tag:blogger.com,1999:blog-81045907843390320322024-03-12T16:56:12.419-07:00MAZUNGUE, o rio gabelense que corre entre pedras, troncos e espumasAugusto Alfredo, angolano nascido no município do Amboim, província do Kwanza Sul, é graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.comBlogger104125tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-90591502787173465372013-08-22T07:37:00.001-07:002013-08-22T07:41:24.932-07:00Quando Lénine dormiu lá em casa<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: 'Comic Sans MS'; font-size: 14pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">Pouco depois dos jovens da
aldeia terem partido para o Centro de Instrução, seguiu-se-lhes o eclodir do
conflito com rajadas, explosões e correrias. Isso afinal é a sério! Meu Deus, e
os nossos filhos? Os aldeãos viviam sobressaltados, situação agravada pela
falta de notícias.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Mesmo assim com o coração
atravessado pelo espinho da incerteza, terça-feira, 11 de Novembro de 1975,
festejaram a proclamação da independência dando pausa instantânea na dor que os
corroía. Cantaram e choram de alegria. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Na Rádio Nacional de
Angola, os noticiários lidos pelas vozes de Rui de Carvalho, Francisco Simon e
Manuel Berenguel, as questões da guerra agitavam a audiência. Adicionada às
preocupações com a guerra que ameaçava a vida dos filhos da aldeia e não só,
havia surgido um outro fenómeno, um neologismo no vernáculo dos humildes aldeãos,
mas que continha um mesmo grau de violência: o fraccionismo. Ele trouxe um cortejo
de intolerâncias, revanchismos, desaparecimentos e mortos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">As pessoas viviam, sorriam,
mas não como dantes, era um sorriso insípido, sem sal do humor. Eh, é assim
mais!!!... Era um sorriso ajustado ao sentimento de deixar a vida ao sabor do
vento que sopra a copa da mulembeira. Um sorriso com braços abertos em jeito de
resignação. Vamos fazer mais como… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Eram volta das 20 horas do
dia 22 Julho de 1977. Sexta-feira. Nos ouvidos, um zumbido de longe foi se
aproximando. Só minutos depois, avistou-se o feixe de luz de faróis que
cortaram a noite escura. Eram dois. Todos entreolharam-se desconfiados. A
aldeia acabava de jantar o seu calulu de rama de batata com funge de milho e
preparava-se em seguida para dormir. Quem será a esta hora?... Aqui nunca mais
passou carro desde que o CIR(Centro de Instrução Revolucionária) Comandante
Arguelles mudou-se para o Planalto Central. Da marca do carro não tinham
dúvida. Com essa situação que vivemos, quem será o homem que se atreve vir até
à aldeia naquela hora? Isso só pode ser azar! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Meus Deus! Um mensageiro da
desgraça está prestes a anunciar um novo infortúnio. Crescia a impaciência.
Crescia o medo. Tremiam os pés, as mãos. Tudo. Suku, a vida é mesmo assim?! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">O carro foi descendo
devagar a estrada rudimentar até a ponte de paus colocados sobre riacho Lussumbo
e depois com a tracção ligada atingiu a outra margem. Os fortes faróis varreram
a escuridão afugentando as cabras, que dormitavam na cinza morna da fogueira do
terreiro. Correram berrando atordoadas. E decifrou-se para alguns o enigma:
Hoje minha vista tremia, sabia que era algo estranho que iria acontecer. Alguém
lembrou-se também do uivar de lobos na noite anterior. O outro teve durante o
dia o coração a palpitar. Um outro ainda foi perseguido por uma abelha teimosa
durante o dia inteiro. E o pássaro preto de mau agoiro que sobrevoou a campa da
velha Cauabela? E o gato que miava como se fosse uma criança recém-nascida?
Hum, agora está tudo explicado: Era o sinal do mau presságio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Assim, com o coração
suspenso, esperaram minutos sofridos até o carro chegar no terreiro. E mal
parou, o motorista baixo, vestindo garbosamente farda verde e botas castanhas,
apagou as luzes e saltou gritando pelo nome do seu pai. Assustados, todos fugiram nas bananeiras,
inclusive o cachorro Pouca-Sorte. Surpreendido o visitante gritou: sou eu
Minguito, não fujam! Sou vosso filho, não sou Kazumbi. Ame Ulo! Estou aqui!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Claro, depois de notícias
desencontradas sobre a sua morte numa emboscada na Nhareia, os aldeãos, apesar
dos apelos reiterado, não acreditaram facilmente. Mantiveram-se escondidos até
que o visitante voltou a acender os faróis do veículo e a colocar-se bem
afrente deles para que fosse reconhecido: Pai, tira também o chapéu! Pediu uma
voz trémula. Era a da sua mãe. Ao que se seguiu uma explosão de alegria e de lágrimas.
Atatewe, Meus Deus! Omóla uangue, meu filho! atatewe ongueva!... Meu Deus, a
saudade!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Depois dos abraços
demorados, abriu a porta traseira do carro, para que fossem retiradas as malas.
Eram duas, uma pequena e outra grande. A primeira, foi fácil ser transportada
por um único homem, a segunda, foram requeridas duas pessoas. A mãe com o
candeeiro iluminando o caminho dirigiu-se à capoeira que ficava a 20 metros da
casa principal. Gritou por ajuda para agarrar o galo, mas as crianças estavam
curiosas em ver o que continham as malas. Na pressa, alcançou a primeira galinha
a aproximar-se da porta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Mano veio. Quem sabe,
talvez sairia alguma roupa ou sapatos para estriar na escola. O pai recebeu um casaco
sobretudo e umas botas de cabedal que tinham o interior coberto por algodão.
Ficou felicíssimo. Não sabia o que esperava os seus pezinhos no tempo de calor.
A mãe ganhou uma blusa e uma saia com flores. Todos ficaram contentes e procuram
exibir-se como aprendizes de modelos na passarela improvisada na sala. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Depois do jantar, regado
por uma garrafa de Vodga, mergulharam na conversa. Falaram da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, dos Kolkoses, Bolcheviques e Mencheviques,
da industrialização e da electrificação. Falava inspirado da abra “Um passo a frente
e dois a rectaguarda”, da “Doença infantil do esquerdismo no Comunismo. Depois
pulou para os shoppings. A Coca-cola e a roupa jeans só eram comercializadas em
lojas diplomáticas para estrangeiros. Por quê? São produtos do imperialismo! Falou
do metro de Moscovo. Todos exclamaram! Comboio que passa debaixo da terra? Não
é possível. Coitados, na memória dos aldeãos, só tinham o comboio do Caminho de
Ferro do Amboim que funcionava graças a força da lenha. E o visitante
explicava, explicava. Falou da assistência médica e medicamentosa, das escolas
e da organização das cidades e das Forças Armadas. Kremilin! E imitava a marcha
do soldado soviético. Elogiou o passo firme, o queijo levantado e o
alinhamento. Para exemplificar, formou uma secção onde se destacava o pai e os
irmãos. E deu vozes de Comando: Firme! Direita Volver. Esquerda Volver! Caiu!
Apenas ele próprio cumpriu a ordem. Todos ficaram a sorrir. Ainda podes se
aleijar! Olha, o comunismo é um exemplo a seguir por todos os povos livre do
imperialismo. O internacionalismo proletários. O Manifesto de Marx e Engls. A luta
contra a Mais-Valia. O partido do novo tipo de LÉNINE. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Mas filho, o vinho também
é no cartão da loja do povo como aqui? Sim. Ah, então isso não vai dar certo! Pai,
essa é a visão dos reaccionários. Dos saudosistas! São todos agentes do
imperialismo! É preciso que os operários conquistem o poder e implantem a
ditadura do proletariado. Por que? Porque os operários foram os mais
explorados, e na sequência são eles mais disciplinados e organizados. Filho, eu
vi o quanto custou desenvolver Angola. Gerir um país não é fácil. Por exemplo,
ontem o antigo tractorista da Fazenda Boa Esperança esteve aqui a pedir a sua
lavra de volta. Mas eu comprei-lhe a lavra em 1963, quando à noite foi apanhado
a roubar café na fazenda do branco. É com este que estamos a contar desenvolver
a economia? Isso ainda vai da confusão. Meu filho, ouve bem o que estou a te
dizer: os nguetas um dia vão voltar e vão querer receber as suas casas e
fazendas que hoje ocupamos. Pai, tem de entender que entramos numa nova fase, o
da revolução. Agora quem vai mandar são aqueles que antes eram os explorados.
Haverá igualdade entre os homens. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Em seguida, ergueu o olhar
para perguntar à plateia sedenta. Vocês conhecem Lénine? Não?!!!... Lénine é o
grande revolucionário que dirigiu o partido dos bolcheviques à conquista do
poder aos tzares. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Diante da ignorância da
plateia, o orador então lembrou-se, pedindo a um dos irmãos que fosse ao quarto
buscar o busto de Lénine que trazia na mala. Na pressa de voltar para a sala,
não soube procurar com cuidado. Foi aí que o busto de mármore de V.I. Lénine
com cerca de 20 cm de altura e 10 de raio, saiu da mala raspando-lhe a tíbia e
caindo em cheio sobre o dedo maior do pé. Este deixou cair o candeeiro e correu
aos gritos até á sala. O dedo foi
atingido por um dos vértices do busto abrindo uma ferida de onde brotava muito
sangue… O candeeiro tombado, por um tris não ateou fogo à mala. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Os adultos aflitos e com
as mãos à cabeça, levantaram-se da mesa. Mas o que é que foi? Mano, foi uma
pedra que saiu da mala e me caiu no pé! O Lénine? Sim! Foi isso mesmo que me aleijou
no dedo. Olha só. E mostrava o dedo do pé ensanguentado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Foi preciso, quatro pontos
para estancar a hemorragia. O militar tinha experiência em primeiros socorros.
Foi assim que o então adolescente, nunca mais se esqueceu daquela noite e da
imagem do líder dos bolcheviques Vladimir Ilitch Ulianov Lénine. Sempre que
cruzava com um velho careca lembrava-se de Lénine. Depois, em Dezembro de 1977,
quando ouviu o discurso do Dr Agostinho Neto: “sob o olhar silencioso de
Lénine...” Já sabia de quem se tratava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">O busto talvez ainda
continue lá no Amboim jogado num dos cantos da casa de adobe. Com seu olhar
silencioso quiçá, resista ao tempo agreste e ao salalé. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Que adolescente imaginaria
que aquele velho careca o acompanharia em quase toda a vida. E hoje, passados
mais de 30 anos, o então adolescente ao questionar o mano ainda militar ele
apenas sorri e diz: foi uma Mais-Valia!<o:p></o:p></span></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-52381581880869432302013-06-25T01:53:00.005-07:002013-06-25T01:53:47.284-07:00INTOLERÂNCIA DE CADA DIA<div style="border-bottom: solid #4F81BD 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-themecolor: accent1; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 4.0pt 0cm;">
<div class="MsoTitle" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">SEGUNDA-FEIRA: É cacimbo! Camponeses regressam
ansiosos às margens húmidas do rio para a plantação de hortícolas. Nas cidades,
para a surpresa de muitos, voltou à baila, e ocupando espaço editorial nos
jornais, rádios e televisões o uso do antónimo da tolerância. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Existe ou não intolerância? Uns dizem que sim,
outros dizem que não! E quando em debate, os representantes de várias cores político-partidárias
procuram com sagacidade esgrimir os seus argumentos puxando as brasas para o seu
carapau. Aos ouvidos arrebitados do público chegam as mais variadas verdades e inverdades
sobre o tema. Cada um defende e persiste na sua dama, mesmo quando esta já vai
em trajes menores. Na sequência, instala-se um ruído perigoso para o processo
comunicacional entre os actores políticos, ambiente que pode afectar, de uma
maneira ou de outra, o resto da sociedade. O diálogo pode virar monólogo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Lamenta-se, mas a vida está cheia de
contrariedades. Há opiniões com as quais não estamos de acordo, mas somos
obrigados a aceitar, sob o risco de sermos taxados de intolerantes. E pelos
visto ninguém gosta de ser considerado intolerante. Então, tente ser diferente.
Tente ser uma pessoa melhor! Melhoral caiu em desuso. Depois da Aspirina, agora
é Paracetamol que bate.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;"> A
tolerância é semente e estrume. É assim que se constrói e perduram estáveis amizades,
namoros, casamentos, relacionamentos, parcerias e projectos de sociedades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Quem já nunca ouviu palavras semelhantes?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">- Eu gosto muito dela e quero sempre estar do seu
lado, porque ela me aceita tal como sou! Não vê as minhas opiniões, ainda que
tenham alguma dose de disparate, como vindo de gente pueril. Ela procura generosamente
entender, perceber. E sempre chegamos a conclusão que a diferença de opinião
resulta do ponto. É uma questão de ponto de vista! Por isso, a instabilidade
tem sempre no seu bojo um acto de intolerância. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">A tolerância semeia-se e germina como alfobres de flores
do campo. Mas o que é a tolerância e intolerância, quais as suas derivadas! De
tanta confusão que o ruído provoca nas mentes, nada melhor que procurar o Dicionário
Moderno da Língua Portuguesa, para saber o que de facto significa. E
prontamente encontro: <i>Condescendência, ou
indulgência para com aquilo que não se quer ou não se pode impedir. Boa
disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas. Faculdade ou
aptidão que o organismo dos doentes apresenta para suportar certos
medicamentos. </i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<i><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Então, paro,
cogito e no mesmo dicionário, busco o termo intolerância. Esfolheio. Esfolheio
e finalmente encontro. Intolerância quer dizer falta de tolerância. Violência. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<i><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Raciocino.
Quem é intolerante? Pessoa que carece de tolerância. Que não suporta as crenças
e as opiniões alheias, se divergem das suas. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<i><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Já mais satisfeito acesso a internet em </span></i><a href="http://pt.wikipedia.org/"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">http://pt.wikipedia.org</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">: «</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A <b>tolerância</b>,
do latim <i>tolerare</i> (sustentar, suportar), é um termo que define
o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Moral" title="Moral"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">moral</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura" title="Cultura"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">cultural</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Civil" title="Civil"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">civil</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> ou </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%ADsica" title="Física"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">física</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">. Do
ponto de vista da </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade" title="Sociedade"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">sociedade</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, a tolerância é a capacidade de uma pessoa ou grupo
social de aceitar outra pessoa ou grupo social, que tem uma atitude diferente
das que são a </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Norma" title="Norma"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">norma</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> no seu próprio grupo. Numa concepção moderna é
também a atitude pessoal e comunitária de aceitar valores diferentes daqueles adoptados
pelo grupo de pertença original.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O
conceito de tolerância se aplica em diversos domínios:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">- Tolerância social: atitude de uma pessoa ou de
um grupo social diante daquilo que é diferente de seus valores morais ou de
suas normas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">- </span><a href="http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Toler%C3%A2ncia_civil&action=edit&redlink=1" title="Tolerância civil (página não existe)"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">Tolerância civil</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">: discrepância entre a </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Legisla%C3%A7%C3%A3o" title="Legislação"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">legislação</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, a sua
aplicação e a </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Impunidade" title="Impunidade"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">impunidade</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">- Tolerância segundo </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke" title="John Locke"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">Locke</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> : «<i>parar
de combater o que não se pode mudar</i>».<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">- </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Toler%C3%A2ncia_religiosa" title="Tolerância religiosa"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">Tolerância religiosa</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">: atitude respeitosa e convivial diante das
confissões de fé diferentes da sua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">- </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Toler%C3%A2ncia_farmacol%C3%B3gica" title="Tolerância farmacológica"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">Tolerância farmacológica</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> ou </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Toler%C3%A2ncia_medicamentosa" title="Tolerância medicamentosa"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">medicamentosa</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">: diminuição da responsividade a um fármaco, ou seja,
a diminuição do efeito farmacológico com a administração repetida da
substância.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">- Tolerância técnica: margem de </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Erro" title="Erro"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">erro</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> aceitável (ver </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Toler%C3%A2ncia_(engenharia)" title="Tolerância (engenharia)"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">Tolerância, engenharia</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">), ou capacidade de
resistência a uma </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7a" title="Força"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">força</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> externa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">- Tolerância: em </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Gest%C3%A3o_de_riscos" title="Gestão de riscos"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">gestão de riscos</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> constitui o nível de </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Risco" title="Risco"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">risco</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> aceitável normalmente
definido por critérios pré-estabelecidos.»<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">TERÇA-FEIRA:
Volto a pesquisar sobre o assunto em </span></b><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Intoler%C3%A2ncia"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">http://pt.wikipedia.org/wiki/Intoler%C3%A2ncia</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;"> </span><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">«Intolerância</span></b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> é
uma </span><a href="http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Atitude_mental&action=edit&redlink=1" title="Atitude mental (página não existe)"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">atitude mental</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> caracterizada pela
falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Cren%C3%A7a" title="Crença"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">crenças</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> e </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Opini%C3%A3o" title="Opinião"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">opiniões</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">. Num
sentido político e social, intolerância é a ausência de disposição para aceitar
pessoas com pontos-de-vista diferentes. Como um constructo social, isto está aberto a interpretação. Por
exemplo, alguém pode definir intolerância como uma atitude expressa, negativa
ou hostil, em relação às opiniões de outros, mesmo que nenhuma acção seja
tomada para suprimir tais opiniões divergentes ou calar aqueles que as têm.
Tolerância, por contraste, pode significar "discordar pacificamente".
A </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Emo%C3%A7%C3%A3o" title="Emoção"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">emoção</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> é um factor primário que diferencia intolerância
de discordância respeitosa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A
intolerância pode estar baseada no </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Preconceito" title="Preconceito"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">preconceito</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, podendo
levar à </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Discrimina%C3%A7%C3%A3o" title="Discriminação"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">discriminação</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">. Formas comuns de intolerância incluem acções
discriminatórias de </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Controle_social" title="Controle social"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">controle social</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, como </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Racismo" title="Racismo"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">racismo</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Sexismo" title="Sexismo"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">sexismo</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Homofobia" title="Homofobia"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">homofobia</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Heterossexismo" title="Heterossexismo"><span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">heterossexismo</span></a>, <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Eta%C3%ADsmo" title="Etaísmo"><span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">etaísmo</span></a>
(discriminação por idade), </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Intoler%C3%A2ncia_religiosa" title="Intolerância religiosa"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">intolerância religiosa</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> e </span><a href="http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Intoler%C3%A2ncia_pol%C3%ADtica&action=edit&redlink=1" title="Intolerância política (página não existe)"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">intolerância política</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">.
Todavia, não se limita a estas formas: alguém pode ser intolerante a quaisquer ideias
de qualquer pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">É motivo
de controvérsia a legitimidade de um governo em aplicar a força para impedir
aquilo que ele considera como </span><a href="http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Incitamento_ao_%C3%B3dio&action=edit&redlink=1" title="Incitamento ao ódio (página não existe)"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">incitamento ao ódio</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">. Por exemplo, a Primeira
Emenda da </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_dos_Estados_Unidos_da_Am%C3%A9rica" title="Constituição dos Estados Unidos da América"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">Constituição dos Estados Unidos da América</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> permite
tais manifestações sem risco de acção criminal. Em países como </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Alemanha" title="Alemanha"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">Alemanha</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a" title="França"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">França</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal" title="Portugal"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">Portugal</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> e </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil" title="Brasil"><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; text-decoration: none; text-underline: none;">Brasil</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, as pessoas podem ser
processadas por tal atitude. Esta é uma questão sobre quanta intolerância um
governo deve aceitar e como ele decide o que constitui uma manifestação de
intolerância.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Enquanto
prossegue o debate sobre o que fazer com a intolerância alheia, algo que frequentemente
ignora-se é como reconhecer e lidar com a nossa própria intolerância.»<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">QUARTA-FEIRA:
Nas palavras, nos gestos e mímicas, quanta intolerância está presente no nosso
dia-a-dia. Nos relacionamentos. Lá em casa. Quanta intolerância no trânsito
engarrafado da cidade capital, que não raras vezes acaba em violência e morte.
Quanta intolerância nos transportes públicos. Quanta intolerância nas salas de
aulas. Quanta intolerância nos locais de trabalho, nos bancos das igrejas, nos
hospitais, nos partidos políticos, nos parlamentos, nos mercados, em fim!
Quanta intolerância habita ainda as nossas mentes! Reconhecer que esse mal
existe seria um grande avanço no caminho da superação. MINHAS SENHORAS E MEUS
SENHORES! Para a consolidação da paz e da reconciliação importa trabalharmos diariamente,
procurando sermos mais tolerantes com o próximo. A palavra de ordem deve ser: Tolerância!
Tolerância! Tolerância! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">E porque
não tornar a Tolerância disciplina obrigatória para todos os níveis de
escolaridades?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">QUINTA-FEIRA-
APLAUSO! Desde o Soyo, o Projecto LNG fez a sua primeira entrega ao mercado internacional.
É o coroar de vários anos de trabalho persistente de funcionários, engenheiros
e técnicos. A todos eles a nossa merecida homenagem. As ofertas de gás no
mercado nacional irão com certeza aumentar, para atender a crescente demanda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">SEXTA-FEIRA:
21 de Junho. «Deus se agrada bem de tais sacrifícios» Heb. 13:16.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">SÁBADO:
«Pastoreai o rebanho de Deus… aos vossos cuidados» 1 Ped. 5:2<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">DOMINGO: </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">O olho-por-olho pode
deixar os contendores cegos e o dente-por-dente desdentados. A era é outra. </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">«Não vos
esqueçais de fazer o bem» Heb. 13:16<o:p></o:p></span></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-86885738394428999552013-06-17T09:36:00.000-07:002013-06-17T09:36:33.532-07:00Espionagem arbitrária<div style="border-bottom: solid #4F81BD 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-themecolor: accent1; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 4.0pt 0cm;">
<div class="MsoTitle">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Comic Sans MS";">SEGUNDA-FEIRA</span></b><span style="font-family: "Comic Sans MS";">: São 4H00. Acordo sob o som da música do
despertador. É “A Via Láctea” de Renato Russo!<i>- </i></span><i><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Comic Sans MS';">Sempre
existe uma luz/Quando tudo está perdido…<span class="apple-converted-space"> </span></span></i><i><span style="font-family: "Comic Sans MS";"> <o:p></o:p></span></i></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Acordei, mas permaneço imóvel na cama morna,
buscando na sinfonia o recobrar das forças e energias, o conectar da alma à
vida com os seus devaneios. O esfolhear das lições anteriores na projecção de
um novo dia, buscando transcendência na poesia de cada manhã com seus gorjeios arrebatadores.
Cada pássaro o seu cantar e juntos formam a harmonia da orquestra matinal. E a
água fria do chuveiro completa o milagre divino. O fornecimento da água e da
luz estão normalizados. Cresce o optimismo. Antes de descer espreito através da
cortina da sala a normalidade da cidade ainda adormecida. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Aperto cinto. Dou o arranque. Ligo o rádio.
Enquanto aqueço o motor do carro, percorro mentalmente a totalidade do
trajecto. Nas curvas, reduzo a velocidade e nos entroncamentos paro, olho e
escuto. Preparo-me psicologicamente para suportar as arrelias provocadas pelo
engarrafamento e seus protagonistas. Quantos litros de combustíveis são
consumidos por veículos em pequenos trajectos. Quanto o país gasta com o trânsito
parado? Milhões de dólares em combustíveis subvencionados pelos cofres do Estado,
que serviriam para outras demandas das populações! Talvez desse para a criação
de um subsídio de natalidade para acudir às populações de baixa renda: Durante
e depois da gravidez, toda a mulher desempregada receberia no Banco um valor
mensal até que o seu filho atingisse os 18 anos. Por exemplo, 10 mil kwanzas
para quem hoje vive com menos de 100 kwanzas/dia seria uma grande fortuna.
Seria uma das formas para atenuar os efeitos nefastos da pobreza nas famílias
angolanos, elevando assim o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).<o:p></o:p></span></div>
<h1 style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-weight: bold;">Inspiro e expiro sonhador. O engarrafamento no
trânsito luandense também gera negócios, não só para as gasolineiras, mas
também para os ardinas e outros vendedores ambulantes que encontram aí vitrina
para os seus produtos. As Rádios são outras que facturam com os nervos dos
automobilistas encurralados em estradas sem alternativas. O caos do trânsito
faz emergir orgulho no Radialismo angolano, animando ou desanimando as manhãs
com palavras e músicas de vários quadrantes. Entre a plateia estressada, ele encontra
homens energúmenos, boçais, ignorantes talvez que lhe contrariem. Quem o contrariar
pode ser taxado de invejoso… Mas responder ouvintes igualmente com insultos
pode não ser a melhor escola! Ah, o </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-weight: bold;">Manual de Rádio Jornalismo Jovem Pan! </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-weight: bold;">Trate o ouvinte com delicadeza, ainda que este use
linguagem pouco cortês. Avance irmão angolano. Como diz Nelson Rodrigues, “quem
pensa com unanimidade não precisa de pensar”.<o:p></o:p></span></h1>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Sair do Lar do Patriota para a Corimba é
uma verdadeira guerra de nervos. Outros buscam saída ou entrada na antiga
estrada do Futungo de Belas. Mas aí encontram uma placa “ÁREA RESTRITA”,
limitando a passagem. Apenas alguns poucos passam através do filtro fino do
controlo militar. Logo o desassossego destoa da calma transmitida pelas manhãs de
cacimbo. Perde-se muito tempo para se alcançar o Morro da Luz. É demasiado.
Consulto as horas! São 6H30 e percebo, pela fila de carros, que até à baixa de
Luanda gastaria mais de 3 horas. Preciso chegar antes, para conseguir um espaço
para o estacionamento, pois a Marginal está em obras e não foram criadas
alternativas. Não há alternativas! Que fazer? Entro em sofrimento. Depois da
passagem superior do Morro da Luz retorno e apanho a estrada do lado da praia.
Seguimos em coluna numa estrada cheia de buracos e solavancos. O cheiro do mar
e de peixe deteriorado pairam na atmosfera. Náuseas! É preciso calma e muita
paciência. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Os autocarros públicos sumiram das
estradas. Se alguém investisse em transportes colectivos de qualidade para os
que moram no Kilamba, eu deixaria de investir em carro pessoal. Um autocarro VIP
com toda a acomodação e prestação de serviço de bordo quem não pagaria? Cada
passageiro obteria um cartão reservando a sua poltrona. Às 5H00, 5H30, 6H00 e
6H30 partiriam do Kilamba, regressando apenas no período da tarde. Ou seja, a
partir das 15H30, 16H00, 17H00, 18H10. Era também uma forma de os socializar,
pois andam muito ilhados. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Comic Sans MS';">TERÇA-FEIRA:</span></b><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Comic Sans MS';">
A Polícia Nacional abre inscrição para novos candidatos. Um erro de cálculo, leva
a suspensão de todo o processo horas depois de ter iniciado. O número de jovens
candidatos que procuram pelo primeiro emprego, supera as expectativas das autoridades.
