refugiaram-se na sua “rotina”: pedofilia lusitana, atentados, conflitos, terramotos, assassinatos, corrupção, acidentes, sequestros, refugiados, desabrigados, fome, investimentos, inflação, falências e outras mesmices feitas suites para revalorizar localmente factos distantes.
No Zaire, uma aeronave, em pleno voo abriu a rampa e despejou os seus ocupantes. Mas desta vez, não foi acidente, apenas um avião desapareceu, misteriosamente, do aeroporto e nenhuma autoridade deu conta. Um plano criteriosamente preparado, e, diga-se, com um cordão grosso de cumplicidades, eleigeu o dia de domingo para a realização da operação. Talvez porque nesse dia, quem devia cuidar da segurança do aeroporto estava algures na praia ou numa profunda soneca depois de uma noitada luandense.
Era dia da África e véspera da conferência que iria debater, em Luanda, o incentivo ao turismo africano. “Turismo, a indústria da paz, vai contribuir para o combate à pobreza”, diz-se. E, curiosamente, da agenda constavam temas como a subvenção das passagens aéreas e a melhoria da segurança e a abertura das fronteiras dos países. Muita coincidência, não?! O avião foge de Luanda e nenhum país vizinho também viu passar!
Se para os editores foi fácil, segunda-feira, achar a manchete, mas não se dirá o mesmo da escolha da fotografia ou imagens para ilustrar o texto. Por incrível que pareça, é difícil conseguir fotografar ou filmar as aeronaves ou o movimento de passageiros, no “Aeroporto 4 de Fevereiro”, porque quem de direito alega sempre questões de segurança.
Os fotógrafos e câmaras queixam-se das dificuldades, dizem que é preciso um documento para ser autorizado. E quanto tempo de espera? Isso ninguém sabe.
O Jornalismo tem uma caractarística que o torna incompatível com burocracia, por isso a opção é buscar imagens de arquivo. Até mesmo para matérias que eram do interesse para a promoção de imagem da Enana, como a remoção de aeronaves avariadas que ocupavam espaço no aeroporto, a ilustração foi feita com aviões de arquivo. E era sempre assim. Toda vez que a matéria falasse de aviões nacionais, ia-se ao arquivo e sacava-se os da TAAG. Até que a companhia aérea nacional, preocupada também com o seu prestígio, perdeu a paciência e disse: basta!
O Gabinete de imprensa enviou uma nota de protesto. Depois disso a alternativa encontrada foi buscar aviões na Internet e pedir à arte para dar um jeito que evitasse mais complicações com as companhias a que pertencem. No arquivo digital, foi criada uma pastinha com capa amarela. Código: aviões alheios! Os aviões estão tão bem guardados, para evitar que alguém os roube.
Terça-Feira, 27 de Maio, os leitores, ouvintes e telespectadores cobram mais informações. A notícia ainda está fresca e pedia outros desenvolvimentos, feacture**. É preciso seguir o facto, as suas implicações e repercussões. Não basta noticiá-lo apenas. Elaborou-se a pauta: Fontes(A, B e C) Quais são as circunstâncias em que o Boeing desapareceu? Quem devia cuidar da segurança do aeroporto e das aeronaves? Quem pilotou o avião, se for estrangeiro em que circunstâncias entrou para o país e onde esteve hospedado? Quem abasteceu de combustível o Boeing e quando? A torre de controlo viu ou não? Se viu, a quem comunicou e qual foi a resposta? Hora da partida do avião e qual foi a direcção seguida! ... se haverá inquérito e quanto tempo durará? e etc, etc.
A repórter seleccionada, entre os mais aguerridos, partiu para a luta corpo-a-corpo, ansiosa em obter mais informações.
Ao cair do dia, regressou exausta e pelo semblante adivinhava-se: o saco vinha vazio de notícias, mais cheio de queixumes! As fontes “fecharam-se em copas”. Entre nós, dar a cara é coisa de telenovela!
