sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

ई MUXIMA!

Foi um tremendo susto seguido de um silêncio vazio e sem amparo,feito náufrago arrastado pelo caudal do destino. A mania de ler o jornal de trás para frente acabou por reservar-me uma surpresa desagradável. Nem sei de onde adquiri este hábito, talvez seja dos tempos em que o Jornal de Angola trazia Banda Desenhada na última página…Zito Mabanga & companhia, talvez. A verdade é que o mesmo perdura!
Sabia que o jornalista Orlando Bento já não gozava de boa saúde. Andava fragilizado, doente. Mas torcia e acreditava que ele fizesse, no último instante, um esforço para driblar os males que o perseguiam.
Quando cheguei ao Jornal de Angola, ele era Chefe de Redacção. Ainda me lembro da nossa primeira conversa. Ao passar, cruzamo-nos num dos pequenos espaços que separavam as editorias: és tu o Augusto Alfredo? – Sim Chefe! – Vem cá! - Disse num jeito amável como se fôssemos amigos de longa data, que procuravam uma mesa de bar para colocar as fofocas em dia...
E sentamo-nos. Numa fala mansa, avaliou o meu desempenho e aconselhou-me a continuar a trabalhar na mesma ceara. – Eu confio em ti! – Disse ao apertar a minha mão.
Desde aquela data, sempre que tínhamos oportunidade falávamos sobre jornalismo. O jornalismo e a guerra. Jornalismo e a Paz. O Jornalismo e a democratização. O jornalismo e a reconciliação do país. O jornalismo e a reconstrução do país. Eram temas que manifestavam o amor que possuía em relação à profissão e ao país. Depois que passou a morar no bairro da Samba, algumas vezes à noite, íamos juntos. E a conversa não era diferente. Tudo gravitava em torno do Jornalismo e a forma deste contribuir para o engrandecimento do país. Orlando Bento era simples, calmo, humilde e pouco barulhento, comportamento típico de gente que acumulara experiência nas cadeiras da vida. Despido de vaidades que corroem os laços da amizade e da sinceridade. Ele era camarada sem qualquer máscara.
O Orlando Bento partiu. Na fila silenciosa do cemitério, seguiam familiares, antigos colegas e amigos com que partilhou momentos de alegrias e tristezas.
Na memória, ele continua eloquente e comprometido com os ideais pelos quais viveu e se bateu a vida inteira: basta reler um dos seus últimos textos...!


O Papa, os angolanos e a paz
Orlando Bento

Os angolanos continuam apostados na reconstrução, com os olhos virados para o desenvolvimento.
Com Angola estão também muitos parceiros. Bom mesmo foi saber, por exemplo, que o Papa Bento XVI invocou a benevolência de Deus sobre Angola para que cada um contribua para a paz alcançada há cinco anos. O Santo Padre pede perseverança na obra de reconciliação dos corações que ainda sangram com as feridas da guerra. O gesto da autoridade religiosa é sustentado pelo pedido a Deus para dar voz ao povo e assim instaurar-se uma autêntica vida em democracia no país.
Melhor ainda foi saber que o Papa se manifestou alegre com as obras de reconstrução nacional em curso, recordando às autoridades religiosas e civis a obrigação de privilegiar os pobres nas suas acções.
Bom também foi saber que o Sumo Pontífice saudou a predisposição do Papa Paulo V, que há 400 anos se mostrou favorável à recepção de uma representação da embaixada do Reino do Congo guiada pelo primo do rei Álvaro II, também conhecido por Dom António Manuel Vunda e que os cronistas romanos cognominaram “o Negrita”, considerado como sendo o primeiro embaixador negro de um reino cristão africano.
Há outros sinais que dão indicações de que o país está a crescer. Assim é que deve merecer registo o facto do Governo considerar positivo o balanço do Programa de Melhoria e Aumento da Oferta dos Serviços Sociais Básicos às populações, referente ao ano passado. Está em curso o alargamento de uma rede de supermercados que, em todo do o país, vai certamente resolver o problema de abastecimento de bens de primeira necessidade a muitas pessoas. Há, de resto, o conhecimento da execução física, financeira e dos resultados e impacto dos projectos constantes dos referidos programas.
É também um facto a construção e a recuperação de infra-estruturas administrativas ao nível das províncias, municípios e comunas e outras ligadas à estratégia global para a urbanização e promoção da habitação social. Importante ainda é saber que se prima pela harmonia no quadro de muitos processos em curso. Assim é que, para além da necessidade da satisfação de serviços básicos à população, cuida-se igualmente da recuperação dos principais troços rodoviários e da aquisição, pelas províncias, de medicamentos e outros bens. O que se pode exigir agora e esperar de todos os agentes activos é a comparticipação que ajude a materializar muitas outras acções, para que os benefícios sejam os requeridos. As igrejas, com tradição na comparticipação a que fazemos referência, costumam corresponder normalmente com a realização de muitas acções de carácter social.

3 comentários:

Anastácio Soberbo disse...

Olá Mazungue
Que bonito texto, parabéns!
Realmente é um profissional a escrever. Só é pena que este blogue esteja em Anguilla e não no país de Angola.
Um abraço e cumprimentos desde Portugal

Juliana Machado disse...

Oi, Augusto.

Eu sinto muito pela sua perda. E enalteço a forma bonita com a qual você homenageou o seu amigo...

Fica bem!

Beijos

Soberano Kanyanga disse...

Kota Augusto, quero parabenizar-te pela excelente pena. Mais uma... Quanto ao nosso finado "professor" O.B. que Deus o tenha. Não privei com ele directamente, pois iniciei-me na rádio, mas com ele aprendi, lendo-o.