A preparação minuciosa de qualquer processo é premissa de êxito. Valeu a
correcção atempada do tiro! O improviso é inimigo da perfeição. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Comic Sans MS";">QUARTA-FEIRA:</span></b><span style="font-family: "Comic Sans MS";"> </span><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Comic Sans MS';">Exausto regresso a casa. Não tem
jeito. Já no Kilamba, passo e não acredito no que vejo. Paro e recuo.
Pestanejo. Me belisco. Continuo incrédulo. Repito o gesto com maior violência.
E caio na real. Alguém ateou fogo ao relvado ressequido do Quarteirão A da
Centralidade do Kilamba. Suspiro com desgosto e parto desiludido. O que é que
essa gente tem na cabeça. E f</span><span style="font-family: "Comic Sans MS";">ico
a pensar na minha infância! Já fui inocentemente feliz! </span><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Comic Sans MS';">Apesar
das arrobas de café cereja e de milho que levava para a moagem, eu era uma
criança feliz. Atenção: A arroba são 15 quilos, diferente da @ da Internet. Por
iniciativa própria recolhia e partia coconote no palmar para comercializar na
cantina do sô Manuel, recebendo em troca quedes-praia e lenço de bolso,
rebuçados, amêndoas e bolachas. Mas nada de trocar a escola e as brincadeiras
pelo trabalho. Lavar a loiça fazia parte do exercício de adestramento. Não era
como as crianças que combatem de armas na mão em alguns países. </span><span style="font-family: "Comic Sans MS";">12 de Junho assinala-se o Dia Mundial de
Combate ao Trabalho Infantil. A data começou a ser comemorada em 2002, por
iniciativa da OIT (Organização Internacional do Trabalho), com o objectivo de
chamar a atenção da sociedade e governos sobre a importância da implementação
da Convenção que estabelece a idade mínima para admissão ao emprego.</span><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Comic Sans MS';"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">QUINTA-FEIRA:</span></b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;"> O sistema bancário está lento. Com
ranger de dentes, aguento a fila durante toda a manhã. As filhas no estrangeiro
clamam. Tento acalma-las, justificando, mas a barriga não aceita as explicações:
Pai, não queremos palavras. Queremos dinheiro da bolsa. Ok. Calo. No fim,
também quero bons resultados. <o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;"><br />
</span><b><span style="font-family: "Comic Sans MS";">SEXTA-FEIRA:</span></b><span style="font-family: "Comic Sans MS";"> O avanço das novas tecnologia propicia um rápido
desenvolvimento das sociedades jamais vista em toda a sua história, todavia o
seu uso indevido pode acabar por criar conflitos com a legalidade diante da
exposição da privacidade alheia. É nesse âmbito que se inscreve o gesto
inusitado do ex-agente da CIA Edward Snowden, de 28 anos de idade, denunciando
o programa de espionagem em massa da Agência norte-americana. A tal democracia
na América também funciona assim?!!! Então estamos entalados! Então, as
inquietações de Jorge Orwell expressas na sua obra 1984 eram justas. P</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">ublicado em<span class="apple-converted-space"> </span></span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/8_de_junho" title="8 de junho"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">8 de Junho</span></a><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">de<span class="apple-converted-space"> </span></span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/1949" title="1949"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">1949</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">, o romance narrada
história de Winston Smith, um homem com uma vida aparentemente insignificante,
que recebe a tarefa de perpetuar a<span class="apple-converted-space"> </span></span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Propaganda" title="Propaganda"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">propaganda</span></a><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">do regime através da falsificação de documentos
públicos. Smith fica cada vez mais desiludido com sua existência miserável e
assim começa uma rebelião contra o sistema.</span><span style="font-family: "Comic Sans MS";"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Estou
disposto a sacrificar tudo por não poder, em sã consciência, permitir que o
governo norte-americano destrua a privacidade, a liberdade na Internet e a
liberdade básica das pessoas em todo mundo com uma máquina de espionagem”, diz o
ex-agente da CIA Edward Snowden.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">O termo </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Big_Brother" title="Big Brother"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">Big Brother</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Arial;">, popularizado
pelo romance, refere-se à fiscalização e controle de um determinado governo na
vida dos cidadãos, além da crescente invasão sobre os direitos do indivíduo. <span class="MsoHyperlink"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="MsoHyperlink"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">SÁBADO: </span></span><span style="background: white; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">Falando em </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Big_Brother" title="Big Brother"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">espionagem</span></a><span class="MsoHyperlink"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">, lembro-me de um episódio da minha infância.
Muitas mulheres andavam inquietas devido aos rumores que perpassavam a aldeia
descrevendo com minúcia as suas partes íntimas. Alguém estaria a monitora-las.
Quem seria? Desconfiaram. Só pode ser um homem que se tenha escondido nas
margens do rio Mazungue, para as espionar durante o banho. Foi assim que decidiram
montar uma emboscada. Um grupo de senhoras entrou no rio e um outro permaneceu
na Aldeia, aguardando o cair do sol. Quando o crepúsculo espalmava as sombras
do arvoredo sobre a paisagem, nas margens, o grupo de patrulha seguiu um rasto.
Devagarinho, caminharam até confirmarem as suas suspeitas. Ajoelhados, o homem
perscrutava as senhoras através das folhagens. As mulheres gritaram.
Surpreendido, jogou-se no rio desaparecendo na outra margem. Mas foi
reconhecido. Era o guarda-redes da equipa do bairro. Foi assim, que no sábado,
no Comité do bairro, todos os aldeões conheceram e puniram o espião da aldeia.
Zé Liengue, apesar de analfabeto e mesmo sem TV, já conhecia </span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">os dois
sabores do </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Big_Brother" title="Big Brother"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">Big Brother</span></a><span class="MsoHyperlink"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span class="MsoHyperlink"><b><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">DOMINGO:</span></b></span><span class="MsoHyperlink"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;"> Desligo o telefone. Quero voltar a ser um homem
livre!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-26829097793026239642013-05-13T14:05:00.005-07:002013-05-13T14:08:34.556-07:00Busca de uma identidade<br />
<div style="border-bottom: solid #7A7A7A 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-themecolor: accent1; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 4.0pt 0cm;">
<div class="MsoTitle">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">SEGUNDA-FEIRA:</span></b><span style="font-family: Bookman Old Style, serif; font-size: medium;"><span style="line-height: 115%;">
Faz um ano que procuro encontrar-me comigo mesmo, mas em vão. Minhas mãos,
minhas pernas, meu rosto, tudo estranho. Nem mesmo olhando ao espelho me
reconheço. Meu pensamento titubeia entre o ser e o não ser. Entre o </span><span style="line-height: 21.111112594604492px;">antônimo</span><span style="line-height: 115%;"> e
o sinónimo. Sou metáfora do iceberg! Na encruzilhada, vacilo entre a esquerda e
a direita. Procuro a minha identidade…! Que perfume estranho! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">TERÇA-FEIRA:</span></b><span style="font-family: Bookman Old Style, serif; font-size: medium;"><span style="line-height: 115%;">
Finalmente ontem, consegui escapar-me do quimbanda. Que horror! Mais de um mês
que não tomo banho. Meu corpo tem o cheiro de folhas e raízes. Esta gente devia merecer um tratamento
especial, pois é extremamente empreendedora. Sabe retirar dinheiro do bolso do
pacato cidadão sem anunciar assalto. São psicólogos das aldeias globais.
Aldeias? Agora também das grandes cidades. O quimbanda modernizou-se a ponto de
ter tradutor para português, francês e inglês, cobra em dólar, tem cartão
multicaixa, cartão-de-visita, Internet, </span><span style="line-height: 21.111112594604492px;">portfólio</span><span style="line-height: 115%;"> e anda em jeep zero 0 km. Pudera,
com tanta clientela de luxo!... Incrível, quimbanda também usa entre os seus
amuletos a bíblia como um pastor! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">QUARTA-FEIRA:</span></b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
Vagueio sem destino. Dizem que estou a enlouquecer. Também essa era a opinião
do quimbanda. Disse que tudo começou, quando um gato preto apareceu no telhado
lá de casa naquela noite em que acordei sobressaltado. O gato miava como
criança faminta. Segundo ele, se esse gato não fosse caçado seria um dilúvio em
toda a família. E para apanhar o gato
pediu 5 mil dólares e uma cesta básica, onde incluiria uma lata grande de leite
Nido selada. Mandou colocar a lata de leite no tecto lá de casa e pediu que a
trouxesse de volta uma semana depois. Qual foi o espanto ao abrir a lata! O
espanto foi ver um gato inflamado a sair do seu interior e com uma corda
atando-lhe o pescoço. Era preto. Não acreditei! Pediu mais 5 mil dólares para
remover todas as desgraças lá de casa. Foi aí que perdi a cabeça! Uma cabeçada
no olho esquerdo deixou-lhe inconsciente. A seguir agarrei no pescoço do
tradutor afrancesado e obrigue-o a ingerir uma mistura que havia preparado para
mim. Minutos depois, caiu exausto sobre a possa de fezes e vómitos. Seria eu!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">QUINTA-FEIRA:</span></b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
Falo ao vento, mas falar ao vento na cidade não é mesma coisa que na aldeia. As
palavras faladas ao vento na aldeia não se perdem no ar, são captadas pelos
deuses, nossos antepassados… São estes que intercediam por nós. Agora, o pôr-do-sol
perdeu o seu colorido e as palmeiras a sua valsa vespertina. As perdizes pararam
de esgaravatar o solo, deixaram-se enlear pela mornes da terra e as garças
taciturnas evitam o horizonte. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Sabe por que o sonho acaba na melhor parte? Não?!
Porque o destino espera que você acorde para vida e realiza o teu sonho, pois
não serão os outros a fazerem-no por ti.</span><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> A única razão para
escrever-te é porque preciso falar, desabafar, libertar-se do fardo do silêncio
condoído, antes que este petardo exploda aqui no peito e pare o palpitar
inquieto do coração. Mas tenho medo! Mas como dizes muito bem no seu mural, se
não encontras solução para determinado problema, pode ser que você seja parte
dele. Desculpa se lhe vou incomodar, talvez encontre nesse gesto o pretexto
para continuar a seguir adiante a solo mesmo com os solavancos do caminho. Temo
melindra-lo com as minhas conjecturas, equívocos, conflitos e cobranças, quando
você barganha tempo ao sono e ao sossego familiar para dar conta dos imperativos
que os seus afazeres lhe impõe. Eu tenho medo de não me entenderes, porque o
passar dos anos talvez cristalizem o pensamento - estigmatizem o reiterar dos
dias comuns. Mas o medo é antigo. Desde pequeno que era proibido chorar ou
gritar à noite, pois dizia-se, sua voz podia ser levada pela alma de outro
mundo. E onde fica o outro mundo, ninguém sabia ao certo. Acreditava-se apenas.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Olhava enviusado, quando
a voz áspera do velho Quitumba Kiazumba gritava da sua casa cercada pela
floresta . Toda a aldeia estremecia e calava-se o choro de crianças rabugentas.
Ele era o medo, ninguém ousava desafia-lo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">– Está a ouvir o
tutú? Ninguém se ria do filósofo da aldeia, cujas tiradas ficaram na memória de
hoje: O mundo é feito de coisas que estão em permanente movimento, dizia com
sua voz de trovão… Ainda me lembre!... Certa vez, o filósofo foi ao Posto
Médico da roça de café, pois tinha febres e dores em todo corpo. Pediram-lhe
que trouxesse fezes e urina em dois frasquinhos para serem analisadas. Contrariado
recebeu os dois fraquinhos vazios antes usados para Penicilina. Caminhou
indeciso até a casa de banho. Tudo estava asseado, era a primeira vez que
entrava para uma casa de brancos. E ficou a olhar intrigado para a sanita e o
bidé. Os tamanhos eram diferentes. Um era alto, parecendo um pequeno pilão,
instrumento multiuso, que servia para triturar o milho, as folhas para fazer
kizaca, moer o feijão para o quitandé (Feijão descascado e posteriormente
pisado e cozido, Nkalé). É multiuso que até já vi pilão a caminho do
Kilamba!...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Velho Quitumba, depois
de vários minutos de indecisão, optou pelo bidé. Era mais largo. E cometeu a
maior desgraça. Os excrementos espalharam-se pelo chão e o cheiro inundou o
ambiente. Aflito abriu a porta e correu alucinado em direcção à aldeia. Jurou
jamais voltar. Ao verem-lhe chegar com o pânico estampado no rosto, justificou-se
dizendo que havia encontrado um corta-cabeças no caminho do hospital. Queria
chupar o seu sangue. E contava com todos os pormenores. Toda a aldeia
acreditou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Dias depois, a doença
imobilizou-lhe na cama. Aflito chamou pelo enfermeiro da aldeia que o
aconselhou procurar um médico. Ele recusou-se a voltar para o Posto Médico, optando
em ficar a dormir na sua cama de paus. Doente dorme, doença não! Certa noite,
chamado de urgência, o enfermeiro encontrou-o a gemer de febre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- Têm que analisar as
tuas fezes e a urina para ver se tens infecção de parasitose ou de bactérias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">-Bataria? – Disse
entre os dentes, enquanto gemia!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- Bactéria!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- Sukuama! Pessoa
também tem bataria!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O enfermeiro preferiu
o silêncio. Não adiantava insistir. Aplicou-lhe analgésicos para baixar a
febre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- Vais ao hospital e
lá, depois das análises, irás saber se o resultado é positivo ou negativo. Mas
trate de levar o produto. Se for positivo… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- Brututu?... E se
for pujitivo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- Se for positivo,
quer dizer que tens alguma infecção. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- Pujitivo, está
male?... - Uá-ué, nga fu, quer dizer que tem infenção na bataria?!!! – e ficou
ainda mais intrigado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mas forçado pela
enfermidade, dia seguinte, partiu cedinho em direcção ao Posto Médico, levando
no saco de pano dois recipientes. Ao chegar apresentou-os ao enfermeiro de
serviço. Questionado, disse que vinha da parte do enfermeiro Ferreira e que
tencionava fazer exames. E exibiu as duas garrafas de refrigerante Mission, uma
cheia de urina e outra de fezes. O enfermeiro deu um grito e o velho deixou
cair os vasilhames. A urina e as fezes espalharam-se na sala, afugentado os
doentes que aguardavam atendimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Envergonhado partiu e
jamais voltou ao hospital. Daí, sempre buscou a cura nas plantas do campo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">- O branco é
complicado! Faz as coisas só p’ra ele! Nós também podemos fazer o que é nosso. -
E foi assim que ele se tornou em quimbandeiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Me perdi. Desculpa,
amigo! Pois, dizia: Queria falar-te. Os anos estão a passar e a vida se esvai
no ritmo do tempo. Um temporal de ansiedades nos persegue e abate. Viu? É a
memória ainda povoada de estórias do mato e de pretos rotos que sobem as
palmeiras a correr. Bebem marufo e aguardente de milho e dormem felizes, despertando
tranquilos sob a sinfonia do chilrear de pássaros. Dizem que são matumbos porque
não são civilizados como os da cidade. Qual cidade? Perdi a fronteira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">SEXTA-FEIRA:</span></b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
Estou algures na estrada de Catete. Carros velozes sobem e descem. Quem estará
no seu interior?! Deve ter alguém com coração. Estico o braço em vão. Ninguém
olha p’ra mim. Boleia na carrinha Datsun, Bedford ou Peugeot foi com o colono. Caridade
emigrou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">SÁBADO:</span></b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
Ardinas vendem jornais aos condutores. Aumentaram o número de jornais, mas
nunca mais os li. Ando demasiado ocupado com o meu destino! Tenho 500 dólares
que retirei do bolso do casaco do quimbanda. Mas do jeito esfarrapado como me
apresento, ninguém vai acreditar nem em mim nem no meu dinheiro. Maluco não
pode ter dinheiro! Serei logo assaltado pelo vendedor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">DOMINGO:</span></b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
Cheguei, mas ninguém está em casa. Foram todos à igreja. Não tenho forças para
subir o muro. É preciso ter fé! Adormeço e espero, mas a mão está no bolso do
dinheiro. Suku, suku, suku!...<o:p></o:p></span></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-22189322916668546502013-04-06T06:30:00.000-07:002013-04-06T06:41:11.183-07:00Olho mágico<br />
<blockquote class="tr_bq">
<ul>
<li><span style="font-family: 'Comic Sans MS'; font-size: 16pt; line-height: 115%;">A algazarra conquistava a natureza. O sol sumia lá longe
deixando no rasto a ternura do adeus. Como no cais, as aves, depois de mais um
dia de luta pela vida, aconchegavam-se tranquilas nos ninhos. E celebravam alegres,
entoando a canção de enleio à vida. O quimbanda ébrio de tanta aguardente de
banana olhava perdido para o horizonte onde a brisa do ocaso brincava serena sobre
o verde da paisagem.</span></li>
</ul>
</blockquote>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">O homem recém-chegado, e que tinha a perna, dizia-se, inflamada
por uma tala maligna, com ais de dores contorcia-se, tendo estampado no rosto o
sofrimento em forma de uma máscara rústica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">A esposa desesperava-se na ânsia de encontrar a cura para a
enfermidade que deixara inesperadamente o seu homem sem a capacidade para se movimentar
por suas próprias pernas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">A assistência olhava em silêncio, esquecendo-se
momentaneamente da sua própria dor. Foi naquele instante que o telefone de um
dos ocupantes do Corolla despertou tendo como ton a música: “SÓ ME RESTA É
CHORAR, MAMÃE UÉ!…UÓUÓUÓ…” O homem atendou afastando-se do enxame onde
estivera. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Alô mano, estás onde? Localização…! – Na voz do interlocutor,
percebia-se nitidamente uma certa urgência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Estou a tratar daquele assunto da mana! Que se passa? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Durante o dia, andei a tentar várias vezes para
contactar-lhe, mas o teu telefone dava sempre fora de área de cobertura. Estavas
com telefone desligado?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Não, meu telefone esteve sempre ligado, deve ser a maca da
rede. Sabe, quando cai chuva ela traz sempre problemas na rede de
telecomunicações, na rede rodoviária, na rede ferroviária, na rede eléctrica,
na rede de abastecimento de água! Se chove, é porque choveu. Se não chove…!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Olha, tens de regressar com urgência! Hoje de manhã
encontramos um aviso pregado na porta do edifício a exigir o pagamento dos
meses atrasados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">-A tua cunhada não foi lá?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Olha, por outro lado, teu filho está com dengue.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- O Kandengue?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Sim! O Kandengue está com dengue!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">-Dengue é quê?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- É uma nova doença, irmã do paludismo! Paludismo vai contar
coma ajuda da irmã dengue…A cunhada está desesperada. Não sabe se vai ao
hospital ou ao Banco. A imobiliária ameaça inclusive despejar todos aqueles que
não o façam nos prazos solicitados, isto é dentro de quatro dias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Este aviso é de quando?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Tem data de 13 de Março, mas foi afixado no dia 23. Tens de
pagar os cinco meses de atraso, senão…! A mana, foi lá na imobiliária na
segunda-feira. No local encontrou dezenas de moradores abraços com a mesma
situação. Faltaram ao serviço para resolver o tal problema, mas até às 10 horas
não apareceu ninguém. O Hiace da empresa passava e repassava sem dizer nada.
Quando foram 11 horas, apareceram alguns funcionários… Você não vai acreditar
no que disseram!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Disseram o quê?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Apenas vieram para os informar que o local indicado no aviso
já não era aquele. E apontaram um outro lugar. E lá foram todos a correr para o
outro local. Postos lá, funcionária não tinha nem papel para escrever nem informações
para dar aos moradores, porque o chefe não estava. Aquilo é mesmo brincar com
os cidadãos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- No acto da assinatura dos contratos, cada arrendatário fez a
entrega do número da conta com o respectivo IBAN para que fossem descontados
mensalmente. A maioria não foi descontada. E tem mais! Outros pagaram ou devem
pagar renda de apartamentos que não são o que de facto ocupam. Por exemplo, há quem
more no nº 22 mas o recibo faz referência ao 24. Isso assim ainda vai dar
diculo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Mas isso não é possível!... O contrato foi assinado numa
altura que o meu apartamento custava 125 mil dólares. Como é renda resolúvel
devia paga 603 dólares por mês. Mês depois, o Executivo baixa os preço para 70
mil dólares. Não seria justo reverem o valor da renda?... Se não vamos pagar um
valor superior ao preço do apartamento… Eu até já queria pagar a totalidade do
valor do apartamento, mas a imobiliária exigiu requerimento para o efeito Fundo
de Fomento Habitacional. Fiz. Depois me disseram que era na Delta. Possa, na
casa de renda o sono não acaba mesmo!...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Então, é melhor vir. Porque se já começaram assim, com estas
ameaças, com estas arrogâncias, tudo pode acontecer. Com tanta gente aflita em
busca de casa para morar, as vezes é pretexto para vos retirar do apartamento. E
preparem-se, quando a factura da água e da energia eléctrica chegar, muita
gente vai arrumar a trouxas para o Zango 5… As gémeas de Luanda, a Edel e a
Epal o que fazem!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">O homem agitou-se. O telefone mudava de mão e de orelha várias
vezes. Ele estava inconformado. Cinquenta anos esperou ansioso por aquela
oportunidade: a de ter acesso a uma casa condigna num espaço com as melhores
condições de habitabilidade jamais vista desde que seu país se tornara
independente da potência colonizadora. Por isso fizera grande festa, quando
recebeu as chaves do apartamento. A espera foi angustiante. As noites mal
dormidas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Acompanhado da esposa e do funcionário da imobiliária, depois
de abrirem a porta, jogou-se e rolou na poeira que cobria o chão da sala.
Naqueles instantes, percorrera as léguas da vida. A sua vida humilde na aldeia
em que nascera e crescera. Os pés descalços no caminho da escola e a humilhação
da gente rica ao troçarem a sua bata furada pelo uso reiterado ou o seu lanche
que era quase sempre banana ou mandioca cozida com dendém ou ainda milho
torrado trazido numa garrafa com água. Mastigava com dor e raiva. Algumas vezes
chorou inconsolável a sua sorte. Inclusive já fizera queixa à professora, mas
esta não se manifestara solidária. - Rapaz, tu és pobre, o que esperas? – disse,
enquanto alisava descontraída a sua maquiagem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Naquele dia, ele voltou para casa e ao longo de todo o
percurso, continuou a repetir com lágrimas as palavras da professora: - Rapaz,
tu és pobre, o que esperas? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Informou ao seu pai do sucedido. O pai abraçou-lhe com carinho
e depois tirou 5 escudos da algibeira para que ele comprasse pão com ginguba no
recreio. E quando ia receber a moeda percebeu que seu pai também chorava. Nunca
mais se esqueceu daqueles dois momentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Cresceu repetindo as palavras da professora loira e a lembrar
as lágrimas do pai sobre o rosto engelhado. Quando os Capitães de Abril saíram à
rua de Lisboa, ele ficou feliz, pois ninguém mais depois de tudo lhe iria
voltar a humilhar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Lembrou-se da Lua-cheia, da Má-língua, do seu rio da infância
onde se banhava antes de ir à escola. Memória dos seus amigos e companheiros de
todas a horas. César, Prazeres, Pascoal, Fama…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Agora estava feliz. Não se importou com a poeira nem com os
chuveiros que haviam sido roubados no apartamento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Passados cinco meses eis que despertou do sonho. Ofegante, não
acreditava no que ouvia. Recebera o apartamento em Setembro e mudou-se. Foi o
primeiro morador a desembarcar com os seus parcos haveres. Seus móveis cansados
de tantos anos de espera por substituição, por isso fez a mudança à noite, por
volta das 20 horas, para evitar a bisbilhotice de gente disponível para comentar
a vida alheia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Pagara apenas o primeiro mês, depois a imobiliária, em
comunicado afixado na soleira da porta do edifício, pediu aos moradores que não
fizessem qualquer tipo de pagamento, aguardando por novas ordens. Aguardaram
por novas informações desde Outubro, Novembro, Dezembro. Janeiro, Fevereiro.
Eis que agora em Março chega o novo aviso em forma de ultimato. Um pedregulho
no vidro da esperança!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Desligou o telefone e chamou rapidamente pelos seus
companheiros. Wandalika também aproximou-se na ânsia de partir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">-Temos de bazar, me querem tirar o apartamento do Kilamba!...
Vamos, antes que não seja tarde!... Tu estás doente, vais ficar! – disse o condutor
dirigindo-se com rispidez ao Wandalika.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Os demais embarcaram e partiram apressados acelerando o
Corolla. Wandalika ficou estático entre a fumaça expelida pelo velho motor. E
teve dó.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Coitados! Se acreditam tanto no quimbanda, então, antes de
partirem, deviam pelo menos fazer um tratamento para ver se conseguiam acalmar
a imobiliária… Isso ainda vai-lhes render aborrecimentos. Mil desassossegos!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Suspirou e procurou um adobe de consolo para sentar-se
enquanto aguardava resignado pela sua sorte! E pela primeira vez, nos últimos
anos, voltou a sentir aquela saudade que diante do vazio, destroça qualquer
coração. Saudade da sua vida simples e despreocupada da aldeia. Da sua modesta casa
construída na colina e afagada pela sombra de frondosas mangueiras. Saudade do
milho torrado e do funge quipicula feito com óleo de palma e sal. E do sono
sossegado no colchão de palha ou na esteira. O acordar tranquilo sob a sinfonia
do canto de galos e pássaros! As cidades possuem tudo, mas não têm galos nem
galhos para poleiros dos mais variados pássaros da sua infância.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">- Ai Chorinho doce, de Adélia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;">Eu já tive e perdi/Uma casa,/Um jardim, uma soleira, uma porta/Um
caixão de janela com um perfil./Eu sabia uma modinha e não sei mais./Quando a
vida dá folga, pego a querer/A soleira/O portal/O jardim mais a casa/O caixão
de janela e aquele rosto de banda. Tudo impossível./Tudo de outro dono,/Tudo de
tempo e vento. Então me dá choro, horas e horas,/O coração amolecido como figo
em calda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-19360727799677259402013-02-05T01:10:00.000-08:002013-02-05T01:10:09.725-08:00Encontro com Salif Keita no deserto<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">No caleidoscópio, como nevoeiro que cobre as
manhãs do interior, Wandalika ainda trazia no semblante a inquietude e na
retina a imagem de crianças famintas, angariadas no interior da província da
Huila para o trabalho agrícola nas fazendas do Namibe. Na fusão, se sobrepõe o
retrato de adultos e adolescentes carregando água em baldes e bidons amarelos
na cidade do Kilamba, enquanto aí perto uma fila de camiões cisternas
abastecem-se do precioso líquido para comercialização. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Bidons, bacias e baldes são adereços obrigatórios,
que ganharam com justiça um lugar cativo em todos os apartamentos, daí a sua
justificada demanda no inflacionado mercado luandense. Estes utensílios de tão procurados
até entraram para a longa lista de pedidos de casamento, sentando-se à direita
do incontornável companheiro, o gerador. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Os seus sentidos confundem a realidade e a ficção.