O editor exige, o público pede, mas as fontes não falam. A vontade é não mais voltar à redacção para evitar os “desabafos” dos editores. Fica-se um dia inteiro em posição de espera, regressa-se de mãos vazias e, as vezes, a pé ou de candongueiro, porque o carro teve outras prioridades. Ou simplesmente se esqueceram. Volta com lábios secos, com fome e, frequentemente, quando ainda o dia do pagamento não vai distante, procura biscoitos e refrigerantes em supermercados da baixa luandense.
Ao ver a repórter chegar, o editor levanta-se e vai ao encontro. Tal como se recebem os guerreiros depois de cada batalha. – Como foi a caçada?
A repórter, aproveitando a brecha que o avião abriu na defesa do editor, ataca a queima roupa. Abre o livro de reclamações, queixa-se das fontes e dos editores, maldiz o silêncio daqueles e a arrogância destes, que mal digerem as justificações. Para ela, «alguns editores são egoístas e estão apenas obcecados com a hora do fecho, o tal fluxograma, e com a publicação da notícia! Muitos até se equeceram que já foram um dia repórteres e voltarão a sê-lo, quando pisarem, quiçá, em alguma cascas de banana . E aí, quando nas areias quentes do deserto, vão saber o que é fazer jornalismo nas nossas condições! A eternidade é apenas recomendada aos deuses! A consciência da finitude da vida humana devia inspirar à generosidade e justiça para com próximo.»
O rosário forma longa espiral de lágrimas. Mas a repórter aproveita a rara oportunidade, não esmorece e avança. Agora ataca pelo flanco. “Somos nós quem vai no campo da batalha, enfrentamos todos os horrores, mas na hora nem somos ouvidos. O nosso texto é, as vezes, cortado injustificadamente. São arrogantes, sim! Cortam sem pestanejar! Textos são engavetados por preguiça de alguns editores, que, não raras vezes, chegam tarde à redacção. E depois exigem que o repórter tenha que assitir à edição do texto! O repórter está no turno da manhã, terá que esperar até às 16 ou 19 horas? Repórter não sugere título! Pois, a gente não sugere, porque raramente a nossa sugestão é aceite. Alegam sempre que o mesmo tem mais batidas do que o recomendado pelo projecto gráfico e blá blá blá... Mas vai ver a opção, chega a ser um parágrafo inteiro. Alteram apenas por alterar. Se for para piorar, melhor deixar-se assim como está! Aliás, mudam o título sem entenderem sequer o lead, porque também foram fisgados pelo MSN. Nas redacções, não há lugar para os repórteres se sentarem e disputam os poucos computadores disponíveis! Dizem que nós não elaboramos sugestão de pauta. Quando o fizemos somos acusados de promiscuidade com a fonte! Estamos proibidos de escrever mais de uma vez sobre o mesmo assunto, senão surgem as insinuações. A especialização ainda vai demorar. Querem bons textos, mas não olham para o nosso drama. Nós construímos o vosso prestígio. Fazemos o melhor, mas nunca ouvimos uma única palavra de carinho, um elogio. Nunca! Apenas reclamações e incriminações! Como a corda sempre rebenta do lado mais fraco, sempre somos os culpados! Meu Deus, será que estamos a pagar alguma promessa? Tudo que sai mal é culpa do repórter. O que sair bem, as honras são do editor. Tem razão quem diz, o mal é órfão e o bem tem fila de padrastos”.
Ofegante, a repórter pára, bebe o que sobrava do refrigerante, recobra energias e desculpa-se. – Estava nervosa!
- Não adianta desculpar-se, tens toda razão! Eu partilho da mesma opinião. No espaço que lhe está reservado, deves escrever 30 linhas, a justificar a falta de mais informações sobre o paradeiro do avião! Porque o público exige que o informem. Ele não quer saber dos nossos problemas, deseja ter notícias frescas todas as manhãs! Nós somos servidores do público. Cada um tem que fazer a sua parte! Esse é o compromisso que assumimos ao sermos jornalistas e sobretudo aqui! Menina, diga, aonde está o avião? - (...) Já viram o meu azar!!!?
Estou a vir, ainda!



