terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Rei Édipo e Jornalismo

Sempre que alguém fala em Jornalismo Investigativo lembro-me de uma peça de teatro denominada Rei Édipo, escrita por Sófocles, um dos grandes trágicos da história do teatro Universal, a par de Ésquilo e Eurípedes). E porquê? Porque Édipo é o primeiro Dectetive da Historia Universal, séculos antes de Cristo. Recorde-se que Sófocle nasceu no ano 496 antes de Cristo.
A cidade de Tebas passava por grandes desgraças e as populações manifestaram ao Rei o quanto sofriam. Em resposta o Rei disse: “Meus pobres filhos! O desejo que haveies manifestado, não o desconhecia eu, pois sei quanto sofreis. E eu sofro muito mais que cada um de vós, porque sofro por todos”.
É assim que manda o seu cunhado Creonte para junto do Oráculo descobrir as causas que estavam por de trás da desgraça da cidade.
Ao regressar à cidade, Creonte conta que Deus pedia que se limpasse uma nódoa de sangue que havia caído sobre a cidade e que não permitisse que ela se alastrasse até se tornar impossível a sua extinção.
Ou seja, o oráculo anunciava publicamente a existência na cidades de um indivíduo profanador, assassíno do antigo Rei, Laio, e que teria de ser expulso da cidade para que Tebas voltasse a ser saudável. O Rei que escutara atentamente pediu que se investigasse e prometeu que nada ficaria por investigar.

Ou seja, a missão principal era a de:
- Investigar a verdade
- Fazer Justiça
- Defender paz e bem estar comuns
- Garantir uma relação salutar entre o exercício do Poder e povo
- Manifestar o compromisso com a sociedade

Sófocles conta na tragédia que Édipo Rei por o orgulho já havia cumprido os desígnios do oráculo: lutar contra uma comitiva e assassinar a quase todos os seus componentes, inclusive seu pai; decifrar o enigma da esfinge e, conseguentemente, desposar Jocasta, a Rainha de Tebas, sua mãe.
Quando a tragédia tem início, Édipo, ainda por orgulho de ser filho da fortuna, quer investigar e descobrir o assassino do antigo Rei Laio, seu pai. Promete que nada ficaria por investigar para o bem estar da comunidade tebana. E leva a investigação até as últimas consequências. Nenhum argumento o demove, nem mesmo a acusação de Tirésias, representante da verdade oracular. Édipo assume a condição de juiz e réu ao mesmo tempo, quando a sua cegueira existencial será clareada através da cegueira física. Édipo Rei é o exemplo de dective que persite na investigação até desvendar o crime.
Dá-se o nome de Jornalismo Investigativo à prática de reportagem especializada em desvendar mistérios e factos ocultos do conhecimento público, especialmente crimes e casos de corrupção, que podem eventualmente virar notícia.

ORIGEM DO JORNALISMO INVESTIGATIVO
Em 1964, o mais ambicionado prémio de Jornlismo, o pulipzer foi atribuído para o Philadelphia Bulletin na característica de reportagem. O prémio enaltecia o trabalho do jornal ao denunciar a corrupção na polícia da cidade, mostrando como os oficiais da corporação estavam envolvidos numa rede de jogatina, sobretudo numa espécie de jogo ilegal.
A nova categoria do PRÉMIO Pulitzer era denominada Reportagem investigativa, dando assim ênfase ao papel da imprensa escrita como um sector activo, reformista e denunciador. E todos jornais passaram a apostar no desenvolvimento do novo género jornalístico. É assim, que oito anos mais tarde surge o clássico do Jornalismo Investigativo com o caso watergate, no jornal washingtion Post.

TIPOS DE JORNALISMO INVESTIGATIVO

1. Reportagem Investigativa Original
•Envolve os próprios repórteres na descoberta e documentação de actividades até então desconhecidas do público. É um tipo de reportagem que acaba sempre por provocar reacções públicas oficiais sobre os assuntos ou actividades denunciadas.

2. Reportagem investigativa interpretativa
•Enquanto a primeira revela informações até então não divulgadas, a segunda, a Reportagem Investigativa Interpretativa surge como resultado de cuidadosa reflexão e análise de uma ideia, como a busca obstinada dos factos para reunir informação num novo e mais completo texto, o qual fornece ao público um melhor entendimento do que acontece. Geralmente envolve assuntos mais complexos ou um conjunto de factos, mais do que numa denúncia clássica.
3. Reportagem sobre investigações
A terceira categoria de Reportagem Investigativa se empenha em acompanhar investigações. A reportagem tem origem da fuga de informação de uma investigação oficial em andamento ou em processo de preparação por outras fontes, geralmente agências governamentais.
4. Jornalismo investigativo acusatório
Investigar + moral. O jornalismo investigativo induz o público a dar a sua opinião sobre as revelações em pauta. Dão um enfoque condenatório: Necessidade de apresentar provas para seguir em frente.

Tendência actual

Reportagens canalizam a sua atenção ao risco de segurança pessoal em elevadores, o mau serviço de algumas concessionárias de automóveis, a fraca vigilância em bancos, piscinas e praias, ou aeroportos; o contrabando de mercadorias, redes de prostituição, fraude de empresas de limpreza, perigos dos transportes escolares, taxistas, fraca vigilância em maternidades facilitando o roubo de crianças.
Portanto, é preciso garantir que o jornalismo continue a exercer o seu papel de guardião dos cidadãos, mantendo-se acordado quando a cidade inteira dorme.



* Texto adaptado de uma conferência proferida em 2006 aos jornalistaS da cidade do Lubango, numa iniciativa do Sindicato dos Jornalistas Angolanos.