Talvez seja da ansiedade! Talvez seja da sonolência. Talvez seja da fome.
Talvez seja da sede. Talvez seja do cansaço da espera incerta. A espera é como
as melancias, verdes por fora e sangrando por dentro. Talvez seja da demência. Talvez
seja dos solavancos e da poeira da obra da estrada da Penitenciária de Luanda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Apesar da conjugação do futuro imperfeito, ele
sentia-se aliviado. Pelo menos não ficaria preso como cogitara ao ser forçado a
iniciar uma odisseia ao lado de quatro desconhecidos. Estar preso é ser privado
da liberdade. É não puder ir onde se quer na hora que se quiser. E ele já
acumulara experiência de sobra desde a primeira vez que fora preso por brincar
com a Esperança. Dormiu no chão da cela, cobriu-se com papelões e a casa de
banho estava desprovida do lavatório e da sanita. No lugar da sanita, apenas
sobrara um buraco negro vigiado por dezenas de moscas. Usá-lo era preciso uma
dose de pontaria, para não falhar o alvo. O procedimento era: 1º - apoiar
correctamente os pés fixando-os no pavimento ao lado da abertura; 2º - regular
a altura, flexionando as pernas e seguidamente tranca-las com os antebraços atrás
dos joelhos. Era como se de uma corrediça da alça de mira se tratasse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">A refeição? Quando houvesse era arroz com chouriço
ou com frango. As poucas vezes em que melhor se alimentou, foi graças à
refeição trazida pela esposa de um presidiário que havia sido condenado por
homicídio. Era tempo de estiagem e a manutenção dos presos era uma tarefa
bastante difícil num contexto marcado pela escassez. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Wandalika partilhava a cela com o autor de um
crime hediondo. Pelo facto do seu crime não ser grave, podia muito bem aguardar
o julgamento em liberdade… Sim. E logo se lembra da estratégia gizada pelo
anterior ministro do Interior para o combate à superlotação das cadeias. As
pulseiras electrónicas seriam usadas pelos presos para o seu controlo à
distância. Por isso torce para que o projecto conste no Orçamento Geral do
Estado para 2013.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">A implementação do projecto das tornozeleiras
electrónicas iria reduzir o número de presos que entupem as prisões e pouparia
milhões de dólares canalizados para a construção de novas cadeias,
infra-estruturas de apoio, abastecimento com alimentação, água, energia
eléctrica, assistência médica e medicamentosa, bem como o pagamento de pessoal
de segurança. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">A criminalidade custa cara a qualquer Estado. </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A título
de exemplo, tendo em conta valores de 2011, a vigilância electrónica custa ao
Estado português 16,35 euros, enquanto o custo médio diário de um recluso é de
47,81 euros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Já no Brasil,</span><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">o custo com cada preso
é de pouco mais de 1.800,00 reais por mês, cerca de 900 dólares. Com o novo
sistema, o custo será de R$ 539,58 por mês (300 dólares aproximadamente).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Além da redução dos
recursos canalizados para a manutenção dos presidiários, a medida deverá trazer
também mais benefícios para o processo de reinserção social dos condenados, que
passam a ter convivência familiar e condições de estudar e trabalhar
normalmente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Por conta das reduções
dos números de detentos, aqueles que permaneceriam nos presídios, teriam maior
espaço e condições de maior sanidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Assim, combater-se-ia a
ociosidade que é outra inimiga do presidiário. Permanecer todos os dias fechado
numa jaula é coisa que mais os fragiliza comprometendo a sua reeducação. A
criação de hortas, carpintarias, oficinas de veículos e máquinas, fábrica de
blocos, escolas e bibliotecas era importante para que pudessem vencer o relógio
preguiçoso da prisão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Eram quase 13 horas.
Naquele momento, um peão procura atravessar a rua movimentada. Ao chegar no
meio da faixa de rodagem, ele vacila e recua correndo para o ponto de partida. No
trajecto quase foi colhido por uma motocicleta. Elas estão em todo lado e não
respeitam nada e ainda reclamam batendo arrogantes com o punho nas viaturas
quando os condutores destas não os deixam passar. E acham que têm sempre razão!
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">O Corolla, em que ia
Wandalika, teve de travar de repente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">- Olha o jornal! Olha o
Jornal! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Naquele instante, um
ardina aproximava-se com várias publicações. Wandalika esticou o pescoço para
espreitar as manchetes do único diário da República de Angola. Assustou-se… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Mas logo o carro
acelerou, deixando para trás o adolescente. E a alma reteve o susto. A figura que
aparecia na capa usava traje tradicional onde sobressaía o lenço feito túnica cobrindo
a cabeça. Quem será?... Será o presidente líbio </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Muammar Khadafi</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-weight: bold;">?... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Khadafi</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-weight: bold;"> não pode ser, pois este foi morto em 2011, depois de vários meses de
resistência contra os revoltosos vindos de Benghazi e sempre apoiados pela
OTAN. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-font-weight: bold;">- </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Em 20 de Outubro de 2011, foi formada uma coluna de
mais de 40 veículos que deveria, antes do amanhecer, fugir de<span class="apple-converted-space"> </span></span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Sirte" title="Sirte"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Sirte</span></a><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> em direcção à aldeia
de </span><a href="http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Jaref&action=edit&redlink=1" title="Jaref (página não existe)"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Jaref</span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">,
localizada a 20 quilómetros a oeste da cidade sitiada. Mas a coluna somente
partiu por volta das 8 horas da manhã e aviões da<span class="apple-converted-space"> </span></span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Otan" title="Otan"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">OTAN</span></a><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> </span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">rapidamente atingiram
um dos veículos da mesma. Um segundo ataque aéreo causou um maior número de
vítimas e atingiu o carro onde ele estava e, por isso, teve que tentar
continuar a fuga a pé, mas foi cercado, capturado e morto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Wandalika ainda se lembra
do antigo líder líbio com seu traje e a sua guarda percorrendo os corredores da
Sede da União Africana. Ainda ouve a sua voz entusiástica e vê os seus gestos frenéticos
no palanque da União Africana projectando os Estados Unidos da África. Ele queria
uma África livre e independente de facto, que fosse capaz de ser dona dos seus
próprios destinos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">- Na</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;"> véspera </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">de
uma das </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Cimeiras,</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">
</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">naltura na
qualidade de presidente da UA, o líder líbio Muammar Khadafi, concedeu uma
longa entrevista a agência PANA, manifestando o seu cepticismo quanto aos
resultados alcançados pela organização desde a sua criação. S</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">egundo ele, passados cerca de dez anos após a proclamação da UA
“e na sequência de um trabalho laborioso, os africanos rendem-se, infelizmente,
à evidência de que o continente continua longe de realizar o seu projecto de
uma África Unida.</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Kadhafi foi morto sem
conseguir atingir o seu sonho. E mesmo nos momentos mais derradeiros dos
combates em Trípoli, poucos ou raros irmãos africanos o ajudaram. </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"> C</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">omo
praga, </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">na sequência</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> da sua morte,
deflagraram ou se acirraram conflitos antes latentes em vários pontos do
continente: Costa do Marfim, Guiné Bissau, Mali, RDC e República Centro africana.
E o continente, 50 anos depois da proclamação da Unidade Africana, tem-se
mostrado incapaz de solucionar os seus próprios conflitos e carências, a ponto
de apelar para a presença de tropas francesas e de apoio logístico de outros
países da OTAN e dos EUA para fazer face à ameaça de desagregação do Mali.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">A conflitualidade que se regista na República do
Mali tem probabilidade de afectar países vizinhos. Basta observar a dimensão territorial
e a quantidade de países que o cercam. Argélia, (que ainda procura curar as
feridas deixadas pelo ataque terrorista contra as suas instalações petrolíferas),
o Níger, Burquina Faso, Cote D´Ivoire, Guiné Bissau, Guiné Conacry, Senegal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">As mesmas armas que
assassinaram o antigo líder líbio estão hoje apontadas contra os tuaregues, que
são tão africanos como ele. Que futuro?</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Como disse o europeu Henry Palmerston “Nós não
temos aliados<span class="apple-converted-space"> </span></span><a href="http://www.ronaud.com/"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">eternos</span></a><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;"> </span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">nem inimigos perpétuos.
Nossos interesses é que são eternos e perpétuos, e nosso dever está em
perseguir esses interesses.”</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;"> E os interesses
geoestratégicos das grandes potências vão vincar, pois o Mali é um país rico em
Ouro, Urânio, tendo também reservas de cobre, diamante, ferro, manganês,
fosfato, bauxita, zingo, lítio entre outros minerais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Afro-pessimistas,
afro-optimistas, pan-africanistas… Wandalika suspira com mágoa. E rumina no
silêncio as palavras do Presidente António Agostinho Neto: - «</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Hoje a África
é como um corpo inerte,
onde cada abutre vem debicar o seu pedaço». <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">E com a sonoridade da música “Yamore”, do cantor
maliano Salif Keita e Cesária Évora, os ocupantes do Corolla seguem em direcção
ao município do Cacuaco... Todos gargalham descontraídos. Só ele está triste,
introspectivo!... - Abutres sobre o corpo inerte!…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">“</span><span style="background: white; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">Não grita
seus anseios </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;"><br />
<span style="background: white;">no receio de perturbar um mundo</span><br />
<span style="background: white;">que o ofusca</span><br />
<span style="background: white;">com o falso brilho dos seus ouropéis.”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">E Wandalika chora suas lágrimas de indignação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt;">AI NETO!... <o:p></o:p></span></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-31735632967797429252013-01-11T13:44:00.002-08:002013-01-11T16:56:50.464-08:00Optimismo da Esperança<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Algures, o
Mundo espreguiçava-se no leito para o esforço de um novo dia e tão logo como
abelhas se lançarão de mangas arregaçadas ao labor em busca do pólen da vida,
suando na ânsia de se alcançar o sonho de felicidade. Esta felicidade dos
homens, que o modernista brasileiro Oswald de Andrade, considerou como sendo
uma felicidade carniceira, pois a última coisa que sobrava no cadáver era o
dente. A felicidade, todos nós queremos! E é por ela que se batem em renhidas
disputas indivíduos, povos e nações inteiras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Aqui
Wandalika, incrédulo, na esguelha das suas lembranças vespertinas, o raiar do
sol encaminhava-lhe para um novo destino. Murmúrios de vozes brotam do seio de
uma multidão espremida à saída do quintal de portão rudimentar para verem
passar o carro que o transportava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Em silêncio
e com o olhar ainda fortemente marcado pelas mazelas da surpresa, lá estava ele
ensardinhado entre dois varões. Um uá-ué desabrocha e perpassa a multidão
angustiada desfazendo-se em lágrimas. Mas ficam apenas no gemido resignado.
Condoíam-se com a sorte alheia, porém muito pouco ou nada tinham para
contrariar a torrente do destino. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Como ovelhas
submissas viviam suas vidas lineares sem grandes ambições, nem cobranças,
palmilhando os mesmos caminhos, encruzilhadas e prazeres da infância com os
mesmos pés descalços, que resmungavam aos espinhos e colisões contra as pedras
do trajecto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Era o
sentimento comum de gente simples, de bairros também simples, criados na
periferia das cidades, oscilando errante entre a modernidade e tradição. Aí a
notícia chegava calma, descia a encosta e perdurava além das 24 horas, num
cenário que o relógio tinha pouca serventia. Tinham o Rei-Sol como guia. Não
viviam apressados, aflitos, ofegantes, como se o Fim do Mundo estivesse a
poucas horas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Apesar do
vendaval urbano que sopra persistente despenteando o capim da floresta do vale,
eles ainda zelosos, cultivavam valores como a obediência, a humildade, a
honestidade e o amor ao próximo. A alegria repousava no partilhar com equidade
o pouco que se tinha e, assim, se diziam felizes, pelo menos compreendiam na
devida dimensão que riso à solo podia ser o limiar da demência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Na sua
lhaneza, os dias tinham todos o mesmo colorido do pôr-do-sol com seus lilases e
perfumes de flores silvestres, embriagando a tela da vida com a sua magia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Ao
anoitecer, depois do jantar, ao luar brincavam e cantavam e contavam as suas
estórias procurando costurar o sentido da vida. Não falavam do Patinho Feio
vindo da Europa. Para eles, esta estória dos brancos era triste. Pois como
aceitar que um patinho só por ter nascido feio fosse excluído do seio da sua
família sendo obrigado a refugiar-se. Eles não pensavam assim. Se fosse assim,
talvez as aldeias estivessem vazias, mas não. Cimentavam a harmonia e a
concórdia como ingredientes para a solidificação das suas comunidades. A
Estória do Patinho Feio é uma lição flagrante de exclusão, que não deve ser
apreendida pelas suas crianças, que desejam felizes e fortes na solidariedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Felicidade!...
Os anos iniciavam e terminavam, deixando atrás de si lembranças boas e más ou
rugas da longa espera por um dia de sonho. Mas tinham esperança. A tal
esperança que é a última que perece no confronto renhido pela sobrevivência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">A esperança
do náufrago por uma folha ou tronco ainda que minúsculo que flutue sobre as
águas tempestuosas do rio. A esperança do moribundo pelo milagre para reverter
o quadro clínico definido pelo médico como altamente reservado, quando os
gestos dos enfermeiros traduzem o vazio da espera vaga por algo que supere as suas
capacidades sempre limitadas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">- Nem sei se
acordará amanhã. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Mas, contra
todos os prognósticos e diagnósticos, dia seguinte, o paciente, não só continua
vivo, mar soergue-se trôpego da cama para ir ao banheiro e no seu regresso pede
água para humedecer a garganta e sopa para reabrir o caminho dos alimentos. A
esperança pela promessa ainda promessa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Esperança-fé.
Esperança, mola que impulsiona energias e vontades para se alcançar a meta. A
esperança pelo amor que nos faça depois do altar definitivamente livres-felizes
e remova do escaninho da memória as placas de lembranças e frustrações feitas
paradigma do reiterar dos anos. Para ele Wandalika, não havia desespero pois
este estava fixado no limite além espera. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">E lembra-se
da sua Esperança. E nesse instante, o seu rosto triste é iluminado por um morno
sorriso. A Esperança, alta, andar senhorial, era uma moça bonita nos seus 18
anos, exalando perfume de sua beleza e juventude nos caminhos da aldeia. Atrás
de si a cobiça fazia brotar da mente comentário miúdo de adultos envelhecidos
pelo passar dos cacimbos. Nos jogos de cabra-cega, garrafinha ou de
banana-verde era incansável, corria, driblava sem perder equilíbrio, feita
flecha atirada certeira para o alvo. Usava duas tranças na cabeça arredondada,
vulgo tranças bailundo. Nela, cabeça, corpo, olhos, lábios, nariz e voz. Tudo
era harmónica despertando suspiros de antropófagos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Wandalika,
descarregou num suspiro todo o seu desgosto. Lá estava ele olhando através da
janela do velho Corolla uma miscelânea de rostos de olhares terrosos, cabelos
multicolores e gestos e mímicas. Confuso, não acenou, deixou-se ficar quieto
entre os seus algozes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">E seguiram
viagem em direcção à Baixa de Luanda. O homem que ia ao lado do condutor olhava
frequentemente para trás, enquanto andava de um lado para o outro com o
sintonizador do rádio receptor. Os demais mascavam de forma ruidosa uma mistura
de raízes e folhas de Santamaria na ânsia de afugentar os maus espíritos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Durante
alguns instantes uma música suave invadiu os seus ouvidos, mas depois saltou
para uma outra rádio. Não demorou-se. Talvez pela baixa qualidade sonora e dos
seus programas. Era Para-Lamentar! Devia estar em quarentena durante algum
período até melhorar a qualidade da sua grelha. Logo o homem mudou de frequência
e, pela primeira vez, estavam de acordo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">RÁDIO3: Um
correspondente falava de camiões atolados na lama da estrada no Kuando Kubango.
As chuvas que se abateram no sul de Angola abriram ravinas e cortaram a
circulação rodoviária. Um grito aflito temendo a deterioração das mercadorias
do Natal. Tinham esperança…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">- RÁDIO4.
Falava da preparação dos Palancas para o CAN da África do Sul. A Esperança é
chegar o mais longe possível. Por que não às meias-finais? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">RÁDIO5-
Abordava aspectos relacionados com a economia do país. A agricultura, pecuária
e indústria, crédito à economia, agricultores do fim-de-semana. Irrigação!
Ordenamento do território. O Vector da economia! Que já devia ganhar prémio
nacional de jornalismo pelo contributo que tem dado para a reflexão sobre as
questões do desenvolvimento do país. A esperança é viúva, é última que morre!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">RADIO6- Tudo
está atoa no trânsito da grande metrópole. Inquilinos de bairros dormitórios
vêem-se aflitos para chegar ao centro da cidade. Essa é sua rotina. De manhã,
descem aturando longo engarrafamento e à tarde idem. O custo do engarrafamento
não entra nas estatísticas, mas é alto. Milhões de litros de combustíveis
consumidos num trajecto de 30 quilómetros. E o custos com o stress e suas
doenças derivadas? E a baixa produtividade? E o mau-humor? E os conflitos
domésticos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">RADIO7-
Diz-se de Escola, mas concebida para servir de laboratório para os alunos de
jornalismo, no viés do projecto, virou rádio comercial. Os cursos de rádio, Tv
e de jornalismo, que até tinham muita audiência e importância, jamais foram
leccionados. Cefojor é simples sigla na memória como Dinaprop, Econdipa, Empa,
Egrosbind, Egrosbal…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">RADIO8- Era
o de Línguas Nacionais. A língua é um instrumento importante para a preservação
da identidade de um povo, mas cada dia que passa o número de falantes cai
perigosamente para o vazio. A força da língua está no perfil dos falantes.
Língua apenas falada por velhos, pobres e analfabetos está moribunda. A
Faculdade ensina língua nacionais, mas quantos estudantes aprenderam
comunicar-se de facto. É só para passar de classe. Ainda que aprendessem, onde
iriam poder exercitar? Na Rua?... No serviço?… O preconceito ainda reina.
Nenhuma telenovela Nacional tem um personagem que se exprima em língua
nacional. Só na Radionovela Camatondo! Que valores nacionais se quer preservar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Naquele
momento, o carro que transportava Wandalika atinge finalmente a Maria Pia.
Pensou que o internariam, mas não. Ficou triste, pois pelo menos terminaria a
incerteza, o suspense. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Desceram a
Avenida 1º Congresso, admirou as novas construções com vidros reluzentes e os
vários guindaste q eu se disseminavam
pela baixa luandense e arredores. E ficou feliz. Depois, ao passar no Cine
Nacional, lembrou-se dos velhos tempos. Henrik Ibsen era a sua paixão. E jamais
se esqueceu da peça “Um inimigo do povo”. Lembra-se que depois de ter sido
escolhida pelo seu Grupo, ela não foi encenada por falta de actores à altura do
texto dramático. Teatro tem de contar com bons actores. Mede-se a cultura de um
povo pelo seu teatro, dizia Garcia Lorca. E ele sorri. Olharam-no, assustados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">Atingem a
Marginal e rapidamente chegam ao Porto, encaminhando-se para o bairro Boa
Vista. Poeiras mil! Havia um grande engarrafamento. A estrada que sai de um dos
portos comerciais mais importantes do Continente africano, que movimenta
milhões de dólares em mercadorias por dia, está altamente degradada. Camiões
com contentores circulam com dificuldade e os acidentes fazem rotina. As
construções desceram o morro e invadiram a antiga estrada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">- Chefe, vão
me levar pra onde?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">- Você não é
pessoa, não tem direito à palavra!... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">- Eu então
não fiz nada! Estão a me levar na penitenciária por que?... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt;">- Cala essa
boca, Kazumbi!... Vou te levar na igreja<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">- Pai, não me faz isso, faz
favor. Vão me matar!...</span>Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-49635596281086241992012-12-13T01:11:00.003-08:002012-12-13T01:11:53.627-08:00Regresso de Pessoa<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Há
mais de uma semana que ele desaparecera. Em sua casa, uma multidão de
familiares e amigos aguardava ansiosa por notícias sobre o seu paradeiro. A
esposa, sentada na esteira da viuvez, cansava-se em contar e recontar as
circunstâncias que envolveram o seu desaparecimento. Pai, já se foi em tudo que
é morgue nesta cidade, mas até agora nada! Já fomos no Ecos & Factos, da
TPA… O mano não viu ontem a foto dele?… Passou na Televisão, até as famílias da
província telefonaram a perguntar… Hummm, azar procura o dono!... Pai, azar não
custa que custa é casar! E com gesto pesaroso se erguiam, suspirando as suas
angústias e sofrimentos. Coragem!!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Ao
se verem livres, afastados do quarto, lá fora reuniam seus parceiros para o
jogo de cartas, enquanto outros procuravam trocar impressões sobre a vida
quotidiana nos seus bairros e aldeias. Os das aldeias, falavam da chuva que
caia e da germinação das sementes no campo. O verde da paisagem do milheiral
que se estendia para além do horizonte. Contabilizavam os custos com a mão-de-obra,
o aluguer do tractor na empresa de mecanização agrícola, o transporte e os inseticidas
usados no combate aos insectos nocivos à plantação, antevendo as margens de
lucros. E todos eram unânimes: Os agricultores trabalhavam dia e noite para
aumentar a produção de milho, hortícolas, feijão, mandioca, batata e tantos
outros produtos do campo, mas no fim quem mais ganhava são os comerciantes. Por
isso, vêem-se mais gente a comercializar do que a produzir no campo. E o campo
começa a se tornar pouco atractivo. Por isso é que as pessoas estão a fugir. O
trabalho do campo é muito duro, é preciso ter muita força de vontade para
aguentar. O ano inteiro não há feriado. Tudo começa com a preparação do campo para
a sementeira: a capina, a recolha e queima do capim, a sementeira, a luta
contra as aves e os macacos colocando espantalhos em toda lavra ou marcando
presença diária, gritando e batendo o tambor. A sacha, a luta contra os javalis,
veados e elefantes que procuram folhas tenrinhas para saborear e matar a fome. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">A
conjugação de exclamações e interjeições procuravam exprimir a dimensão do
estrago que cada interveniente provocaria à plantação: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Eh,
pai! Veado quando encontra milho ou campo de kizaca, aquilo é comer ou quê?!!! Ele
come para uma semana! Até se esquece que o milho tem dono. Quem se esquece no
que é alheio, não valoriza a segurança da sua própria vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">O
velho de chapéu de cowboy e de olhar distante, com uma mão segurando o cajado e
outra sobre a cobertura, ergueu-se da cadeira de plástico, vulgo espera
condições, ao referir-se aos elefantes que com frequência devastavam a sua plantação
no Bié. Eu nunca vi tantos elefantes!… Mas estes bichos andavam aonde? Dizem
que tinham fugido para os países vizinhos por causa da guerra que ameaçava as
suas vidas. Depois que a paz foi alcançada, eles decidiram regressar para as
suas terras. O seu regresso tem gerado muitos conflitos, sobretudo com os
homens que, alguns deles, construíram aldeias e lavras nas suas áreas de pasto.
O elefante tem memória tipo gente, sempre regressa à sua aldeia de origem. Até
aqueles que haviam fugido estão a regressar e a exigir o que era deles. Nova
cooperação! Estamos mal!... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">O
pai acha que as pessoas que vivem hoje aqui em Luanda um dia voltarão às suas
aldeias? Perguntou o Pastor Zagueu, da Igreja Justiça Divina!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Todos
entreolharam-se e alguém sorriu com desdém antes de comentar: Hehehehe
regressar ao campo, nem pensar! A vida no campo é muito dura, difícil. Você no
campo, depois de muito trabalho, vende um cacho de banana a 100 kwanzas. O
comerciante que vem da cidade bota o cacho na carrinha e chega no mercado do
Catintom, em Luanda, revende-o a 1000. Mesmo que o frete seja alto, ele acaba
lucrando mais do que o próprio agricultor. O homem do campo continua com muitas
dificuldades e a viver com a camisa e as calças rasgadas, enquanto outros
enriquecem à sua custa. É mais fácil vender jinguba no muro do quintal ou em
qualquer esquina das cidades do que trabalhar a terra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">E
todos corroboraram. Quem partiu para a grande cidade dificilmente regressa. Por
isso as aldeias estão a ficar vazias de braços e de força jovem para o seu
desenvolvimento. Em muitas delas hoje apenas encontras velhos e velhas,
esperando o dia da partida. Muitos deles já têm as suas trouxas arrumadas! Cada
ano que passa a extensão da plantação diminui. Os velhos estão cansados e o
corpo enfraquecido. Contrariamente ao que muitos pensavam, o fim da guerra não
incentivou o regresso, mas o êxodo rural. Basta ver que muitos dos bairros que
existem hoje, surgiram na era pós conflito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Aliás,
muitas das construções anárquicas nasceram nessa época. Como é que se aceita
que um indivíduo construa uma casa naquela ribanceira do Morro da luz? Mas
aquilo é perigoso! Não há Polícia para evitar aquela buandja, aquela anarquia? Pai,
eles constroem à noite. Mas a polícia não dorme. Como dizia o outro: O inimigo
madruga, nós não dormimos. Isso é buandja!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Olha,
no tempo colonial nós nem caporroto podíamos fazer. Se te apanhassem destruíam
tudo e eras levado para a esquadra donde sairias com as mãos e o matacos
inflamados. Aquilo era purrada! Qual Direitos Humanos!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Hoje
nas ruas das cidades e nos becos dos bairros, você encontra gente a beber
álcool logo de manhã. E tranquilamente! Os outros estão a ir trabalhar ele já está
a beber!... Olha, eles bebem também mata
macaco! Mata Macaco? Sim, vocês não conhecem uma bebida que mata macaco? Não?!!!
O mais velho pode então nos explicar! Olha, a tal bebida vem numas garrafas
pequenas e no rótulo traz uns números. Cada garrafa traz o seu número…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">A
gente compra as tais garrafinhas na cidade, quando chegar na lavra, colocamos
numa tijela. O macaco ao ver o recipiente, desce das árvores e começa a beber.