OBS: Texto publicado em 2003 no Jornal de Angola e incluído no Livro do Autor intitulado "Inquietações do Jornalismo" lançado pela Editora ZILA aos 3 de Maio de 2008.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Amor+ +Paz

No campo, cedinho, as crianças conhecem o perfume de várias flores. Para elas, todas são iguais até que a sistemática despótica se encarrega de as separar por grupos e classes. Contrariadas as crianças aprendem, mas guardam para si o segredo do amor das abelhas: Na natureza, não há flores silvestres, há apenas flores.
Porque o doce do mel não é feito do polén de flores de uma única espécie.
Busque doçura na diferença.
Em 2009, Cultive +amor e +paz!

Votos de Festas Felizes
e um Ano Novo cheio
de prosperidade!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

ई MUXIMA!

Foi um tremendo susto seguido de um silêncio vazio e sem amparo,feito náufrago arrastado pelo caudal do destino. A mania de ler o jornal de trás para frente acabou por reservar-me uma surpresa desagradável. Nem sei de onde adquiri este hábito, talvez seja dos tempos em que o Jornal de Angola trazia Banda Desenhada na última página…Zito Mabanga & companhia, talvez. A verdade é que o mesmo perdura!
Sabia que o jornalista Orlando Bento já não gozava de boa saúde. Andava fragilizado, doente. Mas torcia e acreditava que ele fizesse, no último instante, um esforço para driblar os males que o perseguiam.
Quando cheguei ao Jornal de Angola, ele era Chefe de Redacção. Ainda me lembro da nossa primeira conversa. Ao passar, cruzamo-nos num dos pequenos espaços que separavam as editorias: és tu o Augusto Alfredo? – Sim Chefe! – Vem cá! - Disse num jeito amável como se fôssemos amigos de longa data, que procuravam uma mesa de bar para colocar as fofocas em dia...
E sentamo-nos. Numa fala mansa, avaliou o meu desempenho e aconselhou-me a continuar a trabalhar na mesma ceara. – Eu confio em ti! – Disse ao apertar a minha mão.
Desde aquela data, sempre que tínhamos oportunidade falávamos sobre jornalismo. O jornalismo e a guerra. Jornalismo e a Paz. O Jornalismo e a democratização. O jornalismo e a reconciliação do país. O jornalismo e a reconstrução do país. Eram temas que manifestavam o amor que possuía em relação à profissão e ao país. Depois que passou a morar no bairro da Samba, algumas vezes à noite, íamos juntos. E a conversa não era diferente. Tudo gravitava em torno do Jornalismo e a forma deste contribuir para o engrandecimento do país. Orlando Bento era simples, calmo, humilde e pouco barulhento, comportamento típico de gente que acumulara experiência nas cadeiras da vida. Despido de vaidades que corroem os laços da amizade e da sinceridade. Ele era camarada sem qualquer máscara.
O Orlando Bento partiu. Na fila silenciosa do cemitério, seguiam familiares, antigos colegas e amigos com que partilhou momentos de alegrias e tristezas.
Na memória, ele continua eloquente e comprometido com os ideais pelos quais viveu e se bateu a vida inteira: basta reler um dos seus últimos textos...!


O Papa, os angolanos e a paz
Orlando Bento

Os angolanos continuam apostados na reconstrução, com os olhos virados para o desenvolvimento.
Com Angola estão também muitos parceiros. Bom mesmo foi saber, por exemplo, que o Papa Bento XVI invocou a benevolência de Deus sobre Angola para que cada um contribua para a paz alcançada há cinco anos. O Santo Padre pede perseverança na obra de reconciliação dos corações que ainda sangram com as feridas da guerra. O gesto da autoridade religiosa é sustentado pelo pedido a Deus para dar voz ao povo e assim instaurar-se uma autêntica vida em democracia no país.
Melhor ainda foi saber que o Papa se manifestou alegre com as obras de reconstrução nacional em curso, recordando às autoridades religiosas e civis a obrigação de privilegiar os pobres nas suas acções.
Bom também foi saber que o Sumo Pontífice saudou a predisposição do Papa Paulo V, que há 400 anos se mostrou favorável à recepção de uma representação da embaixada do Reino do Congo guiada pelo primo do rei Álvaro II, também conhecido por Dom António Manuel Vunda e que os cronistas romanos cognominaram “o Negrita”, considerado como sendo o primeiro embaixador negro de um reino cristão africano.
Há outros sinais que dão indicações de que o país está a crescer. Assim é que deve merecer registo o facto do Governo considerar positivo o balanço do Programa de Melhoria e Aumento da Oferta dos Serviços Sociais Básicos às populações, referente ao ano passado. Está em curso o alargamento de uma rede de supermercados que, em todo do o país, vai certamente resolver o problema de abastecimento de bens de primeira necessidade a muitas pessoas. Há, de resto, o conhecimento da execução física, financeira e dos resultados e impacto dos projectos constantes dos referidos programas.
É também um facto a construção e a recuperação de infra-estruturas administrativas ao nível das províncias, municípios e comunas e outras ligadas à estratégia global para a urbanização e promoção da habitação social. Importante ainda é saber que se prima pela harmonia no quadro de muitos processos em curso. Assim é que, para além da necessidade da satisfação de serviços básicos à população, cuida-se igualmente da recuperação dos principais troços rodoviários e da aquisição, pelas províncias, de medicamentos e outros bens. O que se pode exigir agora e esperar de todos os agentes activos é a comparticipação que ajude a materializar muitas outras acções, para que os benefícios sejam os requeridos. As igrejas, com tradição na comparticipação a que fazemos referência, costumam corresponder normalmente com a realização de muitas acções de carácter social.