Todo o bando desce para beber. Invadem a bebida. Até eles esquecem o milho! Chega
uma altura que eles lutam por causa da bebida! Aquilo vira confusão! Depois de
veres que eles já se embutiram da bebida, então você aparece. Olha, quando te
verem a chegar, eles partem em correrias, subindo nas árvores… Pai, quando você
gritar, eles com medo começam a pular de ramo em ramo. Como estão bêbados, eles
não conseguem medir a distância entre um ramo e outro. Resultado, se atiram no
abismo, morrendo ao se espatifarem no chão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">E todos sorriram. Não
riem! Agora vocês estão a ver por que razão tem hoje muitos acidentes nas
nossas estradas?… Bebida, muita bebida! As pessoas quando bebem não calculam as
consequências dos seus actos. Quando pegam o volante pensam que não morrem
mais. E muitos casos de sida é consequência do álcool, porque quando você bebe,
perde o medo e a noção do risco. Depois diz que é feitiço!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Olha, o Governo devia reduzir o
comércio de álcool. Daqui para o Sumbe, Benguela, Huambo, Malanje, Uíge.. Ao longo da via você encontra bebida. Os
acidentes estão directamente ligados ao consumo de bebidas alcoólicas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Naquele
momento, aproxima-se um homem vestido de calça social e uma garrafa de
aguardente na mão. Usava um chapéu de palha. Eram 20 horas. Olharam-no
assustados. Uaué, pai, kazumbi do Wandalika voltou! E todas a pessoas puseram-se
a correr. Na aflição, deixaram para trás as esteiras, os panos e os bancos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Era
uma algazarra! Uaué, kazumbi do Wandalika voltou!...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">E
calmamente, Wandalika subiu num banco, ergueu os braços e na sua voz rouca
começou a declamar Fernando Pessoa! Os seus gestos foram projectados pela Lua
Cheia sobre a parede de blocos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">“A
Europa jaz, posta nos cotovelos:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">De
Oriente a Ocidente jaz, fitando,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">E
toldam-lhe românticos cabelos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Olhos
gregos, lembrando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">O
cotovelo esquerdo é recuado;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">O
direito é em ângulo disposto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Aquele
diz Itália onde é pousado;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Este
diz Inglaterra onde, afastado,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">A
mão sustenta, em que se apoia o rosto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">Fita,
com olhar sphyngico e fatal,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">O
Ocidente, futuro do passado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">O
rosto com que fita é Portugal.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14.0pt;">E
naquela noite, Wandalika ficou só na casa vazia. Até os cachorros recusaram-se a
entrar para o quintal, optando por uivar errantes pelo bairro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-31834656634262952672012-10-24T03:25:00.000-07:002012-10-26T01:30:06.755-07:00Martelo ou bigorna<span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"></span><br />
<div class="ecxyiv2074628881MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh75SYzlqFETf9x9hRrUmfyK_Al9VND8NGZYFtskz-W7TMeNzkw9qrEG1JVknE9SoxFWLoMmoOOoVH_uCsmNVmd6C9IAOyBaHe2lPGFE67O46rpaLsq1PD7jChmplX4BmNCjJa-sB5-B2o/s1600/NOVO+LIVRO+001.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh75SYzlqFETf9x9hRrUmfyK_Al9VND8NGZYFtskz-W7TMeNzkw9qrEG1JVknE9SoxFWLoMmoOOoVH_uCsmNVmd6C9IAOyBaHe2lPGFE67O46rpaLsq1PD7jChmplX4BmNCjJa-sB5-B2o/s400/NOVO+LIVRO+001.jpg" width="275" /></a><span style="font-size: x-small;"><span lang="PT" style="font-family: "Arial", "sans-serif"; line-height: 150%;">Às 7 horas e 30 minutos cruzou com um estudante, meia altura e uma sacola artesanal à tiracolo. Caminhava tranquilo. Ao cruzarem no corredor, cumprimentou-o. Você é da onde? Sou de África, o Continente Berço. Sabia que você era gringo! HEHEHEH Você é do continente onde se dorme muito, né cara? ehehehehe Como assim? Uai, berço não é para bebé dormir?! Não tem nada a ver! Viste o jogo da Nigéria? Perdeu por infantilismo. Vocês são muito emocionados e a emoção é coisa de criança! Hehehehehe… Falando sério. A África é um berço em permanente convulsão. Aquilo é um caos federal, percebe? Já viste o formato, parece uma pistola, cujo gatilho está no Golfo da Guiné, o cão na Somália! A mira está em Moçambique e o cano na África do Sul. Heheheh! Wandalika olhou-o desconfiado… Será mercenário! O célebre francês Bob Denard tinha varias ramificações no mundo, até na América Latina! Amigo, na África não há um único país que possa ser apontado como exemplo de desenvolvimento e de boa governação. A África do Sul! Ok! Talvez seja o único e porque andou lá a mão de ferro. Vais ver o que vai acontecer dentro de alguns anos! Tirando a terra de Mandela, cara, o resto é paisagem, é leões, antílopes e macacos correndo na paisagem! Hehehehe… Não se esquece que a escravatura e o tráfico de escravos afectaram profundamente os africanos. Fomos nós quem construiu a felicidade das Américas, sobretudo no Brasil! Isso teve reflexo no desenvolvimento do continente Negro. Quê isso cara?! Os vossos reis é que eram ambiciosos, pois trocavam os seus filhos com produtos da indústria europeia: pedaços de espelho, cachaça! Foi tudo ambição! Ao invés de se unirem estavam vidrados no negócio. É lógico, os europeus não são bobos, aproveitaram! Aproveitaram roubar a nossa riqueza! Cara, deu moleza, apanha! Na vida ou se é martelo ou bigorna. ................................................</span></span><br />
<span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"></span><br />
<span style="font-family: Arial; font-size: x-small;">Extrato do livro "Aventura de um estudante Angolano no estrangeiro" apresentado pela Editora Mayamba em Agosto de 2012 em Luanda. </span></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-86401014297044589282012-10-18T15:36:00.000-07:002012-10-18T15:36:09.194-07:00PONTEIRO NO VERMELHO
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></b></div>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">ESTAMOS
NA CIDADE DE JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, BRASIL, 1995</span></b><span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">. </span><span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Nossa Senhora Aparecida era um bairro de
gente simples entre as quais muitos brancos, negros e mestiços. Funcionários,
operários de construção civil, vendedores e empregados. Algumas ruas eram
asfaltadas e outras calçadas de pedra. A casa onde moravam ficava no término
dos autocarros daquela linha. A cerca de 20 metros havia duas cantinas e um
orelhão (Telefone público). Nossa Senhora Aparecida fazia fronteira com os
bairros Santa Rita, Santa Cândida e Nossa Senhora de Lourdes. Era muita Santa à
sua volta.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">No anexo com o Cativa, também vivia um
capitão da Força Aérea chamado Maurício. Um luandense do Bairro Rangel. Mais
tarde, vieram a saber que ele era apenas tenente. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Estamos zerados, dizia o Cativa. Estamos
zebrados! E sorriam,sorriam... Na primeira semana, Wandalika pegou, a título de
empréstimo, em 100 dólares e deu-os a cada um deles. A alegria havia retornado.
Dois dias depois, voltaram a pedir mais 100 dólares. Acedeu desconfiado. Semana
seguinte, pediram mais 100 dólares. Recusou. Deu-lhes apenas 50. Entretanto, os
gastos eram compreensíveis, pois os seus companheiros tentavam atenuar a dívida
do aluguer, melhorar a dieta alimentar, comprar roupa e diminuir o cansaço
andando de autocarro<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8104590784339032032#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[2]</span></span></span></span></a>.
Do frango haviam passado para carne, sobretudo de fígado de vaca. Voltaram a
gargalhar ao lembrar os esqueletos de frango.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Mas no mealheiro, o nível de segurança
baixava. Em menos de um mês Wandalika estava apenas com 300 dólares. O ponteiro
estava no vermelho. Para quem não sabia quando receber o reforço de verba, a
situação era realmente aflitiva.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Como o quadro degradava-se a cada dia,
decidiu manter um encontro com os companheiros de caserna para a revisão da situação:
Camaradas! Nós somos militares e temos que buscar soluções. Mas que soluções?
Somos comandos desembarcados na profundidade do inimigo. A nossa missão é de
alto risco. Não temos como receber apoio da rectaguarda, devemos contar com os
nossos próprios meios e capacidade de sobrevivência. Temos de aprender a
pescar!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">O Cativa acendeu um cigarro com
indisfarçável insatisfação pelo diálogo que para si até aí era incompreensível.
Wandalika esperou alguns segundos até a conclusão da primeira baforada e prosseguiu
com maior acutilância: como vos disse, a guerra em Angola não deixa espaço para
vislumbrarmos um futuro de paz dentro de pouco tempo. As tropas do Governo
desdobram-se no terreno para rechaçar o inimigo, mas a situação vai ainda durar
algum tempo. Sabem que o inimigo está bem municiado! Caxito, Catete, são zonas
de guerra! Não temos como receber o dinheiro da bolsa dentro de pouco tempo.
Temos de resistir. E o Primeiro-ministro Marcolino Moco?... Todo o esforço vai
ser canalizado para a guerra. Esta é a verdade.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">A impaciência dos interlocutores
empurrou-o precipitadamente para a parte principal do plano. Vamos procurar uma
igreja! O falso capitão sorriu numa alta gargalhada, levantou-se, abriu a porta
e saiu, fechando-a atrás de si com alguma violência. A porta fechou-se e no
caminho que os unia apareceram pedras que cresceram e chegaram a pedregulhos
como as que existem no rio Mazungue. Para ele, Wandalika era um doido, um puro
exibicionista! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Quem olha em várias direcções não
avança! Por isso concentrou o fogo em Cativa. Queria convencê-lo. Fica calmo,
nós vamos conseguir manobrar. Os chineses dizem que a arte da guerra é a arte
da manobra. Vamos à igreja! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">O seu companheiro Cativa manifestava-se
relutante, argumentando que era católico desde os tempos de criança no
município do Bailundo e não protestante. E ele contra-atacava. Quando a vida
está em perigo, as soluções devem ter em conta, primeiro, a sobrevivência. Lá
vais seguir todos os movimentos de levantar, fechar os olhos, assentar e
ajoelhar. Fica calmo! Mas porquê que você não quer ir na Católica? Até fui
baptizado pela Católica, mas ainda era criancinha, apenas tinha dois anos.
Então, vamos lá! Nem pensar! A última vez que pus os meus pés numa Igreja
Católica foi em 1993. Nem imaginas! O quê? Fomos corridos pelo padre!... Hum,
fizeram o quê! Sabes que depois de 1975, após a proclamação da independência
quase todos os jovens aderiram ao ateísmo científico. Aliás, era condição para
ser-se militante do MPLA, mais tarde transformado em Partido do Trabalho. Todos
queriam ser marxistas e leninistas! Depois do Muro de Berlim ruir em 9 de
Novembro de 1989, criando um mundo unipolar… O sol se pôs e órfãos da Guerra
Fria tacteavam nas trevas, buscando a luz! Então em 1993, familiares de um
militar falecido queriam que se celebrasse uma missa em sua memória na Igreja
Sagrada Família. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;">A plateia era composta maioritariamente
por militares garbosamente fardados exibindo braços musculosos. São dos
debraços e cangurus<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8104590784339032032#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[3]</span></span></span></span></a>! Quando começou a missa
foi uma desgraça! O diabo desceu? Não, nenhum deles sabia rezar o Pai-Nosso e
nem Ave-Maria. Nem ninguém sabia cantar as canções. </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">O Padre sentiu-se solitário diante do cadáver
desconhecido. E enfurecido começou a amaldiçoar os presentes: o que é que
vieram fazer aqui? São vocês que quando vivos não se preocupam em ir à igreja e
fazem-no apenas na hora da morte. Vocês são oportunistas. A Igreja não é loja,
onde se compra a fé. De nada adianta pedir a Deus que receba a alma de alguém
que em vida foi carrasco do Senhor. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Sem terminar a
missa, pegamos no caixão e saímos apressados. O padre tinha razão. As pessoas
só procuram a igreja quando têm problemas. Quando estão encravados. Eu não vou
mudar de igreja agora. Epá Cativa, então vai me fazer companhia para eu não ir
sozinho. Vou pensar no teu caso!... <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Agora mais
calmo. É preciso ter fé, amigo! A fé move montanhas. Como assim? Olha, quando
estava internado no Hospital Militar depois de ter accionado uma mina durante
uma emboscada no Lucusse… Quando?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na
altura da ofensiva de Mavinga em 1989. Pensei! Pensaste o quê? Pensei que fosse
em Cangamba? Ah, ya durante a guerra de Cangamba eu ainda estava na Academia
Inter-Armas… Yá, conheci um capitão que havia fracturado a coluna num acidente.
Era domingo e caíram com o camião de marca Ural num precipício na Serra da
Leba. Possa, aquilo é perigoso!<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele
estava internado há mais de um ano e não saía da cama. Estava todo magro e as
costas cheias de chagas. Todas as necessidades fisiológicas fazia-as na cama.
Chorava todas as noites ao pensar na mulher e nos filhos que ele já não via há
bastante tempo… É triste! Olha, ele chorava mais nos dias de visita. Tem razão!
Quando estás internado ou preso e não recebes visita, ficas maluco. Família faz
falta! E o que é que aconteceu com o capitão? Ok. Certo dia, ele chamou-me todo
radiante. Wandalika! Wandalika vem só ver! Peguei na muleta canadiana e fui. E
ele dizia todo feliz, eu ainda vou andar! Estás a ver o meu dedo do pé?... Yá!...
Está a mexer! Aproximei-me<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>até a um
palmo do referido pé, mas não via nada se mexendo. E ele? Ele insistia, estás
ver, chefe? Qual era a sua patente? 2º tenente. E ele te chamava chefe? Epá… E
depois? Yá! Olhei-lhe nos olhos e comecei a pular de alegria. O capitão
Kupessala vai andar! … vai andar!... vai andar! E ele ficou ainda mais feliz.
Nunca o tinha visto tão alegre!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Quando se tem fé
as coisas acontecem. E o capitão voltou a andar? Não sei, porque eu tive de
sair, deixei a cama para doentes mais graves, sobretudo os que chegavam da
frente de combate. E não eram poucos! O que me substituiu era um jovem tenente,
que tinha o corpo cheio de queimaduras! Será que o camião Gaz 66 em que seguia
pegou fogo? Não! Disse que durante o avanço em direcção a Mavinga um obus
anti-tanque passou bem perto dele e a farda pegou fogo. Possa, teve sorte!
Aquela brincadeira é bem quente e é capaz de derreter um tanque, já
imaginaste?!... Nem sei se ele sobreviveu! A vida militar é dura! Yá. Só o
patriotismo obriga a tamanhos sacrifícios.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0in -0.05pt 0pt 0in; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Olha, falando
nisso. Certo dia chegou uma ambulância que trouxe muitos feridos. Vinham da
frente. Um artilheiro estava a sangrar dos ouvidos. O sangue jorrava como se
fosse de hemorragia provocada por uma bala. Segundo informações,foi preciso
retirá-lo da peça à força, pois a Unidade já estava a retirar-se, mas ele e o
municiador continuavam a disparar e no meio daquela poeira. Eles não viam, nem
ouviam mais nada. Apenas resistiam!. À volta da peça viam-se corpos de
companheiros tombados. Um ferido pedia para os camaradas o liquidarem. Não
queria ser capturado. O outro estava com as duas pernas fracturadas, mas pediu
munições e granadas para se defender. E suspiraram quase juntos. Angola tens
heróis de verdade. Homens corajosos e valentes. Eles merecem o nosso respeito!
O reconhecimento de toda a Nação! Tem o túmulo dos soldados desconhecidos. Yá,
nunca entendi bem isso. Como soldado desconhecido, não tinham nome? Epá, é
universal!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0in 0in 0pt;">
<span lang="PT"><o:p><span style="font-family: Garamond;"> </span></o:p></span></div>
<br />
<div style="mso-element: footnote-list;">
<br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0in 0in 0pt;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8104590784339032032#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[1]</span></span></span></span></span></a><span lang="PT"><span style="font-family: Garamond; font-size: x-small;"> Texto
extraído do seu livro com o titulo “Aventura de um estudante angolano no
estrangeiro”</span></span></div>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0in 0in 0pt;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8104590784339032032#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[2]</span></span></span></span></span></a><span lang="PT"><span style="font-family: Garamond; font-size: x-small;">
Ônibus, para os brasileiros e camioneta, para os portugueses</span></span></div>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0in 0in 0pt;">
<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8104590784339032032#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">[3]</span></span></span></span></span></a><span lang="PT"><span style="font-family: Garamond; font-size: x-small;"> Tipo
de exercício que imitava o movimento dos cangurus</span></span></div>
</div>
</div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-84004794662314232352012-09-17T02:56:00.000-07:002012-10-18T15:42:16.345-07:00Palavras do autor na apresentação da Obra<span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt;"> </span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Excelências
membros da Direcção do Departamento de Sociologia da Faculdades de Ciências
Sociais!<o:p></o:p></span><br />
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt;">
</span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Prezados
membros do corpo Docente!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt;">
</span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Prezado
Editor da Mayamba, Dr. Arlindo Isabel!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt;"> </span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Estimados
estudantes!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Queridos
amigos!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Minhas
senhoras e meus senhores!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 0pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Depois de mais de dois anos
de várias tentativas, finalmente tenho a alegria de lançar </span><span style="font-family: 'Comic Sans MS'; font-size: 13px;">em Angola, a </span><span style="font-family: 'Comic Sans MS'; font-size: 10pt; text-indent: 35.45pt;"> obra </span><span style="font-family: 'Comic Sans MS'; font-size: 13px; text-indent: 35.45pt;">“AVENTURA DE UM ESTUDANTE ANGOLANO NO ESTRANGEIRO. Crónicas de uma viagem ao desconhecido”.</span><span style="font-family: 'Comic Sans MS'; font-size: 10pt; text-indent: 35.45pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Como estamos entre
sociólogos, creio que para melhor entender a obra do autor, nada melhor que
fazer uma incursão, ainda que breve, ao seu mundo, à sua origem e ao conjunto
de eventos históricos que marcaram a sua vida. Ou seja, rever o universo de ícones
e símbolos que povoam o seu subconsciente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Chamo-me Augusto Alfredo
Lourenço, tenho 49 anos de idade, e sou natural da localidade do Pange,
município do Amboim, província do Kwanza Sul. Meu pai é Alfredo Lourenço,
carpinteiro, agricultor, caçador e mais tarde motorista da ETP. Recorde-se que
meu pai apenas sabia assinar o nome, mas depois que a caça se tornou
impraticável, e porque no mato havia outros caçadores que caçavam homens, ele
decidiu ser motorista. Como um homem analfabeto conseguiu obter cartas de
Condução? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Como os meus irmãos já
haviam partido para a guerra, foi a mim que coube a tarefa de ler para si os
textos do código de estrada e de mecânica. No fim de meses ele decorou-os do
princípio ao fim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Minha mãe chamava-se
Conceição Francisco Durí, doméstica. Ambos são naturais da localidade da
Gangula, Novo Redondo, hoje Sumbe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">O Pange, meu berço, é um
bairro cercado por um cordão de montanhas de pedra e coberto do verde das
palmeiras e das mulembeiras. O Mazungue dá ao cenário o toque de sua magia, que
só os rios conseguem transmitir à paisagem verde. Foi nesse ambiente bonançoso
que me fiz homem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Nasci e cresci nas
cercanias das fazendas cafeícolas do Mário & Cunha, CADA-Boa Entrada e
Marques & Seixas e cedo vi os contratados a trabalhar com as suas catanas e
enxadas. Cedo também vi os capatazes a gritarem e a chicotearem os
trabalhadores da fazenda. Cedo acompanhei as canções de trabalho dos
contratados, que como bálsamo procuravam atenuar a dor da violência. Na minha
visão, deste lado, na aldeia, estava a liberdade, e do outro lado, na fazenda,
a opressão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Um dia perguntei ao meu
pai por que razão os contratados sofriam tanto, mas não conseguiam reagir e
apenas cantavam. Meu pai disse que no cantar estava a sua resistência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Então fiquei mais
curioso. Fiquei mais atento. E hoje ainda me lembro das canções que eles mais
cantavam. “KAPALANDADA WA LILA…”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Rezava todos as noites, até
que certo dia, ao voltar da escola encontrei dois homens que haviam fugido da
fazenda Mário & Cunha. Disseram que, após vários anos ao serviço dos
colonos, não suportavam mais a dor do sofrimento e da humilhação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Meu pai recebeu-os e
passaram a morar lá em casa. Eu fiquei feliz, porque agora tinha ganho dois
novos amigos e todas as noites ouvia deles estórias de terras longínquas do
planalto Central.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Maurício Ernesto Kaesse e
Tchiwangula tornaram-se nos meus melhores amigos. Íamos às lavras e almoçávamos
juntos e ao regressar tomávamos banho no rio Mazungue, livrando-nos da poeira e
do cansaço da lavoura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Após 25 de Abril,
festejamos juntos o fim do regime facista de Salazar e Caetano e igualmente
juntos acompanhamos o hastear da nova bandeira da Angola Independente. Nunca os
tinha visto tão felizes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Construíram as suas casas
ao lado da nossa, casaram-se e permaneceram até a década de 90, quando já
velhinhos acabaram por morrer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Nessa altura, eu já lá
não estava, pois havia ingressado na FAPLA. Mesmo longe da minha aldeia, eu
ainda ouvia as suas estórias e as canções de contratados que trabalhavam no cafezal.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Conheço a dor e o
sofrimento. O amor que anima o compasso da vida. A esperança e a fé no amanhã.
É tudo isso que nos move todas as manhãs ao acordar para mais um dia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">E mesmo no quartel, nos
momentos mais difíceis em que a pátria se viu ameaçada, procuramos forças no
sentimento sublime que nos unia e identificava como filhos da mesma pátria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Ao escrever esse livro, moveu-nos
um único sentimento: o de partilhar com generosidade vivências e experiências
acumuladas durante os quatro anos do curso no Brasil. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">A literatura, com disse
Roland Barthes na sua aula inaugural realizada no colégio de Paris, é o único
espaço onde é possível agir com liberdade. Pois, nem na linguagem tal era
possível já que esta é fascista, não pelo que ela dizia, mas pelo que ela
obrigava a dizer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">A criação literária é uma
forma de exercício da liberdade, basta ver que o impulso para o acto criador é
inusitado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Senão vejamos: a 3 de
Maio de 1988, na noite em que acabava de imprimir o trabalho de fim do curso de
graduação em Comunicação Social, recebi a notícia da morte por atropelamento da
minha primogénita Edna. Estava na sala de aulas, quando a informação sobre a
desgraça chegou. Apenas três meses depois consegui angariar dinheiro para poder
viajar para o óbito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Uma das lembranças que
guardava com zelo era uma carta que Edna me havia enviado pouco antes de ser
atropelado por um camião no mercado de Artesanato do Bairro Benfica, em Luanda.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Passado 4 anos, quando
trocava os documentos da carteira, a esposa, ao ver o seu estado de conservação
da referida carta, quis saber por quanto tempo ainda iria guardar a carta. Não
respondi. E durante quatro noites consecutivas fiquei a cogitar em como
preservar e partilhar a carta com os meus amigos e familiares. Foi assim que
iniciei a escrever a história que vós tendes a oportunidade de ler hoje em
forma de livro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Obrigado Edna, por tudo.
Pelo seu amor e carinho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Obrigado à esposa, pelo
incentivo involuntário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";"> </span><span style="font-family: 'Comic Sans MS'; font-size: 10pt; text-indent: 35.45pt;">Minhas senhoras e meus
senhores!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Eis a obra escrita com a
alegria e também com muitas lágrimas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Todos que um dia foram
estudantes no estrangeiro, ao ler estas páginas da “Aventura de Um estudante
Angolano no Estrangeiro“ irão com certeza encontrar laços de identidade e de
projecção com as cenas e os personagens que costuram o enredo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">E para aqueles que serão
um dia bolseiros, as lições ou o aprendizado que colherão da leitura,
servir-vos-á de bússola orientadora no caminho da busca de conhecimentos
técnicos e científicos indispensáveis para o desenvolvimento do nosso país. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Agradeço o Comando da
Marinha, pelo apoio prestado na edição!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Ao Arlindo Isabel, pela rapidez
com que aceitou e aprontou o livro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">À Drª Márcia Falabella,
pelo carinho e por ter aceite prefaciar o livro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Aos meus professores e
colegas da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora,
pela amizade e compreensão. Ao povo brasileiro, pela solidariedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">A todos os presentes, reitero
o meu muito obrigado pelo carinho da vossa audiência!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Faço
votos de uma boa leitura !<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";">Obrigado!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Comic Sans MS"; mso-fareast-font-family: "Comic Sans MS";"><b><u>OBS. Palavras proferidas pelo autor dia 13 de Setembro de 2012, no auditório da Faculdade de Ciências Sociais, em , Luanda, durante as jornadas do curso de Sociologia.</u></b></span></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-85207888746410335882012-09-10T01:26:00.000-07:002012-09-10T01:48:52.933-07:00 AVENTURA DE ESTUDANTE CHEGA AO MERCADO<table border="0" cellpadding="2" cellspacing="0" dir="LTR" style="width: 422px;">
<tbody>
<tr><td bgcolor="#ffffff" height="19"><span lang=""><br /></span></td>
</tr>
<tr><td bgcolor="#ffffff" height="19"><h3>
</h3>
</td><h3>
</h3>
</tr>
<h3>
</h3>
<tr><td bgcolor="#ffffff" height="19"><h3>
<span lang="">O livro Aventura de um estudante Angolano no estrangeiro vai ser lançado às 15horas desta quinta-feita, 13 de Setembro, na Faculdade de Ciências Sociais, em Luanda.</span></h3>
<br />
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A obra de Augusto Alfredo, está escrita em forma de diário, retrata a vida de dois estudantes que partem do país na expectativa de formar-se no estrangeiro, onde se confrontam com várias dificuldades, desde a adaptação cultural, a falta de notícias do país, na altura em guerra, bem como a saudade. Os dois personagens principais Wandalika e Cativa, ao longo do enredo, vão desfiando o rosário dos seus conflitos e dramas em diálogos descontraídos onde estão em pauta os mais variados assuntos desde os corriqueiros do quotidiano, até aos desafios que perpassam o presente e futuro de Angola e do continente africano.</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">PARTICIPE!</span></td>
</tr>
<tr><td bgcolor="#ffffff" height="19"><span style="color: #339966; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><span style="color: #339966; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><strong></strong><br /></span></span> </td>
</tr>
<tr><td bgcolor="#ffffff" height="19"><span style="font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><br /></span> </td>
</tr>
<tr><td bgcolor="#ffffff" height="15"><span style="font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><br /></span> </td>
</tr>
</tbody></table>
<b><span style="font-family: Times New Roman; font-size: x-large;"><span style="font-family: Times New Roman; font-size: x-large;"><span lang="">
</span></span></span><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"></span></span></span></b><br />
<b><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"></span></span></span></b><br />
<b><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"></span></span></span></b><br />
<b><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman;"><div align="CENTER">
<br /></div>
</span><div align="CENTER">
<br /></div>
</span><div align="CENTER">
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<span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;"><span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;"></span></span> <span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;"><span style="font-family: Times New Roman; font-size: small;">
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<span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;"><span style="font-family: Times New Roman; font-size: medium;"></span></span><br />
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<span style="color: #00b050; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: #00b050; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: #00b050; font-family: Times New Roman; font-size: large;"></span></span></span><br />
<span style="color: #00b050; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: #00b050; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: #00b050; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><dir><div align="JUSTIFY">
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<span style="color: red; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: red; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: red; font-family: Times New Roman; font-size: large;"> </span></span></span><br />
<span style="color: red; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: red; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: red; font-family: Times New Roman; font-size: large;"></span></span></span><br /></div>
<span style="color: red; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: red; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><span style="color: red; font-family: Times New Roman; font-size: large;"><div align="JUSTIFY">
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<span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"></span></span></span><br /></div>
<span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;">
</span></span></span></b><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"><span style="color: #c0504d; font-family: Times New Roman; font-size: x-small;"></span></span></span><span style="font-family: Times New Roman;"></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtlE1u3yn4TUcg06YuaLnKGuTYaPzWrSQoVSNp9FM1rrXwf_UWWClxTemXeFi-ylCVpko1iDQ1RHRcjHpWZJKabV_0lNSxE_HnuEJnVqMMJWWDqxogfIGjmNGHQCkkctvOSgonqwCZfbQ/s1600/NOVO+LIVRO+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtlE1u3yn4TUcg06YuaLnKGuTYaPzWrSQoVSNp9FM1rrXwf_UWWClxTemXeFi-ylCVpko1iDQ1RHRcjHpWZJKabV_0lNSxE_HnuEJnVqMMJWWDqxogfIGjmNGHQCkkctvOSgonqwCZfbQ/s320/NOVO+LIVRO+001.jpg" width="232" /></a></div>
<br />Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-81763913993750304642012-09-09T03:27:00.001-07:002012-09-09T03:27:42.737-07:00AVENTURA DE ESTUDANTE ANGOLANO NO BRASIL<span lang=""></span><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"> </span></span><br />
<span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"><span style="font-family: Arial; font-size: x-small;"><div align="JUSTIFY">
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Depois de um mês a seguir o Horário Eleitoral pela rádio e TV e ter exercido o dever cívico, pintando com tinta indelével o tal dedo do gatilho, ficou para a CNE e os concorrentes a contagem dos votos conseguidos ou desconseguidos para se obter assentos na Assembleia. Depois de 31 de Agosto, o desejo de paz e concórdia prevalece. Relaxo e nada melhor que um duche. </div>
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A passar pela sala, apercebo-me que Televisão Pública de Angola divulga informações sobre a Semana do Brasil em Luanda. O Grito de Ipiranga! Lembro-me que foi no dia 7 de Setembro de 1822, que Dom Pedro proclamou a independência do Brasil. </div>
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Não é inconfidência. As gotas do chuveiro sobre a cabeça, sobre o rosto, sobre o corpo fazem a imaginação bater asas e voar livre ao sabor da suavidade do "Meu bem-Querer", de Djavan. E ébrio vou cantarolando: "É segredo, é sagrado. Está sacramentado no meu coração". E na teia de lembranças rebusco o dia em que conheci o Brasil e os laços que me amarram ao tronco da paixão de Zumbi.</div>
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28 de Junho de 1994. Estudantes angolanos desembarcaram no Rio de Janeiro, quando eram cerca das 18 horas. Na busca de apoio para encontrar um hotel onde recobrar as forças e os ânimos, gentes conterrânea possuídas pelo espírito de aves de rapina caíram-lhes em cima. E de táxi encaminham-se para a cidade. Estamos na Linha Vermelha, disse o taxista, quando foram surpreendidos por várias explosões. As bombas vinham de todos os lados. Os projécteis riscavam o céu com a violência que lhes é peculiar. </div>
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Viram-se emboscados. Rezaram e desejaram ganhar asas e voar de regresso a Luanda. Preferiam regressar mesmo sabendo que haviam saído do país num momento em que se travavam renhidos combates em todo o território nacional, depois de frustrados os Acordos de Paz rubricados a 31 de Maio de 1992, em Bicesse, Portugal. </div>
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O taxista olhou para o lado direito e fez o Sinal da Cruz. Agitaram-se e aflitos procuraram refúgio no espaço que não existia no interior do automóvel. Espremidos e receosos espreitavam através do vidro da janela.</div>
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Chegaram ao Hotel Copacabana em silêncio. Só na recepção souberam do tamanho disparate. As explosões eram de foguetes lançados para festejar o golo de empate do Brasil contra a Suécia, pois estavam em tempo da Copa do Mundo de 1994. Mais tarde, riram tranquilos e consolados pelo conteúdo fermentado contido no frigo-bar. </div>
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Quanto aos guias, um incidente veio pôr a nú os seus malabarismos. Após a chegada ao hotel, eles convidaram os bolseiros para um passeio à Copacabana. Do Ritz Hotel, desceram à rua em direcção ao mar, num passo sem compromisso. A meio do percurso, pararam numa movimentada casa nocturna. Pelo volume da música, adivinhava-se um grande espectáculo. Logo à entrada, os guias exigiram dez dólares. Segundo eles, era para verem strip tease! Stri quê? Na banda, vocês nunca viram coisa igual, vão gostar! Aquilo é o máximo! Procuravam persuadir os mais renitentes. </div>
<div align="JUSTIFY">
Enquanto o guia procurava agilizar o acesso, com olhares e gestos de insegurança, os bolseiros buscaram um cantinho formado entre dois pilares do edifício. Não é aqui no Rio que andam falar?!... É... é aqui mesmo! Hum, cuidado! Estão ouvir, já estão a falar em tripas!</div>
<div align="JUSTIFY">
Perto, uma mulher vestida com parcas roupas deixando entregues os seios e as ancas ao relento esbracejava. Estou a ficar pu…! Eh, elas aqui falam assim?! Não errou quem disse que a moda feminina oscilava entre o desejo confessável de vestir-se e o inconfessável de despir-se! Jogando no seguro, dois dos bolseiros decidiram regressar ao hotel. Os demais entraram na casa nocturna. </div>
<div align="JUSTIFY">
Um dos companheiros de viagem, que durante o voo havia exibido com orgulho o anel de casado ainda fresco no dedo, jurando fidelidade, caiu na armadilha. Depois de algumas cervejas, incitado pelos guias, agarrou numa das dançarinas e levou-a para o hotel. Quando se calculava que o casal já estivesse no ringue, um funcionário bate à porta e anuncia o flagrante. Quase acertou! Foi por um triz. Tremendo, o bolseiro pensou em assalto. A loira exigiu e recebeu a sua parte!</div>
<div align="JUSTIFY">
Era proibido levar para os quartos gente não hóspede. A multa deixou-o ainda mais magro do que parecia. Tentou buscar ajuda dos guias, mas estes manifestaram-se incapazes de tirar o seu pezinho da argola. E quase chorando, juntou-se aos demais bolseiros que resignados aguardavam na sala de espera do hotel. Ontem não vos disse?! Não é aqui o tal Rio que andam falar?!... </div>
<div align="JUSTIFY">
No dia seguinte, mal recompostos das 7 horas de viagem e do susto, acabariam por enfrentar uma outra dificuldade. O governo do presidente Itamar Franco decidiu trocar a moeda como uma das medidas para combater a inflação galopante. O Real substituiu o Cruzado. Os angolanos vêem-se numa encruzilhada. Um dólar valia 1 real. No mercado paralelo, dominado por gente árabe, 100 dólares valiam 73 reais ou menos. Os cambistas de rua procuravam salvar os aflitos em cada esquina de Copacabana. </div>
<div align="JUSTIFY">
Os 2 mil dólares em traveller check ou cheque de viagem foram trocados por 1460 reais. Não havia como resistir. Ou se aceitava trocar ou passava-se fome, pois estava a faltar dinheiro. Cada dia sentiam o frio da ponte mais próximo. Cortaram o vinho ao almoço e o sorvete de sobremesa. Eram momentos de apertar o cinto, acto que, malgrado, se prolongaria ao longo de toda a cintura do curso. </div>
<div align="JUSTIFY">
Outra katuta! O valor do hotel veio aterrorizá-los ainda mais. Só mais tarde perceberam o erro: ao invés de serem hospedados em hotel barato, os guias, também angolanos residentes no Rio de Janeiro, preferiram um hotel de cinco estrelas. Resultado! Depois de liquidarem as contas inflacionadas pela cumplicidade dos recepcionistas e guias, pouco sobrou. </div>
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Quem, como Wandalika, deixou ficar algum dinheiro em Luanda para manter a família e comprar chapas, que seu o amigo Epumumo ajudou a colocar numa parte da casa, amealhou lágrimas. Mas não podia deixar a família em casa de renda, ademais com o típico senhorio angolano, cuja decisão do aumento da renda ou do despejo pode advir do simples facto do inquilino estar a comer frango grelhado, quando ele abatia um prato de arroz com peixe frito.</div>
<div align="JUSTIFY">
Vencidas as dificuldades no Rio de Janeiro, no dia três de Julho de 1994, Wandalika partiu de autocarro para a cidade de Juiz de Fora.</div>
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Eram pouco menos das sete da noite. Ele e Deus sentaram-se no autocarro da UTIL. Wandalika sentia-se perseguido pelo perigo. Sem farda, sem revólver e sem fuzil sentia-se indefeso. Mais tarde, até chegou a fazer crescer as unhas para a sua defesa. As unhas somadas aos dentes davam pelo menos para deixar marcas no couro do agressor.</div>
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Mas só Deus sabia mesmo o que o esperava. Depois de mais ou menos uma hora de viagem, numa curva o autocarro balança fortemente. Um corpo cai no seu colo. Assustado joga o fardo para o corredor, desengatilha e espera pelo contra-ataque. Na escuridão, vê um vulto a arrastar-se lentamente. Levanta-se com dificuldades e procura uma poltrona vazia... </div>
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No Rio, contaram-lhe que no trajecto até Juiz de Fora ocorriam assaltos por altura dos desvios de Petrópolis. Por isso pensou tratar-se de um assalto. Não era! Era uma mulher que tinha ido ao banheiro. Na curva, a porta se abriu e ela foi jogada para fora. Aflita tentou subir a calça. Wandalika sorriu com gosto. Sorriu, sorriu! Depois parou bruscamente de gargalhar, quando se apercebeu que ele era o único que tinha achado graça ao sucedido. Mas deu para esquecer momentaneamente o seu drama. Como é bom sorrir das desgraças dos outros! </div>
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Eram 22 horas, quando desembarcou na Avenida Rio Branco. Havia muita gente nas ruas bem iluminadas e restaurantes plantados ao longo da Avenida. Auxiliado por um prestativo mineiro, procurou uma cabina telefónica. Do outro lado, alguém atendeu e prometeu ir ao seu encontro. Minutos depois, estava em presença de um indivíduo baixo, escuro e calvo. Saudou-o efusivamente e quis saber logo de notícias do país. E a guerra como vai? Nem sabe o que respondeu. Será que fazia sentido perguntar-se a alguém: o óbito correu bem? </div>
<div align="JUSTIFY">
Enquanto caminhavam em direcção à paragem de autocarro, acalmou-o e ele mudou de assunto. Agora queria saber de dinheiro. Outra maka! E desfiou o rosário do seu drama. Há mais de seis meses que não recebia o complemento de bolsa e as dificuldades começavam a pressionar o rendimento escolar. Faltavam livros, cadernos, cópias, roupas, sapatos, etc. E o aluguer? E as refeições estavam a ficar cada vez mais simples, incompletas, nuas e despidas de ingredientes. Sobremesas, nem pensar!</div>
<div align="JUSTIFY">
Os autocarros chegavam e partiam ruidosos: A aflição também embalava na calema, quando foi cortada pela chegada do autocarro do Bairro N.S. Aparecida. Subiram em direcção ao Bairro Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil. Ficava no alto do morro da cidade. Depois que o recém-chegado soube do nome do bairro, ficou incrivelmente mais calmo. A Santa estaria por perto e com certeza os iria ajudar a resistir.</div>
</span></span>Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-30127204497057075972012-08-29T01:57:00.000-07:002012-08-29T01:57:09.639-07:00O MEU TERCEIRO VOTO<div align="justify">
<span style="font-size: medium;"><span style="font-family: Comic Sans MS;">A espera foi alongada pela ansiedade no desfecho de um processo incumbido de fazer desabrochar a flor da paz. No compasso para Bicesse, a trilha sonora tinha a voz de Jacinto Tchipa. A cartinha da saudade era a expressão unânime de um sentimento que perpassava o coração de todos os angolanos patriotas, que haviam dedicado parte preciosa dos seus anos de juventude para sustentar um sonho de independência e de paz.</span></span></div>
<span style="font-size: medium;"><div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Depois de Gbadolite, as notícias sobre os novo acordo de paz eram incipientes para remover as incertezas e percalços do caminho. Assim, sexta-feira, 31 de Maio de 1991, o abraço entre o Presidente José Eduardo dos Santos e o líder da UNITA Jonas Savimbi representou o culminar de um longo e sinuoso processo de negociações entre irmãos desavindos.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Finalmente, a paz era um facto. Todos os angolanos estavam novamente juntos e de mãos dadas para a edificação de uma pátria reconciliada e próspera. Independentemente da sua origem étnico tribal, filiação política ou confissão religiosa, todos eram tidos como elementos importantes para a consolidação da paz e reconstrução nacional. Diante da ingente tarefa da criação de condições de vida para as populações, todos eram indispensáveis, como o carreto para o funcionamento de uma máquina.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Na hora do aperto de mão, todo o país entrou em delírio. Com certeza, depois do 11 de novembro de 1975, aquela foi a noite mais bonita, em que não se foi incapaz de conter as lágrimas da alegria, deixando-as, assim, a humedecer a face enrugada pela esperança. Para trás, ficavam os anos agrestes de um conflito que não escolheu as suas vítimas.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Na sexta feira, 30 de Setembro de 1992, parti para exercer o direito de cidadania. Eram 10 horas. Tudo estava calmo até remeteu-se ao silêncio o marulhar das ondas, reclamando das línguas de pedra. A Rádio Luanda se desdobrava em orientar os eleitores a identificar as Assembleias de Voto com menos filas. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Da Ilha de Luanda até a Avenida Marginal, subi de autocarro 28 da Empresa de Transportes Públicos (ETP). Na multidão espremida, espreitava entre axilas, pescoços e braços a paisagem em movimento, onde o Hotel Panorama exibia a sua velha exuberância apesar do passar dos anos agravadas pelo sal do mar. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Os machibombos articulados de marca Volvo, papavam as bichas que se formavam nas paragens e a seguir partiam velozes entre gritos e gemidos de passageiros amedrontados pelas curvas e ultrapassagens. O ai na rotunda da Fortaleza S. Miguel!</span></div>
</span><span style="font-size: medium;"><div align="justify">
<span lang=""><span style="font-family: Comic Sans MS;">No Bailezão, o autocarro 28 cuja rota terminava no Porto de Luanda, parava e despejava alguns dos seus passageiros para que estes pudessem apanhar outros machimbombos como o 32 e 33. Os dois tinham como destino o Bairro Cazenga. O primeiro, tinha o seu término acerca de mil metros do entroncamento da Cuca e o segundo ia até ao Cemitério Catorze, passando pelo centro recreativo Cubata, Mãe-Preta e a fábrica de vulcanização de Pneus, Mabor. </span></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Desembarquei no largo Saydi Mingas, perto do BNA, e parti a pé até ao largo Luniamege, na Rua 1º Congresso do MPLA, pertinho do cine Nacional. Aí estava o término do autocarro 27, que seguia até ao bairro Benfica. Haviam duas opções: o 27-A seguia pela Revolução de Outubro, passando pela FAPA- DAA, Bairro Rocha Pinto e até ao destino. E o 27 que tomava a rota do Supermercado Zamba 2, seguindo para Morro da Luz, Corimba, Futungo de Belas...</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Longe das actuais arrelias, a manhã era calma. Ainda me lembro. Era de véspera a chegada dos autómóveis de marca Patrol, Toledo e Passat. Ofuscando os seus antecessores agora rematriculados com a chapa AMF, estes não tardaram em tomar os antigos trilhos dos Urales, LADA’s e WAZ’s. E quanto furor faziam entre os admiradores! Casamento ou relacionamentos frágeis encontraram no <strong>Noivo mecânico </strong>o melhor pretexto para a ruptura. <strong> </strong></span><span style="font-family: Comic Sans MS;"><span lang=""><strong> </strong></span></span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Segui viagem e desembarquei no Zamba 2. Caminhei aparantemente descontraído para a Assembleia de voto, implantada no interior da Escola situada no Jardim do Bairro Azul. A fila já não era longa. Esperei ansioso. Ao chegar a minha vez, o coração acelerou. Tive medo. Meus Deus! E se eu errar... Era a primeira vez que eu iria votar e o meu voto tinha um sabor muito especial, pois punha fim a vários anos de uma guerra atroz. Era como se sobre mim pairasse a pesada missão de resolver o que os generais <strong>desconseguiram </strong>no teatro de operações. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Naqueles derradeiros metros que me separavam da mesa, um turbilham de lembranças e conjecturas baralhavam a realidade feito um caleidoscópio. Rezei. Quero viver em paz, quero trabalhar em harmonia, ter uma casa condigna e cuidar da família. Quero voltar a estudar e viver com normalidade uma vida saudável. Ah, reencontrar os meus pais...</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">E momentaneamente refugiei-me nas noites sublimes e coroadas por personagens de fábulas como a lebre e cágado. Era uma vez!... Quem chegará primeiro à meta. Com desgosto, percebo que hoje as noites ganharam um outro ingrediente rompendo as viseiras rurais e impondo um consumo obrigatório e cíclico de telenovelas importadas. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Aproximo-me e recebo o Boletim de Voto, suspiro e dirijo-me com vigor para a cabine. Coloco o Xis no quadradinho, dobro com cuidado o papel e deposito-o na urna. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Ao sair, senti-me incrivelmente aliviado e feliz, como se tivesse com o acto retirado sobre os ombros um enorme fardo que transportara durante vários e longos anos.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Dias depois, a frustração. O recomeço da guerra com o seu cortejo de mortes. Tinha consciência das dificuldades com que se debatia o processo de paz, mas ainda assim acreditava na capacidade dos homens em ultrapassá-las. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">O sonho de voltar às urnas hibernou durante 16 anos. Foram anos de reiteradas esperas e de um acumular de mágoas e decepções. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Quatro anos após a assinatura do Memorando do Luena em 2002, eis que se nos oferece mais uma oportunidade de exercer o direito de cidadania. Era preciso concolidar a paz, reconstruir as infraestruturas rodoviárias e ferroviárias. Construir escolas, hospitais, estabilizar e desenvolver de forma sustentável a economia. Baixar a inflação para dois dígitos, regularizar o fornecimento da água e da energia eléctrica. Aprofundar a reconciliação e a unidade nacionais. Em fim, resgatar o amor e a concórdia, curando e cicatrizando as feridas abertas no corpo e na alma . Por isso, no dia marcado, cheguei ao local da votaçao e Xis. Sabia o que queria. Era impossível errar o quadradinho. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">31 de Agosto de 2012. Depois de uma campanha eleitoral em que cada um dos concorrentes teve a oportunidade de expor os seus argumentos com a perspectiva de angariar um maior número voto, é chegada a hora. </span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Todavia, no processo eleitoral é importante e crucial para o bem-estar comum que todos coloquem a pátria, Angola, acima dos seus interesses pessoais.</span></div>
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Faltam pouco menos de um dia. Passados 20 anos após as primeiras eleições multipartidárias realizadas em 1992, quero reiterar o meu voto de fé numa Angola reconciliada e próspera. Sonho com uma sociedade sem qualquer tipo de exclusão.</span></div>
<span lang="PT-BR"><span style="font-family: Comic Sans MS;">Não diga que a canção<br />Está perdida<br />Tenha fé em Deus<br />Tenha fé na vida<br />Tente outra vez!...</span></span><span lang=""></span><br />
<div align="justify">
<span style="font-family: Comic Sans MS;">Raul Seixas deixa aqui o seu voto de fé e esperança. A vontade transformará o sonho em realidade e o futuro confirmará as nossas esperanças. Acredite! </span></div>
</span>Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-21808974025465738582012-08-29T01:42:00.000-07:002012-08-29T01:42:07.055-07:00O ARROZ COM SALSICHAS<div align="JUSTIFY">
Haverá um bairro com o nome mais bonito do que o de Lua cheia? Tive muitos pelo percurso: Má-Língua, Prenda, Nossa Senhora, Bumba, Benfica, Zango… mas Lua Cheia é o mais belo.</div>
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Lua Cheia é um bairro antigo do Amboim. Com as suas casas de adobes cobertas de chapa de zingo, vivia-se perfumado por flores de café e de maracujá. Durante o dia, as sirenes das fábricas eram o relógio que condicionava a vida dos moradores. Era um espaço mágico, onde Modesto era nome do comerciante mais popular do bairro, homem simples que vendia bolachas, pão quentinho e sandes de peixe frito. </div>
<div align="JUSTIFY">
O Luar, banhando a terra com o seu romantismo, depois se escondia por detrás da casa do sô Modesto. Só mais tarde o vocabulário ensinou aos alunos nativos o verdadeiro significado da palavra. Modesto é aquele que pensa a seu respeito ou fala de si mesmo sem orgulho; despretensioso; humilde, moderado, desambicioso, simples, pobre. </div>
<div align="JUSTIFY">
Alheios, corríamos atrás das sombras e olhávamos para a lua-cheia, onde buscávamos a imagem da Nossa Senhora de Fátima com o menino Jesus ao regaço. À volta da fogueira, as noites eram sublimes e coroadas pelos personagens das fábulas como a lebre e o cágado. </div>
<div align="JUSTIFY">
O luar e as estrelas pendiam sobre a paisagem sombreando com o seu lápis as casas, as árvores e as montanhas. Os narradores, mesmo desconhecendo a técnica de interpretação de actores da Commedia dell’arte como Arlequim e Patalone, com empatia faziam a plateia sonhar. </div>
<div align="JUSTIFY">
Feitos prisioneiros da alegoria de Platão, dando asas à imaginação, fugia-se da caverna para livres transpor-se a cordilheira de barreiras que cercavam a vida. A plateia cantava, dançava e respondia animada e em uníssono às questões do narrador. Todos eram partícipes e juntos teciam os fios da estória, pois não havia lugar para figurantes.</div>
<div align="JUSTIFY">
O candeeiro resignava-se com o espaço domiciliário e nunca ousava andar ao luar, onde os enamorados trocavam as confidências que guardavam seus corações apaixonados. O tempo passou, o cenário mudou.</div>
<div align="JUSTIFY">
Hoje as noites ganharam um outro ingrediente, rompendo as viseiras rurais e impondo um consumo continuado de telenovelas. E o ritual obrigatório de sentar-se numa poltrona e seguir o enredo enchendo a cabeça de estórias alheias. As disputas pelo comando da Televisão comprometeram a unanimidade. Em nome da concórdia e da coesão, o refúgio é o consenso do quarto, onde todas as noites, alertado pelo indicativo, o meu garçon sorridente emerge da penumbra e senta-se ao meu lado. </div>
<div align="JUSTIFY">
Ele é amigo de longa data e acompanha-me aonde eu estiver. Consola-me quando choro, anima-me quando triste, faz-me sorrir, dá-me de comer e de beber. É fiel desde os tempos do pré-escolar. Conheci-o por acaso ao passar diante do restaurante Guaraná, quando me encaminhava para o Jardim Escola, da cidade da Gabela. </div>
<div align="JUSTIFY">
Às 12H30, no regresso, a fome espreitava na sala cheia e o tempero baralhava os sensores do cérebro, pois, aquela refeição tinha condimentos que inundavam as redondezas. Era uma combinação harmoniosa da cebola, pimenta, alho e folha de louro, salsa e outros. Quem não queria passar naquele local à hora do almoço.</div>
<div align="JUSTIFY">
Actualmente a imaginação tenta refogar feijão com cebola, alho, salsa, mas na época não era comum. Nem sei se o resultado é o esperado.</div>
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Habituado aos pratos da aldeia, ao se aproximar a hora do almoço, as lições ficavam para o esquecimento, pois a concentração vagueava nas portas de restaurantes como Guaraná, Central, Esmeralda, Aquário, Bar Estrela e outros. Sonhava o dia em que pudesse provar o paladar dos pratos denunciados por aqueles temperos que perfumavam a cidade. </div>
<div align="JUSTIFY">
Até aí apenas conhecia o arroz do Natal de Jesus que era cozido com óleo de palma queimado. O mesmo óleo que entrava como ingrediente fundamental na confecção da quipicula, funge feito com óleo de palma e sal. Poucos se lembram deste prato da fome. Mas fez sua época, durante a plantação do algodão em Porto Amboim. </div>
<div align="JUSTIFY">
Era dia da independência nacional. A alegria pairava no ar como fogo de artifício, tornando impossível qualquer indiferença. Todos estavam tocados pelo evento e felizes partilhavam tudo que tinham em casa por pouco que fosse: pão, banana, garapa ou vinho tinto guardado à propósito para o momento tão especial. Era preciso dar vasão ao impulso que vinha bem no fundo do coração. </div>
<div align="JUSTIFY">
Independência, dipanda… um novo vocábulo ganha espaço no linguajar local. O tempo foi passando e lentamente, como a poeira que se decanta sobre as plantas, a rotina foi tomando o seu lugar ajustando-se à vida comum de pequenas aldeias.</div>
<div align="JUSTIFY">
Numa tarde, depois de chegar da lavra, vi a minha mãe a abrir com a faca uma lata de salsicha, logo fiquei feliz. Iria comer a novidade vinda de longe e embebida por molhos de outras culturas. Já conhecia o sabor da sardinha enlatada, mas da salsicha e do presunto eram novidades trazidas pela revolução através das Lojas do Povo.</div>
<div align="JUSTIFY">
A minha mãe, coitada, ainda feriu o dedo polegar ao abrir a lata. Tudo era novo. Todos se aproximaram curiosos para espreitar o produto que pelo formato facilmente provocou gargalhadas insinuadas por outras coisas da vida guardas no disco. Outros se retiravam horrorizados, dizendo tratar-se de dedos humanos de operários incautos, cujas mãos foram colhidas pela guilhotina. Nunca ouviram falar em corta-cabeça? Então, quem corta a cabeça de uma pessoa tem algum remorso ao cortar os dedos de alguém? A busca da resposta gerou outra controvérsia. </div>
<div align="JUSTIFY">
Portanto, arroz já estava pronto, faltava apenas juntar-se-lhe a salsicha, mas o problema estava em saber se o líquido também devia ser usado. Alguém introduziu o dedo indicador na lata e provou com a língua, facto que agudizou o conflito. O líquido tinha sal. </div>
<div align="JUSTIFY">
Uns diziam que SIM outros diziam que NÃO. Os do NÃO eram a minoria e defendiam que as salsichas deviam juntar-se ao arroz e o líquido jogado fora, mas estes não tinham argumentos suficientes, convincentes, para persuadir os do SIM. Impacientes, na ausência de consenso, despejou-se as salsichas e o líquido, salmoura, sobre o arroz, que depois de provado ficou sem clientes.</div>
<div align="JUSTIFY">
Um dos SIM ao provar, fez uma cara de horror. Estava tudo salgado e estragado. Todos ficaram sem tomar a refeição por não terem sabido encontrar a melhor e a correcta opção que beneficiasse toda a família, mas era tarde para remediar o jantar estragado. Os do NÃO culparam os do SIM. </div>
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Tudo ocorreu devido a ausência de reflexão profunda e distanciada na tomada de decisão sobre um aspecto que era de importância capital para todos: o arroz com salsichas. </div>
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Todas a vezes que vou ao supermercado, lembro-me deste episódio e do dramaturgo alemão Berlot Brecht: "O mais importante de tudo é aprender a estar de acordo". Afinal de contas, continuam perenes os ensinamentos deixado por si na peça: "Aquele que diz sim e aquele que diz não". O diálogo ilumina os caminhos obscuros da sabedoria e da busca do bem-estar comum. </div>
<div align="JUSTIFY">
Bom apetite!</div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-68244137212659555442012-08-29T01:36:00.002-07:002012-08-29T01:36:50.475-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzQBW2rC2iloMyalTmJAMacl7HAvpBI7-ABlFnHcMN0uSPwdKkJEhAMW2cNg98InHr-c4f5C5LoelGAjRkh6gUpGVd2oxFAJCA1b4pqO1FEUXMjS8bPRW2pmjiXwsCi5PaiMp5Oh86kEA/s1600/livro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzQBW2rC2iloMyalTmJAMacl7HAvpBI7-ABlFnHcMN0uSPwdKkJEhAMW2cNg98InHr-c4f5C5LoelGAjRkh6gUpGVd2oxFAJCA1b4pqO1FEUXMjS8bPRW2pmjiXwsCi5PaiMp5Oh86kEA/s320/livro.jpg" width="212" /></a></div>
<br />Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-67982155048551734502012-08-21T19:30:00.002-07:002012-08-21T19:30:23.124-07:00Conversa com o herdeiro!
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Os tempos mudaram! Ontem eu era jovem como tu. Sim! Não te
parece? Incrível, você pensa que eu nasci com rugas, cabelos brancos e queixas
de reumatismo crónico nas pernas! Eu fui um rapaz bonito, brincava, corria,
jogava futebol, pulava de alegria, dançava a noite inteira e sonhava como vós
sonhais! </span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">O tempo é voraz, a idade avança e se evaporam os sonhos, se
entorpecem os músculos e se envelhecem as esperanças. Esse é o ciclo inevitável
da vida, meu filho! E apesar de tudo, é preciso nunca perder a temperança. </span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Sabes por que chilreiam os pássaros ao amanhecer e também ao
pôr-do-sol?... Filho, você está crescido, sente-se aqui ao meu lado e ouça!
Ainda ontem eras uma criança frágil. Quando você nasceu, me lembro como se
fosse hoje, tinhas o rosto redondo e bochechas avermelhadas! As parteiras
chamavam-te kamatama. Nasceste com 3 quilos e 800 gramas. Era um homenzinho e com
um vozeirão que nem TIM MAIA! Choravas muito, ah mas como choravas! Houve
noites em que a tua mãe e eu entravamos em aflição, pois não sabíamos o que se
passava contigo. Se era dor do ouvido, bucho virado, maculo, mau-olhado ou sei
lá o quê! Olha, tu ganharias qualquer concurso de choro, juro! Olha, sê
empreendedor, podes investir na criação de uma Agência Nacional de Carpideiras
de Angola (ANCA), para atender velórios de gente sem família! Papá, não gosto
disso! Calma, filho!… Isso é normal, as crianças ao nascer têm rosto grosseiro.
Olha filho, preste atenção no que lhe vou dizer… <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Há mais de uma semana que ando atrás do senhor, só hoje é que o
pai quer conversar comigo? Claro que reconheço o facto de eu nem sempre ter
tempo suficiente para pelo menos jantarmos juntos e aproveitarmos a
oportunidade de trocarmos impressões sobre as mais variadas coisas da vida. </span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Mas em nenhum momento eu me esqueci de ti. Eu sempre gostei de
ti. Digo isso com toda a sinceridade do mundo, porque tu és das coisas mais
importantes da minha vida. Que isso papá? Eu não acredito que esteja a falar a
verdade! Eu não sou a coisa mais importante da sua vida, pai! Sou sim o
primeiro do círculo de suspeitos de tudo que de errado ocorre nesta casa. Me
são atribuídas as tarefas mais difíceis e penosas e ainda depois dizem: “Assim
foi temperado o aço”. Meu Deus, não fui eu quem jogou pedra na cruz!...</span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Enquanto os outros vão à escola de automóvel, eu devo caminhar a
pé ou de candongueiro por alegada falta de dinheiro. Para comprar uma simples
calça, é uma luta. O cartão da parabólica acabou faz tempo e tudo continua
calmo que nem as águas da Baía de Luanda. Ninguém diz nada! Agora, nem
telenovelas devemos ver, pois aparece sempre o protagonista que busca
argumentos no passado, na sua tradição, para nos acusar de múmias! Para ele, o
Kuduro é coisa para bandidos, marginais, digo, a escória, para usar o seu português
importado. Sempre: ah, porque no meu tempo não era assim. Esquece-se que nem
sempre as lições do passado servem para ler o futuro. </span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Eu agora virei coisa?… É assim que se coisificam as pessoas?...
Agora sei, enquanto a tua filha está sempre a ser tratada como ovo, eu sou o
osso que só serve para sopa ou feijoada. Outros têm bolsa de estudo no
exterior, recebem mesada, viajam pelo mundo e desfilam por Luanda em
limousines, enquanto nós nem soubemos o que comer logo ao jantar.</span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">O pai suspirou, espreitou na porta semiaberta da cozinha e fez
aquela cara de cansaço e impaciência. Meu filho, sabes quanto ganho por mês? E
o abono de família! Já não tens direito! Na tua idade, eu já trabalhava. E
você? Com mais de 25 anos continuas a viver de mesada. Tudo para ti é difícil e
complicado, nunca és indivíduo decidido e perseverante, não te aplicas para
realizares o teu sonho. Vives seguindo modelos alheios, modismos, coisas
supérfluas, chicletes. Ontem querias estudar no exterior, pagamos uma bolsa na
Namíbia. Depois de seis meses voltaste de férias e nunca mais quiseste ouvir
falar do curso de engenharia. Dei-te dinheiro para a matrícula na escola de
condução, até hoje nada! Os teus colegas há muito trabalham e você continua
encalhado aqui em casa, pedinte. Só se presta ajuda àquele que esteja a fazer
algo. Caso contrário, nem Deus o socorrerá.</span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Pai, eles têm tido oportunidades. Sempre estudaram em boas escolas.
Já distribui o curriculum em várias instituições, mas até agora apenas em cinco
fui chamado para entrevista. Continuo a espera. Tudo é esquema, o critério não
é a competência.</span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Meu filho, diga-me uma coisa! Que patrão contrataria um
indivíduo que usa cabelo grande e despenteado, unhas compridas, brinco na
orelha e calças arreadas? Você assusta o patrão! Devias ganhar prémio de melhor
espectador do mundo! És um autêntico abacate, sentastes à frente desta TV e
apodreces aí mesmo na poltrona. Um homem assim, feito carro de mão, nem a
mulher pode contar com ele para mudar uma simples lâmpada da sala. Todos os dias
nem te apercebes quando saímos, aliás, naquela hora ainda estás no quarto sono.
Pudera, dorme tarde devido ao bate papo com as garotas e amigos no facebook. </span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Nós saímos às 4H30 para não pegar o trânsito engarrafado e
voltamos a encontrar-te no mesmo lugar. Com todos estes perigos do trânsito e
da bandidagem, durante o dia nem se sequer te preocupas em saber se nós
chegamos bem ao centro da cidade. Tu não fazes ideias do número de pessoas que
morre poucos minutos depois de acordar?... Olha, nós já encontramos muitos
caídos a esvair-se em sangue no asfalto negro das estradas. </span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Ao chegarmos a casa no fim da jornada, voltamos cansados nem
prazer temos de comer. Buzinamos para abrirem o portão, mas nenhum de vós se
levantais para o fazer, pois estão distraídos com a TV ou com o playstation e
PSP. Nós trabalhamos todo o dia e ainda por cima, depois do trabalho temos de
fazer as compras para alimentar todos os membros da família. Ao chegar a casa,
não vemos ninguém para descarregar os produtos. Depois eles são os primeiros a
se embutir de banana, laranja ou a beber o sumo e a gasosa.</span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Não estás preocupado connosco, com a nossa vida, com o nosso
trabalho, senão com o dinheiro para tudo que precisas. Quem trabalha passa por
dificuldades e humilhações no local de trabalho. Você desconhece o que é
trabalhar e ser subordinado de uma cadeia enorme de hierarquias! Os sapos que
temos de engolir. Ingrato! Não lava a loiça, não lava a roupa, não sabe
engomar, aliás não sabe fazer nada, porque os tempos são novos.</span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Não queres aprender a
cozinhar, porque é coisa feminina, ai é? A vida é dura e só os fortes
sobrevivem diante dos lobos. Pergunte à gazela, quanto perigo corre na selva
para dormir e acordar! Basta veres a quantidade de predadores que gostaria
deliciar-se com a carne de veado! Homens, leões, leopardos, hienas, lobos,
jibóias e etc. Quem está na camada mais baixa da cadeia alimentar ou
profissional vive esse mesmo drama todos os dias. Pois se não fosse assim ainda
hoje os dinossauros estariam vivos.</span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Pai, se não parar de falar, jamais poderei contar-lhe o meu
problema. Mas qual é o problema? Pai, ontem ao sair com o carro da mãe, bati, digo,
não bati, raspei num Jeep daqueles que estão na moda. Quero pedir a sua ajuda
para resolver o problema. O dono é… Como que se dá a chave do carro a alguém
desencartado? O mimo, o excesso de protecção impede que cresçam! Veja a tua
irmã! Ela lutou até ingressar na Faculdade, finalizou com distinção, conseguiu
emprego. Pai, ela é dama! Cala essa boca! Ela foi sempre uma estudante do
Quadro de Honra! É dedicada e disciplinada. É competente! Você é vaidoso,
preguiçoso e indisciplinado! Contrário de ti, sabe ouvir conselhos! Sempre
disse p’ra não ficar muito próximo da TV. Resultado, estás com dor de vista e
obrigado a usar óculos. Quem paga, eu, sempre eu! Sempre disse para não comer
coisas muito doce como rebuçados, doces etc. Ninguém ouviu a voz do homem
ultrapassado, vulgo papoite! Resultado: tem de ir ao dentista para restaurar os
dentes cariados. Os dentistas são caros! Disse que deviam ao menos aprender a
cozinhar, mas quando a empregada faltou, todo mundo ficou a andar a toa. O lixo
da noite, fica guardado em casa, até a empregada voltar ao trabalho. Não me
espantaria se um dia a empregada passar a dar-te banho! Está a falar atoa! Você
não me respeita, meu filho: ameaças os teus irmãos na minha presença, inclusive
noutro dia, pegastes num pau de fazer funge para espancá-los debaixo dos meus
olhos!... Eu não sou eterno!... Você também é homem como eu, terás mulher e
filhos, vais lembrar-se das minhas palavras! E vai se preparando, esta casa é
alugada! Quando eu morrer, não desejo filho algum fazer-me companhia na cova. A
morte é individual e radical!… Olha, pare de chorar, o dono do Jeep está no
portão! Coragem! “Assim foi temperado o aço”!</span><span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Tahoma;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-78104695842215385382012-08-21T19:29:00.002-07:002012-08-21T19:29:38.731-07:00Habla querido, habla!
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">Prólogo:
O Pirilampo sonha ofuscar as estrelas! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">No meio da multidão de empresários angolanos e
argentinos ávidos em partilhar novas oportunidades de cooperação, uma voz
quebra o protocolo e deixa a respiração de muitos suspensa:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">- </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Presidente tu es una mujer
inteligente y hermosa, te amo!</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">- Habla querido, Habla! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">Esta é uma tirada descontraída da charmosa Presidente
Argentina Cristina Kirchner, ao reagir ao galanteio despropositado de um
empresário do seu país na Feira Internacional de Luanda. Saiu bem! Quiçá entusiasmado
pelos potenciais negócios a desenvolver em Angola no domínio da agro-indústria,
educação, cultura e novas tecnologias, diante da avassaladora simpatia e
simplicidade da Presidente, o argentino não se conteve e gritou seu desejo carnal,
mas a resposta pela ousadia venho sincopada e com sabor a <span style="mso-bidi-font-style: italic;">Tango</span>, que mescla o drama, a paixão,
a sexualidade e a agressividade, para a surpresa e delírio da plateia. O arrepio
que pendia a respiração se desfez numa tensa gargalhada. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">Num outro momento, durante a conferência de
imprensa, o seu assessor aproximou-se do ouvido da presidente e lembrou-lhe
sobre algo que ela devia dizer aos presentes. Num gesto rápido disparou! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">- </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Estás chato</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">! </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">No
voy a olvidar nada</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">!
– E prosseguiu como se aquele episódio-incidente nunca tivesse ocorrido naquele
lugar! Era festa, era Tango! Era Cristina! Ela conduziu o tractor, dançou,
sorriu e abraçou os que cruzaram o seu caminho! </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Increíble</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"> </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Cristina es fuego capaces
de encender un bosque verde, diziam com certeza seus conterrâneos. </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">Aliás, ela faz jus ao significado do seu nome. Cristina
quer dizer, «optimismo e afectuosidade são qualidades que projectam a imagem de
uma pessoa popular que alegra seu círculo de amizades. Adora baladas e agitos
onde possa demonstrar seu talento artístico. Muito criativa e comunicativa,
possui um charme especial que usa para conquistar o que quer. Sua descontracção
e bom humor a mantem sempre jovem, não importa a idade que tenha. Sempre aberta
a novidades, possui uma mente fértil para os negócios. Seu optimismo permite
que mesmo diante das mais difíceis situações encontre um lado positivo e anima
todos à sua volta».<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="background: white; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;">E foi
com todos esse optimismo e descontracção que a presidente da Argentina,
Kirchner, aos 58 anos, foi submetida a uma cirurgia, depois de lhe ser diagnosticado
um câncer na tireóide.</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">As notícias sobre a visita de Cristina a República
de Angola bem como os encontros mantidos com autoridades angolanas, com
destaque para o Presidente José Eduardo dos Santos, encheram os noticiários de
jornais, revistas, rádios e televisões das duas margens do Atlântico. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><strong><span style="color: black;">Ela foi uma artista: <span class="conteudo3"><span style="mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><em>«Só através de um
cerimonial consegues comunicar. Porque tu não comunicas com os objectos, mas
com os laços que os ligam», e</em></span></span>screveu <span class="conteudo3"><span style="mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><em>em
"Cidadela", o também autor de</em></span></span> “O Príncipe”, </span></strong><em><span style="color: #aaaaaa;"><span class="conteudo3"><span style="mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><strong><span style="color: black;">Antoine
de Saint-Exupéry.</span></strong> </span></span><span class="conteudo3"><span style="font-style: normal; mso-ansi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-style: italic;"><o:p></o:p></span></span></span></em></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span class="conteudo3"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><em><span style="color: #aaaaaa;">Portanto, </span></em></span></span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">comunicação é um processo marcado
pelo envolvimento do emissor e do receptor, por isso não há espaço possível de
fuga para o distanciamento.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">A propósito quero abrir um parêntese para
perguntar o seguinte. Desculpem-me prezados leitores, ouvintes e
telespectadores, pois há uma pergunta que não quer calar. Será que todos os
angolanos entendem perfeitamente o espanhol, para que não seja fornecida a
tradução dos discursos feita naquela língua? Há muito que essa pergunta me
persegue e todas as vezes que ouvia o noticiário nas rádios ou televisões, ela
gritava nos meus ouvidos! Ajudem-me por favor! - «</span><em><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-theme-font: minor-bidi;">De repente apareció un
hombre pelado (careca) con el saco (jaqueta) lleno de polvo (pó) que le dijo si
podía compartir la cena con él.»</span></em><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">Como podemos perceber no exemplo acima, extraído
do blog de </span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Adir Ferreira</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">,
</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">professor e tradutor de inglês
e espanhol há 18 anos, as</span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">
palavras podem até ser parecidas, mas encerram significados diferentes. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Eu já convivi com muitos cubanos, sobretudo
os primeiros militares que haviam desembarcado em Angola para ajudar a travar a
marcha sul-africana em direcção a Luanda. Foram eles que mais tarde formaram o
famoso Batalhão Internacionalista no CIR Comandante Raul Dias Arguelles,
localizada na Fazenda da Nova Ereira. Ali bem perto do meu Pange, do meu rio
Mazungue, que corre entre pedras negras que emergem do leito como ovos de
dinossauros. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Os cubanos usavam uniforme Verde Olivo e
botas que disseminaram seus trilhos característicos nos caminhos e estradas de
terra batida. Nos comunicávamos de qualquer jeito por uma questão de
sobrevivência, numa conjuntura onde a emergência não tolerava o silêncio (</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; mso-ansi-language: PT-BR;">Hola
primo, hola compañero</span><span style="font-family: "Comic Sans MS";">)! Mas
daí a encher-se de ufanismos por falar espanhol vai uma distância considerável.
Mesmo com ajuda do esforçado portonhol os angolanos da minha aldeia e os filhos
de Fidel ficavam a nadar no Mazungue, porque afinal espanhol não é português. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Para ilustrar melhor essa afirmação narro a
seguir o seguinte episódio: Certo dia, os militares cubanos chegaram à aldeia
com sacos de pão num camião de marca Berliet, espólio do exército português. Entregaram
dois sacos a uma jovem gorda que lavava nas margens do rio, com recomendações
para os distribuir aos demais. Seus olhos brilharam ao verem o pão, mas não
entendeu a mensagem, gerando-se a seguir uma grande confusão. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">– O pão é meu, mi deram só su eu!... <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">- Eles falaram, é p’ra nós todos!...<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">Instalou-se o conflito. Formaram-se dois grupos
ansiosos em comer do pão. A escolha da aliança foi feita tendo em conta
factores como laços familiares ou de amizade ou ainda a maior probabilidade de
se alcançar o objectivo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">O camião a muito havia partido, não havendo sequer
alguém na poeira para repor a verdade, apaziguando os ânimos dos alegados injustiçados!
Os ruídos na comunicação geram quase sempre conflitos difíceis de mediar. A
contenda motivou uma reunião de desfecho imprevisível no Comité do Partido.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">A fronteira luso-espanhola, conhecida pelo </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ep%C3%ADteto" title="Epíteto"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><span style="color: blue;">epíteto</span></span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"> de “<span style="mso-bidi-font-weight: bold;">A Raia”,</span> estende-se desde a foz do </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Minho" title="Rio Minho"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><span style="color: blue;">rio Minho</span></span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">, a norte, até à foz do </span><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Guadiana" title="Rio Guadiana"><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><span style="color: blue;">rio Guadiana</span></span></a><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">, a sul, ao longo de mais
de 1200 km. Os portugueses que são os criadores da língua e dividem uma fronteira
e história com a Espanha, traduzem os discursos destes para o entendimento da
sua audiência, mas nós angolanos, cuja maioria tem uma língua diferente para
pedir leite materno, nada! Que presunção! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="text" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">Qualquer manual de jornalismo recomenda o uso da clareza,
simplicidade, exactidão, concisão e vivacidade. <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Como é que tal desiderato pode ser alcançado quando o profissional de
jornalismo se esforça em afinar para que possa transparecer uma imagem de homem
culto? Ademais com o índice de analfabetismo que grassa entre a população, todos
os textos ou discursos em língua estrangeira, incluindo em espanhol, devem ser
traduzidos! Já imaginaram uma notícia em espanhol nos semanários? Seria uma
brincadeira de mau gosto que baixaria muito gravemente as receitas das vendas e
da publicidade! <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="text" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Por isso, a comunicação é partilha de
vivências e experiências, é acto imbuído de generosidade e de amor ao próximo.</span><span style="color: windowtext; font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">Portanto,
mesmo captando a mensagem da letra pela metade, enquanto espero pela tradução
dos conteúdos noticiosos feitos antes em espanhol nos órgãos áudio visuais de
Angola, vou sussurrando, descontraído “Amiga mia”, de Carlos Gardel. Talvez,
até lá tenha chances de conquistar a vizinha do saco de pão!</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial;">Amiga
mía, a ver si uno de estos días,<br />
por fin aprendo a hablar<br />
sin tener que dar tantos rodeos,<br />
que toda esta historia me importa<br />
porque eres mi amiga.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR;">- </span><span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12pt;">Habla querido! Habla!… <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-31806845737925538322012-08-21T19:28:00.000-07:002012-08-21T19:28:06.915-07:00Lições de Papai
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">O
cacimbo chegou, mas hoje acordei meio introspectivo, pois já não vejo o
vermelho cereja cobrindo os cafezeiros e o terreiro das roças. Nem avisto
homens e mulheres sorridentes com cestos ao pescoço, colhendo o bago vermelho. Também
já não ouço as suas canções que marcavam o compasso durante a safra e serenava
a dor da saudade dos que haviam partido. Apenas cafezeiros envelhecidos sobressaem
numa paisagem cada dia mais calva com o abate indiscriminado de árvores de
sombra. E a silhueta de um agricultor de olhar distante e gestos indolentes
ainda persiste para a sobrevivência do seu orgulho. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Ao
chegar o cacimbo, imagino meu pai com um tronco ao ombro para fazer fogueira no
terreiro ao lado do café e minha mãe agasalhada com panos de flanela, transportando
a sanga de água! E nós crianças traquinas envolvidas em brincadeiras
intermináveis, que faziam esquecer a hora de buscar às cabras ao pasto ou a
louça por lavar. Ah, como o tempo passa! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Ainda
me lembro da noite, com estrelas e o luar cobertas pelo denso nevoeiro, quando chegou
a casa um camião alemão de marca IFA com o número 56 e a sigla ETP na porta.
Era alto e de cor creme, tinha lona cobrindo a carroceria e quatro pneus no
diferencial traseiro, sendo dois de cada lado. Respirava, tinha vida! Na
cabine, no painel de instrumentos, as luzes de várias cores imitavam a
iluminação das grandes cidades e que só víamos no cinema. Mas era realidade, um
aldeão, como nós, ia ao volante!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Como
é que um simples camponês analfabeto consegue obter cartas de condução e
dirigir um camião daqueles? Diante do incrédulo, alguns aldeões refugiaram-se
numa única explicação: É feitiço! Outros, procurando abafar o mérito alheio,
diziam: Cuidado, é motorista de 25 de Abril! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Com
a sua robustez, os IFA’s rapidamente conquistaram a simpatia do povo e as
estradas de Angola de Norte a Sul. Com o IFA, meu pai conheceu Quibala, Calulo,
Wako Kungo, Cassongue, Atome, Conda, Seles, Huambo, Bié, Benguela e Lobito. Depois
veio o tempo das colunas!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Ministério
dos Transportes, da Agricultura (Encodipa, Dinaprop), UNTA Finanças, Construção
e Habitação… República Popular de Angola! Eram os frutos da independência e da
liberdade, conquistadas com o sacrifício de milhares de patriotas angolanos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Scania
81, depois foi a vez do famoso Scania 111 número 122, cor de laranja. Perguntem
ao músico Proletário, qual foi o camião que levou a sua Kahinda!... Scania 111,
com a sua lona cobrindo as 18 toneladas de café ou géneros alimentares para as
lojas do Povo era a rainha das entradas emocionando adultos e crianças. E no
silêncio repetiam: Valeu a pena a Independência!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">O
tempo quase sempre se tem mostrado incapaz de apagar as lembranças e passado
vários anos após a partida do meu pai, no caminho nasce erva daninha, mas as
lições deixadas ainda continuam perenes. E incrivelmente, muitas vezes de forma
involuntária achamo-nos a partilha-las com os filhos, com os dos vizinhos ou
mesmo em salas de aulas com os alunos, diante da estupefacção ao perceber-se
que à maioria deles falta-lhes energia volitiva ou seja vontade própria capaz
de os impulsionar em direcção ao sonho. Não basta sonhar e ter fé, é preciso
ter vontade e força para alcançar o sonho por mais difícil que ele seja.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">É
a vontade de realização do sonho e a capacidade de consentir sacrifícios que nos
fazem avançar e vencer os percursos mais espinhosos. Os homens vitoriosos foram
sempre aqueles que souberam identificar as metas e mobilizaram as energias e
com audácia e estoicismo lançaram-se intrépidos na sua concretização! O desejo
é o rastilho que acciona toda a engrenagem. Quando estamos a cumprir uma missão
até a nossa unha deve estar concentrada neste objectivo, papai dizia. Após a
identificação do alvo devemo-nos concentrar para atingi-lo! Nada nos deve
demover do objectivo principal! O sono proporciona relaxamento e renovação das
energias, mas dormir mais do que o necessário é um desperdício de tempo e de
oportunidades. Quem muito dorme baba no travesseiro! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Tudo
isso aprendi-o com papai. Quando eu nasci, ele tinha 38 anos de idade. Foi no
ano da África! Nascido em 1922, era um homem de altura média, bem constituído,
forte e sempre bem-humorado. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">A
busca do primeiro emprego, levou-o de Novo Redondo até à região montanhosa do
Amboim, onde apresentou-se como carpinteiro na fazenda cafeícola da
Boa-Entrada, C.A.DA. Levava uma caixa onde tinha o serrote, formões de vários
tamanhos, diversas plainas e martelos. Era uma altura em que não se ouvia falar
do currículo vitae. Era o desempenho profissional que contava na conquista da
simpatia do patrão. A humildade, o respeito e a honestidade eram requisitos para
singrar na vida!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Analfabeto,
lia a bíblia, todavia mal sabia escrever o seu próprio nome. Comprou várias
fazendas de café e resistiu às pressões permanente de vizinhos monopolistas como
Mário & Cunha e Marques Seixas. Foi o primeiro a matricular os filhos na Escola
Primária do Amboim, porque queria que seus filhos fossem como aqueles brancos
que trabalhavam no Banco Nacional de Angola ou na Fazenda e Contabilidade. Era
um grande orgulho ter um filho no Banco ou na Fazenda, não é como agora, que
funcionário bancário poucos meses depois de ser admitido é apanhado a
falsificar cheques ou a simular roubo em conluio com bandidos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Quando
a produção do café começou a minguar diante da moleza, não obstante o esforço
no aprimoramento técnico, com empreendedorismo investiu na produção do algodão
na região do 40, Porto Amboim. Ali conseguiu 8 hectares, nos limites dos quais
semeava milho para sustentar a mão-de-obra. Nas férias, era festa grande, pois
todos os filhos desciam de comboio para participar na colheita do algodão,
voltando apenas na véspera do ano lectivo, que ocorria dia 11 de Setembro.
Apanhavam o trem nas Lassetes, ou na Gonga, estação logo a seguir, passavam
pela Boa Viagem, 70 e desembarcavam felizes com as suas trouxas na Quijiba, ou
Torres. Depois a pé caminhavam vários quilómetros até a lavra do 40. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Mesmo
sabendo apenas escrever o nome, conseguiu tratar juntos das autoridades
portuguesas os documentos de porte e uso de arma de caça, com que passou a
sustentar a família. Não tardou a ser chamado o “Homem da carne seca” em toda a
região. Quem não o conhecia pessoalmente, dificilmente pode negar ter pelo menos
comido da boa carne seca de Velho Kamupinda! Lá em casa, comercializava-se de
tudo desde peixe seco, carne de veado, pacaças e javalis e tabaco produzido na
região do Novo Redondo. Era sim empreendedor! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Depois
do 25 de Abril, chegaram os movimentos de libertação e as desarmonias insufladas
pela guerra fria que opunha os Blocos Ocidental e o do Leste. Vivia-se o
período que o francês Raymond Aron chamou de “guerra improvável e a paz
impossível”. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">O
negócio do bago vermelho e do algodão faliram, a caça foi proibida ou impedida
pelo conflito militar. Que fazer? Foi aí que decidiu ser condutor de camião na
Empresa de transportes Públicos, vulgo ETP. Mas como, se não sabia ler e nem escrever
em condições? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Acredite!
Matriculou-se na Escola de Condução e decorou o livro de Código de Estrada e de
mecânica. A mim coube a tarefa de ler os textos enquanto ele os repetia. Na
hora do Programa radiofónico “Angola Combatente”, eu ficava dividido. O que é o
motor? Onde é proibido fazer ultrapassagens?... <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">No
dia de exame, ele aprovou com distinção e semana seguinte estava ao volante do IFA.
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Nós
podemos tudo, basta querer, dizia fervoroso! Era preciso aprender a trabalhar
com honestidade e humildade, porque a preguiça ou a indolência são inimigas do
sucesso. O homem mais preguiçoso da aldeia, havia virado quimbanda ou
feiticeiro, para conseguir sobreviver. Enquanto os demais aldeões acordavam
cedo para ir à lavra semear ou proteger a sementeira contra as aves do campo,
ele ficava a aguardar pela colheita. O primeiro milho tinha que lhe ser
entregue para que fosse abençoada. Foi assim que alguns aldeões se tornaram
refém de espertalhões.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Meu
pai, meu herói, está sempre na moda, jamais o deixaria ficar à porta de um asilo!
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Obrigado
Papai!... <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Quem
muito dorme baba no travesseiro!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-14794551762735355572012-08-21T19:27:00.001-07:002012-08-21T19:27:14.309-07:00Língua da morte
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Ontem,
acabado de chegar a casa, depois das habituais arrelias provocadas pelo
trânsito apertado, suspirei e retomei a leitura da véspera: <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">-
</span><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quem nunca quis ter uma
casa de sonhos numa colina com o sol filtrado pelos limbos das plantas do
quintal e lá no fundo um lago com patos a nadar? Pois é, no sonho todos podem,
aliás diz-se que sonhar está previsto em Constituições de todas os Estados. Sim!
Todos têm direito de sonhar! Talvez seja esta obsessão que impele uma minúscula
semente a germinar rompendo a terra e erigindo o caule em direcção ao Sol.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">“Nossa
Vila”, “Nosso Lar” e “</span><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Bem
morar” deixaram para atrás de si um grande remoinho de frustrações e descontentamento,
pois foi um sonho que terminou em pesadelo para a grande maioria dos angolanos.
Para quem mesmo perto dos 50 anos, ainda anda às voltas com o espinho da casa
própria na garganta, sabe o que isso significa para um chefe de família, que
tem sob sua responsabilidade o bem-estar e a auto estima da mulher e dos
filhos. Por isso, a corrente de solidariedade para com os burlados no caso </span><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: Arial;">Grupo Build Angola</span><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">.
Sabe-se o quanto dói o dinheiro ganho com grande sacrifício e a expectativa
frustrada de toda a família que ansiava mudar-se para uma nova casa com quarto
para cada criança, cozinha espaçosa, quintal, suites, escritório, enfim uma
casa com habitabilidade. Mas tudo isso acabou como um simples sonho enfronhado
pela dor. Agora entendes? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Ingressou
ao grupo dos sem casa própria, logo após atingir a maior idade. Abandonou o
doce lar com a esperança de caminhar com os seus próprios pés. Ao desembarcar em
Luanda, morou em casa de aluguer. Primeiro, no bairro Prenda, ali bem perto da
Oitava Esquadra. Dia e noite deambulava com outros jovens da sua idade a busca
de festas para comer, beber e dançar. Para ir ao trabalho descia à pé ao invés
de esperar pelo autocarro. Descia pelo areal, apanhava a estrada da Samba, passava
pelo Zamba 2 e seguia tranquilo até à Mutamba. Prenda ainda era Prenda e não tinha
esse amontoado de chapas, lixo e blocos!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Aos
23 anos, já com a cônjuge mudou-se para a Ilha de Luanda, ali bem perto do Marítimo
e da Loja do Povo onde fazia as compras no tempo do célebre Cartão de Abastecimento.
A casa tinha apenas um cómodo para o casal e a filha, a primeira de uma lista
que supera os dedos de uma mão! Num canto, estava o fogão da Sonangol,
adquirido graças a requisição do patrão da esposa, e do aparelho de TV
preto-e-branco atribuído a si por ter sido considerado Destacado na Emulação
Socialista. Do outro lado, separado por cortina de pano de Congo, estava a cama
e duas malas de chapa com roupas. Um fio unindo as duas paredes do ângulo recto,
feito a hipotenusa de um triângulo, servia de cabide. É lá onde pendurava os
trajes, na sua maioria roupa usada, e outra adquirida em lojas abastecidas pelos
Sábados Vermelhos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Durante
a noite, o delírio de prazer alheio chegava através da abertura deixada pela
meia parede que separava o cómodo da do vizinho. E sobressaltados, avisados por
uma voz masculina do outro lado, sabiam-no: a neblina cairia dentro de pouco
tempo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Na
hora do almoço, voltava para casa, ia e vinha com o autocarro nº 28 que ligava
a Ilha do Cabo ao Porto de Luanda. O Panorama ainda era Hotel e sobressaia no
Cartão Postal da Ilha da Kianda. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Certo
dia, uma contrafé bateu-lhe a porta. A vizinha dos delírios da noite e que se
exprimia com sotaque francês reivindicava a outra parte da casa. Os fiscais
também percebiam francês e acabaram por se entenderem para a sua desgraça.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Na
época, os despejos eram frequentes, pressionados por falta de habitação.
Requerimentos com denúncias inundavam a Secretaria de Estado da Habitação.
Ainda guarda zeloso a cópia de muitos deles pedindo mui respeitosamente que se
dignassem a autorizar a ocupação de um imóvel para morar.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Nada!
Com a mulher grávida, seis meses depois de se ter mudado para a Ilha, partia errante
por Luanda à busca de um novo paradeiro. Poisou novamente no Bairro Prenda e
depois foi para o Cassenda. Sempre em casa de aluguer!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">No
Cassenda, depois das eleições de 1992, o casal dono do apartamento entra em
litígio e decidem vendê-lo. Apanhado de surpresa, demanda-se aflito para o
bairro Benfica, levando sempre consigo o sonho da casa própria.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Hoje
vive no Zango, conformado com a recusa de um banco em conceder-lhe crédito
habitacional, pois apontam a idade como condicionante. Com 50 anos idade, teria
de pagar o crédito em apenas 10 anos, o que significaria um esforço financeiro que
o seu salário não suportaria. Saiu da agência desiludido. O limite de crédito habitação
são os 60 anos de idade. A exigência, atrás da qual se escudam os bancários
engravatados, é que aos 60 anos deve-se liquidar todas as dívidas com as
instituições bancárias. E os anos restantes que se nos acrescentarem são
considerados de compensação e neutralizações.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Pronto,
já está-se no Zango! Desde que mudou-se por iniciativa própria para o Zango, nos
últimos 4 anos converteu-se, de forma inusitada, num verdadeiro fiscal de
obras. Conhece de tudo um pouco, inclusive a data de início e as respectivas
empreiteiras a quem as mesmas foram adjudicadas. Ainda lembra-se da alegria
pueril com que foi acolhida a boa nova. Troços, traços, pregos, buracos,
empreiteiras, vala. As câmaras e as manchetes amplificaram o Projecto ainda em
maquete. Viu as obras de alargamento da estrada de Viana e as dificuldades
encontradas pelo engenheiro para vencer as águas que nasciam por debaixo do
pavimento. Não entendia do assunto, era como um médico querer tratar de ensinar
a redacção do lead ao um jornalista decano. Mas há polivalentes por aí que
alegam possuir experiência para leccionar todas as disciplinas de um curso. Era
leigo, mas já construiu uma casa de raiz, numa altura em que o tijolo dominava
o mercado de construção civil. Fazia as misturas de cimento e areia sem
obedecer a qualquer proporção. Mais cimento para ficar firme! Será que pode ser
considerado engenheiro? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Voltemos
aos carris. … Acompanhou animado as várias etapas da obra da estrada da Samba, Benfica-Cabolombo.
Os seus olhos viram a poeira, que levantada pelos pneus, pairava sobre os
limbos das árvores e do capim das bermas da estrada. As obras da Nova
Centralidade, do Estádio 11 de Novembro e os vários projectos habitacionais que
foram nascendo ao longo da via, feito cogumelos, atraídos pela perspectiva de
se ter um pólo de desenvolvimento por perto. Morar na periferia tem-se essa
vantagem de saber-se tudo que se passa fora e dentro da cidade. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Angustiado
também viu os vários acidentes que passaram a ocorrer com maior frequência à
medida que o pavimento era melhorado. Não entendia de engenharia mas tinha uma opinião,
mas que raros escutavam. Dizia: Atenção às línguas da morte que existem
espalhadas pela cidade. Os retornos vieram substituir as rotundas, tudo devido
o aumento do trânsito rodoviário. Mas uma coisa o intriga: Sempre que se realizam
campanhas de prevenção rodoviária, às culpas pelo alto grau de sinistralidade é
imputada aos motoristas e peões. Alegando excesso de velocidade, imprudência,
consumo de álcool etc. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Das
línguas da morte nada se falava. Uma boa parte dos acidentes na estrada de
Viana e Samba ocorre nos retornos. Aliás, na via da Samba por altura do Morro
da Luz, depois de variadíssimos acidentes e vítimas, a empreiteira retornou ao
local para reduzir a língua de betão. A noite, as ruas estão escuras e esta língua
traiçoeira facilmente se confunde com o escuro. Ao menos que fossem devidamente
sinalizadas com reflectores, caso contrário, ainda teremos mais vítimas nesta
noite. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 12pt;">Cuidado
com a língua da morte, seu beijo pode ser fatal!<o:p></o:p></span></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-19283914472911465792012-08-21T19:25:00.001-07:002012-08-21T19:25:44.526-07:00Pensamento flutuante
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Os
pensamentos roubavam-lhe o sono. Acordava cedo e procurava ocupar-se com algo
que lhe ajudasse a matar o tempo. E num dia igual aos outros e imbuído de
sentimentos que eram a sua rotina, apanhou o autocarro com destino à baixa de
Luanda. Eram 10 horas.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">No
bairro Morro Bento, subiu uma jovem que veio sentar-se ao seu lado. Que sorte!
Chamava-se Miquilina Ngueve, natural do Bié, e vivia sozinha num dos bairros de
Luanda. E trabalhas? Sim, sou <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">PISCÓLOGA</b>.
Sorriu descontraída. Wandalika aceitou com relutância a profissão. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">PISCÓLOGA</b>! Pelo traje bem poderia ser
confundida com uma vendedora ambulante do mercado existente por de trás dos
antigos Armazéns Gajajeiras, vulgo Arreiou-Arreiou. Lá o negócio é feito no
meio de lama, facto que obriga os clientes a calçarem sacos para não sujarem os
sapatos. Mas aceitou, era preciso fazer fluir o diálogo. Vive sozinha por quê?
Tio, essa é uma grande história, não vais ter tempo para me escutar. A viagem
está quase a terminar. Vais até aonde? Vou à Mutamba. Vou ter tempo, conta!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Wandalika
insistiu até que ela decidiu desfazer o novelo da sua história: Eu sou natural
do Bié. Lembra do tempo da guerra? … Pois, eu e o meu irmão Catraio viemos para
Luanda para fugir a guerra. E os teus pais? Eles ficaram lá. Como? Eles só nos
colocaram no avião. Não havia mais lugar, toda a cidade queria vir para Luanda.
Eles ficaram e nós viemos! Quantos anos tinham na altura? Eu tinha 13 anos e o
meu irmão, nove. Vocês já conheciam Luanda? Não! E como é que foi ao chegarem
aqui? Viemos só. Chegamos no aeroporto, descemos e depois fomos andando...
Ficamos uma semana naquelas barracas do aeroporto. Durante o dia, ajudava as
senhoras a lavar a loiça e à noite ia passear ali perto no Cassequel do
Lourenço, depois no Mártires do Kifangondo, no Cassenda e na baixa. E dormiam
onde? Dormíamos em qualquer sítio. Ou na barraca ou nas sucatas ou ainda na
rua. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Wandalika
ficava cada vez mais intrigado. Mas você é formada, podia arranjar um emprego
como psicóloga! Ela sorriu numa longa gargalhada. Desconfiado, Wandalika
avançou com mais cautela. Aquele sorriso era uma máscara que escondia algo
importante. Então você não é formada em Psicologia? Mais ou menos. Como assim?
Eu trabalho com pessoas! Pessoas? Sim, pessoas que precisam de ajuda. Ajuda <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">PISCOLÓGICA</b>! Ah, tá! E tens muitos
clientes? Muitos doutores, grandes chefes, bosses de verdade, funcionários,
kabolas e tudo. Basta ter dinheiro! E quanto ganhas por dia? Depende! Depende
do dia! Aos fins-de-semana ganha-se mais, mas uma pessoa fica partida. Mas em
que clínica trabalha? Por conta própria! Então você é empreendedora? Mais ou
menos. E quais são os teus planos para o futuro? Quero arranjar dinheiro para
viajar. P’ra onde? Para ir ver os meus pais. E o teu irmão? Ela baixou a cabeça
e entre soluços disse: ele morreu. Lhe mataram num senhor. Por quê?! Ele lavava
carro no aeroporto. um boss lhe mandou lavar o carro dele. Eu até lhe vi,
quando lhe deram o trabalho. Era já mesmo cliente dele. Todos dia ele lavava e
recebia dinheiro à tarde. Certo dia, quando o boss veio encontrou os espelhos
não estavam, roubaram. Falou que meu irmão é que roubou. Aí começou a lhe
bater, lhe bater, lhe bater. Ele começou a dizer que não era ele, mas o boss
continuou a lhe bater. Só lhe deixou quando ele começou a vomitar sangue. Dois
dias depois morreu. Não levaram ao Hospital? Fomos até na Maria Pia, lhe deram
uma pica e lhe mandaram voltar. Dia seguinte, morreu. A polícia levou o corpo
na molga. Como não tinha nenhum documento, assim lhe enterraram na vala! Eu
também não tinha condições para lhe enterrar! É muito triste! Sim, agora estou
sozinha. Por isso quero ir me m’bora no Kuito. Mas o dinheiro não chega. E não
aconteceu nada ao boss? Nada, anda aí! Não está preso? Quem vai lhe prender?
Pobre não prende rico! O tio não está ver mesmo a situação?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Os
seus olhares se cruzaram. E essa cicatriz na testa? Um tio é que me bateu.
Depois de eu lhe atender não queria mi pagar. Eu lhe segui até no carro. E te
deu o dinheiro? Não, mas também lhe deixei estrago! Que estrago? Quando ele
tentou fugir, eu queria abrir a porta. Ele começou a ofender a minha mãe, eu
entrei na janela e lhe segurei no pescoço e começamos a lutar. Na atrapalhação
o carro acelerou e foi bater numa pedra. Aonde é que foi isso? Na Ilha…O carro
partiu o vidro e começou a sair água quente. Que tipo de carro era? Era preto,
desse tipo dos boss. E ele? Heheheheh! Deixou o carro na estrada, só tirou a
pasta dele e a chapa de matrícula, depois se meteu na floresta da Ilha. Bem
feito! Ele pensa que nós não sofremos! Nosso serviço é chofrimento! Depois há
com cada cliente!... E ainda temos de pagar a casa de processo! Com essa doença
que anda aí, tamos mal!... E descarregou todo desgosto que carregava num
suspiro. É a vida!...<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Já
perto da Assembleia Nacional, Miquilina perguntou, enquanto se preparava para
levantar-se. Gostei muito do tio, tens um sotaque tipo brasileiro. E o tio faz
mesmo o quê? Sou desempregado. Hum, mata cassumuna? Afinal era só lata! Com
essa roupa, eu já pensei m’bora …! Mas kunanga, não acredito ou és da
investigação ou da Igreja Universal?!... Kunanga de primeira!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">No
Cine 1º de Maio, desceu e num salto desapareceu na multidão de passageiros que
desembarcava. Wandalika também desceu do autocarro e, ao caminhar em direcção à
Mutamba, lembrou-se do cheiro exalado pelo corpo de Miquilina. Era do perfume
barato comprado no mercado Roque Santeiro, adicionado ao cheiro de noites
partilhadas na busca de prazeres carnais. Suspirou pensativo. É a vida!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">As
tentativas de rever a Miquilina foram infrutíferas. Então desacelerou o passo e
indolente prosseguiu a marcha sem pressa como se não quisesse chegar ao
destino. Estava desempregado e até já chegou a pensar no suicídio, mas o drama
de Miquilina impressionava-o. Afinal há gente que está pior do que eu! Quis ir
saber do seu curriculum, mas desistiu. Se estivessem interessados o chamariam!
Aliás, no dia do contacto a funcionária já o havia alertado. Há poucas
hipóteses, pois o Gabinete de Comunicação está em reestruturação. São sempre
assim! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Passou
atrás do Cine Teatro Nacional e ao tentar atravessar a Rua de Portugal quase
foi atropelado por um táxi. Correu, mas ainda foi a tempo de ouvir os palavrões
do condutor. Não ligou. Querem me matar aqui! Nem pensar! Malandros! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Incrivelmente
mais animado, acelerou o passo e entrou num bar para urinar. Naquela hora,
trabalhadores e vagabundos confundiam-se no cenário. Pediu um cigarro e um
fino, enquanto bebia reflectia sobre a sua vida. Pediu mais outro e os
restantes ficaram por conta de um amigo de ocasião. Ao sabor do diálogo e da
cerveja, não viu o tempo passar.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm -0.05pt 0pt 0cm; tab-stops: 276.45pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Às 15
horas, agradeceu a gentileza do amigo e encaminhou-se até a Marginal de Luanda.
No calçadão, não acreditou nos seus olhos. Como a Marginal está bonita! E ao
sabor da tarde, deixou os seus pensamentos a flutuar nas águas da Baía.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-79386685507239207652012-08-21T19:24:00.001-07:002012-08-21T19:24:06.177-07:00Vidas sem fronhas
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">No
cimo do seu orgulho muangolê, sorri: Kupapata, Kuduro, Kaenche, Quinguila,
Quilápi…! E admira a força e a facilidade com que o popular consegue introduzir
novos termos linguísticos, ou seja neologismos, no vernáculo oficial. Queda-se
na empatia de heróis do guetto, como “Nagrelha”, “Dadão” e outros, que
transformaram rapidamente o país num gigante e afinado grupo coral: <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Moré, moré Moré, moré … Corré, corré, corré,
cooooorré!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Espirra
e olha de soslaio as pedras e blocos colocados sobre as chapas para segurarem o
tecto das tempestades. Todo candidato a Governador de Luanda devia sobrevoar a
cidade durante várias horas, antes de aceitar a proposta! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Suspira.
Liga o reprodutor e a música suave do octogenário Nga Petelo afaga a alma e dá
um outro colorido à sua manhã. O músico, aos 80 anos, prepara a apresentação do
seu primeiro disco. É como se a vida começasse aos 80. Bem-haja, antes tarde!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Emerge
relutante do sublime! Naquele instante, trava bruscamente para superar um
buraco no pavimento e esboça um sorriso ao avistar um outro carro com vidros
todos fumados. Essa aí vai passar despercebida. Investe num “noivo mecânico”,
ou para passar invisível, como uma ilustre desconhecida. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Afastou
esses pensamentos e prosseguiu calmo e indiferente às traquinices dos taxistas,
à arrogância dos automobilistas e ao desmazelo dos ambulantes, que fechavam a
via com os seus embrulhos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: .quot;Comic Sans MS";">Desceu
paciente até à baixa luandense. Era importante manter a serenidade, pois sabia
o que o esperava no guiché da empresa que era obrigado a contactar naquele dia.
Era cliente antigo e perdera o número de vezes que fora atendido sempre por aquelas
duas funcionárias. Ela eram as donas do espaço. Conheceu-as ainda jovens e esbeltas!
Ah, como o tempo foi daninho para aquelas duas criaturas!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Sabia
as suas vidas de cor e salteado. Quanta inconfidência! Se ela viajou para o
Dubai com o marido, as compras que fez, o hotel onde se hospedou. Toda a
empresa e a restante clientela sabiam o que trazia na bagagem para revender à
quilápi a todos que desejassem. Os pedidos de noivados e os casamentos em que
participara, o cabelo da noiva, a roupa do noivo, o buffet e as censuras sobre
a cor do batom, do vestido ou dos sapatos femininas das convivais. Toda a vida
andava às claras no guiché, esventrada pela má-língua, sem quaisquer fronhas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Aquelas
duas há muito eram colegas numa empresa pública na baixa de Luanda. As
amicíssimas eram parecidas pelo volume dos pneus na região do abdómen, pela cor
da peruca e na lentidão como se locomoviam durante o atendimento. Nunca tinham
pressa e eram imunes às reclamações: Aqui não é casa da mãe Joana! O senhor não
manda aqui! Se quiser vai passear! Incrível, uma delas chamava-se exactamente
Joana! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Não
adiantava reclamar, talvez elas tivessem os seus corpos envoltos em colectes
protectores contra qualquer perfurante! Nunca se sabe, quem fala assim não é
gago! Por isso, a prudência recomendava sobretudo ponderação! Seguro morreu de
velho ou de medo?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Quem
nunca ouviu falar delas, que também eram conhecidas pela rabugice no
atendimento e por isso acumulavam sacos de censuras do público por ficarem a
conversar, enquanto deviam trabalhar? Este e outros comportamentos semelhantes
que levaram muitas empresas a caíram na falência e, na curva, algumas entregues
de quiabo para a outra gestão.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">A
chegada dos telemóveis agravou ainda mais o sofrimento de quem procura os serviços
daquela instituição. Ontem a conversa versava sobre o cônjuge da Joana.
Comentavam: Mas um homem que é homem de verdade nem casa própria tem? Uh, a
fulana, ela sim, é que se casou de verdade. Tem casa própria e carro novo na
garagem. Agora nós, é só esfrega! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Há
tanto tempo que estamos a construir a casa mas as obras não acabam. Parece obra
de igreja! Quando começamos, eu estava grávida da minha primeira filha! É? Quantos
anos tem o seu marido? … JÁ DEU CACHO. Nesta idade ainda vive na casa de renda!
É VERGONHOSO! Estou cansada de mudar de bairro todos os anos. A família até
pensa que estás a fugir das dívidas. Olha, melhor assim, também há família do
marido que é um verdadeiro horror. Só falta uma declaração de guerra. É
verdade! Hoje estás aqui, amanhã estás não sei lá aonde! De tanto mudar de casa
ainda acabas por chorar óbito sozinha. Pelo menos, não te vão expulsar da casa!
Cambadas de ambiciosos, quando trabalhamos eramos só os dois na vida até que a
morte nos separasse, mas depois aparecem outros figurões! É verdade, pelo menos
nunca vão saber para onde te mudastes. Se não fosse os telemóveis estávamos
perdidos no meio urbano! Somos embora ciganos!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Mas
o problema é que a mobília não dura por causa das mudanças frequentes. O meu
sofá que comprei na última viagem, você nem acredita como ele ficou depois do
Coqueiros. Está todo rasgado. Também, do jeito que seguram as coisas, aquilo
até parece que estão com inveja. Esses raboteiros sabem o que é boa mobília?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">E
a outra sorriu. Roboteiro. Raboteiro? Vem de quê, de rabo?... Nem sei. Talvez
de robô. Ya, meu marido também disse que vinha da palavra russa rabota, que
quer dizer. Trabalha! Imagino os russos a gritarem para o angolanos: Rabota!
Rabota! Rabota! Sorriram longamente e fecharam com o gesto de bater as mãos <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>abertas uma na outra. Hum, até já virei
gira-bairro, disse a outra, enquanto colocava os óculos para atender um cliente
que lhe havia aproximado a ficha até bem perto do rosto. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Não
precisa esfregar-me o tal papel na cara. Eu não sou cega!... O homem ficou
calmo, olhou-lhe nos olhos e estendeu-lhe a mão fechada com o punho virado para
baixo. E a tempestade evaporou-se numa onde de espumas. Sabia o remédio certo.
Ele continuou calmo. Não queria estragar a promessa de não se irritar naquele
dia. Aguentou como pôde e finalmente suspirou de alívio quando se viu livre
daquelas duas. Mas o seu diálogo sobre a casa de aluguel o perseguiu. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Interessante!
Numa cidade em que tem-se dificuldade de se indicar o endereço, porque
anualmente mudamos de casa, num verdadeiro nomadismo urbano. Interessante,
conhece-se novos lugares, novos vizinhos com seus bons-raros hábitos e
maus-copiosos-vícios. Arrastam o saco de lixo escada a baixo, estaciona
enviusado fechando as outras viaturas, e quando chamado, manda passeia a buala
toda, buzina à meia-noite para abrirem a porta do apartamento no 9º andar. Pára
para conversar com o outro automobilista seu amigo e esquece os restantes,
rabujando ao ser incomodado. Depois dizem que gente que nasceu na esteira no
quimbo é que se comporta assim. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Há mais
30 anos, ou melhor desde os 18 anos que se está na procura angustiada de uma
casa condigna para se morar. O fim de cada ano, renova-se a esperança no ano
seguinte. E o caso habitação perpetuou-se na agenda das prioridades. Angustia-se,
sobretudo para quem aos 50 anos, depois de tantos programas quinquenais, ainda
tenha a casa do sonho pendurada no plano. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Casa de
aluguel é um fenómeno urbano, porque nas aldeias, quem quer habitação construía
com os materiais locais. Tudo que se necessitava estava aí à mão de semear: terra,
paus, pedras e capim.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A conjuntura, marcada pelo êxodo das
populações das províncias para Luanda, fruto do conflito, propiciou o aumento
vertiginoso da procura por habitações. Assim a década 80 e 90 do século passado
foram os mais marcantes no que diz respeito aos despejos administrativos, por
falta de documento que legalizavam a posse de determinada habitação. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Inexistem
dados estatísticos para fiabilizar essa afirmação, mas há realidades que se
constatam sem a frieza dos números. Para quem viveu aquela época na cidade de
Luanda, mesmo sem óculos, chegaria à presente conclusão.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A desonestidade ganhou novos e fortes
adeptos!<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Certo
dia com a ajuda de um amigo obteve informações fidedignas de que o apartamento
estava sem qualquer proprietário. Pois o inquilino, vendo-se incapaz de
liquidar o aluguel atrasado de vários anos de inadimplência, numa noite saiu
sorrateiramente depois de construir a sua casa no bairro da Petrangol.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">O
caminho estava aberto. Dia seguinte, fez deslocar uma patrulha. Elaborou-se o
requerimento dirigido ao Comissário Provincial de Luanda. Naquela altura, bastava
vigiar um apartamento durante uma ou duas semanas, caso não se notasse qualquer
presença humana, para que se pudesse despoletar o competente processo de
denúncia e consequentemente de despejo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">É assim que a bananeira deu
cacho, imbondeiro sumo e gelado, mas ele ficou a espera. E como cigano continua
a cantar:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Hoje tô aqui/amanhã ali/Benfica, Cacuaco/ não
tenho endereço/não Zango não/se quiser espera/na porta do Camama! Viva sem
fronhas/Nem amortecedores<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS";">Viva os ciganos urbanos! <o:p></o:p></span></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-55150368070628907662012-08-21T19:23:00.000-07:002012-08-21T19:23:18.017-07:00FIM DO MITO
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Era
sempre assim. Seguíamos tranquilos a rotina das nossas vidas humildes, como o
rio Mazungue faz o seu percurso, descendo silencioso o mesmo leito de
antigamente. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Lá
em casa, a mesa farta se enchia de algazarra nas horas das refeições, mas
quando a estiagem minguava a colheita, o prato de funge e de feijão tornavam-se
comuns para toda a miudagem. Era a melhor forma para distribuir o pouco que se
tinha na dispensa. Os adultos vigiavam cada colherada, sendo a desonestidade no
encher a colher ou no comer apressado entulhando a boca de alimentos, punidas
com censura ou com a suspensão temporária de voltar ao prato até que os demais
recuperassem o atraso. Quem fosse último, lavaria os pratos, porém, apesar da
fome, poucos aceitavam essa empreitada, saltando antes de ser declarado
comilão. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Dezembro
de 1973. Ainda fervilhava a saudade do paladar dos pratos feitos com folhas de
mandioqueira, de abóbora e rama de batata. Na fome, as folhas de gindungo e
mamoeiro viravam também alimento. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Foi
na busca da sobrevivência, que meu pai acordou cedinho, aprontou a sua moto
vermelha de marca Floret e partiu. Passou na Boa-Entrada, desceu o morro da
Giraul e passou pelas salinas com destino às Cachoeiras da Binga, ali perto do
Novo Redondo (actual Sumbe). Na bagagem amarrada no suporte com fitas de
borracha, levava sal para a carne de prováveis presas. Ao chegar, com a sua
arma de bala 375 embrenhou-se na profundidade da mata dominada por gordos
embondeiros e cactos altos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Semanas
depois, vimos uma carrinha a aproximar-se da nossa casa. Na carroçaria, estava
sob a lona, a perna e o braço de uma pacaça. Perfilados, esperamos
sobressaltados. O condutor era-nos estranho. Mal o carro parou, abriu-se com
vigor a porta do pendura. Era o meu pai! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Contrariamente
ao que era normal, todos ficaram assustados, pois ele trazia a cabeça envolta
em ligaduras ensanguentadas. Tremi. Minha mãe, correu com os braços abertos na
sua direcção. Abraçou-o e preocupadíssima quis saber logo o que havia ocorrido
ao seu amor. Sorrateiro, olhou-nos com carinho e a mornes do sorriso que trazia
no rosto, amainou a tortura da espera. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Com
certeza, pensou-se logo em acidente de motorizada, mas não. Na ausência dos
telemóveis de hoje, a notícia tardava a chegar ao destinatário. E se ele jamais
tivesse voltado a casa?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Diante
da impaciência da curiosidade, depois de beber a água de jatona (lata de um
litro transformada em copo), contou animado as suas peripécias. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Numa
tarde, depois de ter perseguido uma manada por mais de dez quilómetros, num
vale, avistou uma pacaça solitária a pastar. Mastigava calmamente. Parou e
olhou à volta desconfiada. A brisa farfalhava a vegetação. O caçador, com
respiração suspensa, rastejou sobre o capim verde. Acomodou a coronha no ombro
direito e fez a pontaria. Premiu o gatilho calmamente e a agulha percutora
veloz atingiu o cartucho. A explosão cortou o silêncio da floresta, despertando
bichos adormecidos ou interrompendo as carícias que a embriaguez do entardecer
propiciava. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">O
animal surpreendido pelo disparo, correu desnorteado. Rapidamente, o caçador se
levantou e aproximou-se de um embondeiro. Afastou a folhagem com o cano e
pé-ante-pé, aproximou-se do local, onde antes se encontrara o animal a tomar a
sua última refeição. No rasto, apenas as marcas dos cascos, na hora do arranque
precipitado em prol da vida. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Cinco
metros depois do local, confirmou a sua pontaria sempre infalível. A pacaça
havia sido atingida, mas teve ainda força para fugir. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Com
atenção redobrada e a arma desengatilhada, continuou minuciosamente a
perseguição. Depois de 20 metros, o rasto inverteu para a esquerda descrevendo
a letra U. Com o coração aos pulos, parou e olhou desconfiado para os lados,
foi exactamente naquele instante que a pacaça ferida partiu para a desforra,
atirando os seus mais de 500 quilogramas contra o caçador. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Este
instintivamente saltou feito uma mola antes comprimida e agarrou-se ao ramo de
um arbusto. O chifre do animal atingiu as suas nádegas, na sequência o corpo
foi projectado para cima e a cabeça atingiu os espinhos do ramo do pau-ferro. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Há
cinco metros, a pacaça, ofegante, preparava um novo assalto, quando o caçador,
depois de apanhar a arma fez um novo disparo, atingindo a testa do animal. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Meu
pai era um grande herói. Era a imagem de um homem forte, corajoso e valente
diante do qual nada era impossível. Mesmo ferido gravemente na cabeça, ainda
sorria.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Cresci
com essa imagem masculina depositada no subconsciente até que em 1976, ao
entardecer, ele recebeu a notícia sobre algo que havia ocorrido com a sua mãe,
Lemba Zongo. Papá, está chorar por quê? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">A
avó havia morrido de repente na localidade da Gangula, quando regressa da
lavra. Meu pai e minha mãe choraram juntos. Ela enxugava as lágrimas com o
pano. Mamã, é quê? Não respondeu, mas perguntou-me entre lágrimas: tens
fome?... Eu disse que não, mas mesmo assim ela fez o funge, serviu para mim e
continuou a chorar. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Então,
desamparado, também comecei a gritar acelerando as minhas lágrimas. Assim,
ficou abandonado pela primeira vez o almoço. A refeição é agradável, quando
tomada em boa companhia.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Eu
na minha inocência apenas chorava, mas não entendia, o motivo pelo qual estava
aquele homem, que era meu ídolo, com os olhos cheios de lágrimas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Então
se desfez o mito segundo o qual os homens nunca choravam. No berço, se
inaugurava um ciclo de lágrimas que apenas terminava com o apagar da luz da
vida. Ao nascer, com o primeiro suspiro, uma criança normal chora, caso
contrário os adultos solícitos com palmadinhas nas nádegas obrigar-lhe-iam a
fazê-lo. E se mesmo assim o recém-nascido se mantivesse em silêncio, um mundo
de preocupações invadiriam os pais e os demais adultos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Para
a criança com a sua angélica fragilidade, o choro é importante, pois passa a
funcionar como um sinal de alarme estridente que alerta os pais de alguma
anormalidade. O grito desesperado da fome pelo leite ou mesmo a reclamação pela
humidade das fraldas descartáveis, cuja promessa da impermeabilidade para as 24
horas consecutivas são apenas publicidade. Essa que desde a ágora vende
ilusões.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Aos
12 anos, termina a infância e é desse período de que tenho mais saudade, talvez
porque tinha mais tempo para brincar e sonhar. Quando se é criança até as
lágrimas possuem sabor que a língua interceptava no seu trajecto descendente. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Eis
a lição das crianças que fica para os adultos: bebé que não chora não mama. Mas
se não houver leite e não tiver dentes, o melhor é comer matete, para enganar
fome.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="ecxmsonormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: #2a2a2a; font-family: "Comic Sans MS"; mso-bidi-font-family: Tahoma;">Os
adultos também choram, por mais variados motivos. Eu, no dia 31 de Agosto de
2012, quero chorar. Quero chorar de amor por Angola. Quero chorar de alegria,
pois com o meu voto quero contribuir decisiva e definitivamente para a paz,
para o aprofundamento da reconciliação nacional e para a construção de uma
sociedade desenvolvida assente na solidariedade social e na justiça. Com a urna
nunca se brinca!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-24857485073633737032012-08-21T19:16:00.002-07:002012-08-21T19:16:33.157-07:00Curiosidades do meu caçula<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Naquele
tempo, por essa altura, um grupo de contratados caminhava curvado sob o peso do
saco de café cereja. Alguns cantavam entre murmúrios uma canção na língua do
planalto, para disfarçar o esforço, enquanto outros transportavam numa das mãos
a catana ou um aparelho de rádio de marca Philips. Nos altifalantes destes
aparelhos feitos de madeira ou plástico, aos borbotões, saia música da Rádio
Lobito com seu Joaquim Viola. O sol, na hora da saudade, espreitava entre
folhas e galhos de gigantes mulembeiras. Seria um cenário lindíssimo, paradisíaco,
se não contasse com personagens nativas muito tristes, sofridas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Uma
vez ao voltar da escola, com os livros e a bata no saco de plástico, encontrei
um colono baixo, gordo e barrigudo cercado por vários contratados esfarrapados
e com olhares terrosos. O ngueta gritava e gesticulava sem parar: Cambadas de
calcinhas e vadios!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Negueta?
Não, Ngueta, o branco! Creio, que o patrão estava muito chateado com algo que tinha
corrido mal. Por isso vociferava contra aquela gente humilde que refugiava o
olhar pesaroso para o solo coberto de poeira vermelha. Passei medroso, mas
ainda vi o patrão a esbofetear um dos contratados antes de subir na carrinha de
marca Peugeot de cor cinzenta. E partiu deixando poeira sobre o pobre coitado
estendido na berma da estrada. Se desfez em lamúrias a roda de companheiros que
antes o cerca. Alguém apanhou e mastigou folhas de goiabeira e colocou a pasta
sobre a ferida aberta por uma pedra. E toda a aldeia lamentou a violência do
patrão, mas ao anoitecer fechou a porta de medo para evitar que o sono fosse
cortado por qualquer imprevisto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Aos
ouvidos da aldeia chegavam boatas segundo os quais os colonos cortavam as cabeças
dos negros para depois as utilizarem nas máquinas de descasque de café. E muita
gente acreditava ao ponto de decifrar vozes humanas entre os ruídos do motor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Mas
por que razão tanta gente não dava uma queda naquele patrão? Se fosse nós
agora!...Tens razão, meu filho! Com certeza, eram muitos contratados, eram
muitos braços e pernas, mas tinham nas várias cabeças o medo da reacção da
administração portuguesa. O colono estava sozinho aí naquele lugar, mas tinha
atrás de si toda uma máquina de repressão treinada para combater qualquer
desobediência. Muitos tentaram no auge do desespero, jogar-se contra o patrão,
mas também muitos morreram na sequência. Por isso, eis no doce pôr-do-sol, aquela
tela de humilhação e subserviência. Daí a razão do 4 de Janeiro, o 4 de
Fevereiro e o 15 de Março de 1961.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Li
outro dia um poema que falava dos contratados, eles sofriam muitos. Basta ler
Sagrada Esperança, ou os poemas de António Jacinto como “Monangambé” ou ainda <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de outros escritores como Jofre Rocha no livro
“Assim se fez Madrugada”, para nos apercebemos do sofrimento pelo qual passaram
os nossos antepassados. Aliás, até bem recentemente havia um filme que retractava
a realidade dos negros com muito realismo. Mandingo! Era um filme sobre a
exploração da mão-de-obra escrava nas américas. Passou na televisão nos anos
oitenta e, nos cinemas, ficou muito tempo em cartaz. Também ali no Tivoli,
quando ainda os filmes eram a grande atracção para os casais de namorados nas
tardes de domingo. Muita gente não conseguia acabar de ver o filme, pois ficava
revoltada ao rever o sofrimento de um ser humano só pelo facto de ter uma cor
de pele diferente. Os espectadores se identificavam com o personagem negra, no
caso o Mandingo, que depois de espancado violentamente era assassinado. Era uma
cena horripilante. Não eram só os filmes, também muitas telenovelas mostravam
exactamente o quanto os negros sofreram e sofrem ainda hoje no mundo por causa
da discriminação racial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Um
homem só por ser branco dava-se o direito de assassinar uma outra negra. O
homem é mesmo lobo do próprio homem. O homem é o único ser que mata o seu
semelhante. O leão não come leão igual. Veado não come veado. Mas homem come
homem! É verdade, mata e come! Agora já podes perceber quanto risco corre a
vida. Não é pura ficção, é realidade ficcionada. "Lupus est homo homini
non homo", como escreveu Plauto. Foi essa dura realidade que fez nascer
Zumbi dos Palmares, Mandume, Luther King, Agostinho Neto, Mandela, Paiva
Domingos da Silva e tantos outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">É
a vida. Mas saiba que vidas fragilizadas pela pobreza se tornam muito mais
vulneráveis? Mas falas sempre da pobreza. O que é ser pobre? Depende da
perspectiva, mas no essencial a pobreza significa incapacidade de alguém obter
o fundamental para si e sua família puder viver feliz. Alguém que passe fome
por não ter alimento, que não tenha emprego que lhe proporcione uma renda que o
sustente, que esteja desprovido de uma casa condigna para morar, que tenha falta
de assistência médica, falta de acesso à educação de qualidade. Alguém que não
consuma água potável e energia eléctrica é mais do que pobre, é miserável! Por
isso o Governo criou um Programa de luta contra a pobreza. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">A
tua aldeia é sempre referida com tanta saudade como se fosse o melhor lugar do
mundo. O avô era rico, tinha dinheiro e boa casa? O meu pai e a minha mãe
trabalhavam a terra de onde retiravam o sustento para toda a família. Cultivavam
milho e feijão que constituíam a base da alimentação da família. Também
cultivavam café, palmeira de dendê e algodão para aumentar as receitas que
serviam para comprar roupa, pagar propinas na escola, medicamentos e outros
bens essências. A nossa casa era enorme e feita de adobes e coberta de chapa de
zingo. Tinha uma sala grande com uma mesa cercada por muitas cadeiras, pois nós
eramos muitos irmãos. Ainda viviam connosco alguns sobrinhos. Aquilo era um
quartel com várias casernas. Os rapazes tinham o seu quarto e as meninas
também. E um armazém onde se guardava tudo. Desde milho, mandioca, ferramentas,
balanças, café e tudo o necessário. Esta era a área de logística da nossa casa.
A casa continua lá abandonada no meio do capim. A cozinha era separada da casa
principal. O edifício da cozinha tinha três divisões. Um era para arrecadação
de material de apoio, como pilão, catanas, canguichi, ou seja pau que é
utilizado para socar ou pisar o milho e a kizaka, e outros materiais afins. Num
outro lado, era o quarto da avó Lemba. Nossa casa não tinha luz nem água. A luz
era de candeeiro a petróleo e a água nós íamos buscar na nascente com sangas e
canecos (recipientes feitos de chapa pelo serralheiros da época). Era água
pura. Não tínhamos casa de banho. As necessidades eram feitas no capim. Que
isso, papá? Cavávamos com a enxada e depois tapávamos. Ah, pensei! Depois fez-se
uma latrina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Falas
tanto dela. Quem era a avó Lemba? Avó Lemba era a mãe do meu pai. Sabes que o
meu pai era o primeiro filho da Avó Lemba. Avó Lemba era de meia altura e tinha
a pele muito clara. Se fosse hoje com essa febre das cores… Mas não, era negra
como nós e trabalhava no campo. Ao cair da tarde, regressava com a sua enxada
amarrada às costas e fumava o seu cachimbo. Ainda vejo-a a contar histórias do
seu tempo. Contava que certo dia os colonos vieram com aviação para matar todos
os negros por serem bandidos. Toda a aldeia ficou apavorada. Ela não falava em
datas. Eu perguntava, mas ela apenas contava o medo que sentia ao ver as armas
dos brancos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Não
consigo imaginar a vossa vida, sem água, sem luz e sem canal Panda. O pai diz
que por essa altura terminava o ano lectivo. Nas férias as crianças faziam o quê?
Muita coisa, meu filho! Pai, não tem fotografia de quando eras criança? Não
consigo te imaginar criança! Nem eu! Havia umas fotos a preto e branco, onde
nem eu mesmo me reconhecia de tão magro feio que era. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Eu
cresci desconhecendo a existência real da televisão. Num dos livros de leitura
vinha uma ilustração que diziam ser de um televisor. Era um aparelho enorme suportado
por quatro pernas. Rádio só chegou lá em casa na véspera da independência. Não
sentíamos necessidade. Tínhamos outras preocupações. Se frequentássemos à
escola no período da manhã, à tarde, ao chegar a casa, depois do almoço,
tínhamos que pegar a catana ou a enxada para ajudar os nossos pais na lavoura.
À noite, fazíamos os trabalhos escolares e depois ficávamos à volta da fogueira
a ouvir estórias dos adultos. Dormir depois do almoço, nem pensar! Tínhamos
tempo para brincar, construir brinquedos, jogar futebol, tomar banho no rio e
sonhar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Sonhar?
Sim! Sonhar de olhos abertos com um mundo onde as crianças corriam atrás de
borboletas de várias cores em jardins com muitas flores. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 18pt;">Queria
aprender a fazer carros de lata! Há muita lata jogada na cidade. Boa ideia!...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A luz veio! Papá, quero ver Panda!<o:p></o:p></span></div>
Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8104590784339032032.post-88729812817955244922010-10-13T00:36:00.000-07:002010-11-06T22:36:42.320-07:00MEMÓRIA DOS 35 ANOS DE ANGOLAUm breve e arrepiado suspiro marca o corte difuso entre o real e sonho. Na minúcia do desdobrar dos óculos para melhor enxergar a palavra escrita, o ultimar do reordenamento das vivências translúcidas nas nervaduras da memória.<br />
Um olhar esticado na picada do tempo e bem lá no fundo está o seu berço, uma aldeia ornamentada pelo verde dos cafezais, banhada pelo rio Mazungue e cercada por montanhas. É lá onde nasceu e cresceu correndo tresloucado atrás de borboletas coloridas. <br />
A notícia sobre o desabrochar dos Cravos da Primavera de Abril de 1974 foi recebida tardia e por poucos, mas não sem alegria. Em grupo, os colonos agora falavam baixinho e olhavam à volta desconfiados! Falavam de um tal Spínola, que usava camuflado e um monóculo para ver o novo mundo em convulsão! Uma nova cena: MFA, Costa Gomes, Mário Soares, Almirante Rosa Coutinho e General Silva Cardoso!<br />
Os nativos, a maioria composta por camponeses e operários humildes, cobriram-se de alguns receios no raiar de um novo dia. - Talvez seja algo efémero! Pois não acreditavam na queda do edifício de Salazar e Caetano. E na sua ignorância secular, antes de adormecer, rezaram e procuraram esquecer a inquietação da véspera. Queriam seguir seu caminho, como o rio Mazungue faz conformado o seu trajecto. <br />
Mas o amanhecer cobriu os olhos de surpresa. Nas paredes da cidade, em letras vermelhas, encontraram escrito: Viva o MPLA! Abaixo o Colonialismo! A Luta Continua! A Vitória é Certa”. Semana seguinte, vieram os cartazes e panfletos: Agostinho Neto, o de boné e óculos, Savimbi, o de barbas, Holden Roberto, o de óculos escuros. A partir dos posters pregados nas paredes, os seus olhos seguiam os transeuntes. <br />
As bandeiras e os comícios e a euforia geral. A delegação do MPLA - UM SÓ POVO! UMA SÓ NAÇÃO - instalou-se no bairro da Aricanga, numa casa cercada de cafezeiros. <br />
A UNITA - KWACHA ANGOLA - instalou-se defronte à antiga oficina de automóveis do Amboim e ao lado do Bar Estrela, no Bairro Cateco, a uns metros do quartel do exército português. A FNLA - ANGOLA OYÉÉ – Liberdade e Terra! Primeiramente, escolheu a pedra da cadeia e depois as instalações do quartel colonial. Tempos de resgate da auto-estima, tempos de sonhos e de liberdade! Cada um escolhera o seu. Cada um o seu critério. <br />
Alguns jovens ingressaram nas FAPLA (MPLA) e foram receber treino no CIR “Sangue do Povo”, no Assango. Queriam ser kwembas, SOLDADOS, mas os treinos eram duros. O alinhamento da formatura era feito com tiros. Era preciso coragem! As canções militares mobilizavam as aldeias! “Quero, quero ser soldado ai-iáiá…quero ser soldado! Com esta farda, aprender a marchar e com as armas lutaremos contra a opressão!” <br />
Os programas radiofónicos conquistam audiência. “De longe ouvi aquele nome inesquecível dos filhos de Angola...Valódia, Valódia tombou em defesa do povo angolano...” assim cantava Santocas. Morre também o comandante Nelito Soares! A dor desce país adentro. A morte do Russo, o homem das motos da Gabela, comove a população local. Russo foi atropelado intencionalmente por um colono, quando estava estacionado. Aiué, Pedro Benje!<br />
E finalmente o que muitos temiam, o tiroteio. Arma G3 e a cartucheira cobrindo a cintura, a Pepechá (arma de disco) e as Sterlings. E as explosões das bazukas! E as correrias! <br />
Na guerra da Gabela, do lado do MPLA, falava-se da presença do Comandante “Incansável”, Sidónio, António Paulino, Urbano de Castro, David Zé e Sabata. Os heróis usavam farda castanha e chapéu à cowboy. As crianças já não eram meninos, viraram pió e imitavam os adultos. <br />
– Arrastou comandó, bate o pé esquerdo! Uma travagem!...<br />
A moda era montar comités e ter mutimbas, armas de madeira, para defender a aldeia. E os acidentes não faltaram. Tomás, um adolescente de 15 anos, feriu-se gravemente na omoplata direita, depois de ter feito um disparo com a sua arma artesanal. A velocidade do percutor perfurou o cartucho e os gases da pólvora fizeram explodir a câmara de combustão. Um estilhaço da chapa atingiu o adolescente. Chovia, mas o sangue salpicou o capim do caminho. Os acidentes multiplicaram-se e enlutaram famílias. Um jovem achou uma granada F1, quando regressava da lavra. Posto em casa, reuniu a criançada no seu quarto, para desmontarem o objecto estranho. Ele e algumas crianças morrem na explosão. Sangue e tecidos humanos salpicaram as paredes caiadas do quarto. A dor estendeu-se a bairros como Culembe, Manda-fama, Pange, Munguco, Nova-Ereira e Londa. Era prenúncio da guerra generalizada que faria jorrar ainda muito mais sangue de irmãos angolanos. Os portugueses, a maioria partiu desesperada deixando tudo para trás! Depois um novo medo chega do Sul. Os sul-africanos invadem o território nacional e traçam Luanda como meta. Passam pela Huíla, Benguela, Lobito e Novo Redondo! As populações recuam aflitas na esperança de salvar a vida! Os invasores atingem as margens do rio Keve ou Kuvo e sentem pela primeira vez o sabor acre de ser alvo da pontaria alheia. <br />
Era Outubro de 1975. Faltavam escassos dias para o 11 de Novembro, o dia da proclamação da independência! Subia a intensidade dos bombardeamentos! Mas os canhões de 88 milímetros dos blindados AML-90 não conseguiram dobrar a defesa da outra margem do rio e às zero horas de 11 de Novembro, as populações do Pange reuniram-se todas defronte ao Comité de Acção para hastear a bandeira Nacional. Era preciso esticar um fio feito antena para melhorar a recepção do sinal da Rádio Nacional.<br />
Aguardaram ansiosos sob o descompasso do coração, até ouvirem entre os ruídos o Hino de Angola Independente. No Norte, a FNLA fez a sua festa. No Planalto, a Unita também! Cada um cantara o seu hino. Não era o “Heróis do Mar!” <br />
No Amboim, era o “Angola Avante!” E a bandeira vermelha e preta foi subindo. A emoção seguia a mesma frequência! Ambos foram subindo, subindo até atingirem o ponto mais alto do mastro de bambu. Abraços, gritos e lágrimas. Tiros feitos foguetes riscaram a noite nebulosa e a alegria perpassou Angola de norte a sul! Estamos independentes! Viva a Dipanda ! Viva a liberdade!<br />
Ao amanhecer, olhos sonolentos insistiam em não dormir e a voz rouca esforçava-se em gritar mais alto ainda, talvez quisesse buscar no grito a bênção dos deuses ancestrais pela tamanha proeza: a independência tão sonhada, tão desejada, tão sofrida e tão esperada por gerações sucessivas de angolanos!<br />
Tinha 12 anos, o seu pé pequeno calçava botas nº 42 e um uniforme verde cobria o corpo franzino. Empunhava uma arma de madeira e guardava um sonho: o de ser um dia militar e poder defender a pátria independente! 11 de Novembro de 2010! Trinta e cinco anos depois, eis-nos aqui corporalizando o devaneio de infância numa Angola que ser quer em paz e reconciliada! E ao percorrer o país, o perfume da paisagem faz gerar novos sonhos! E um sorriso morno banha o rosto: Angola é um país lindo! Vamos caminhar de mãos dadas para construir a nossa felicidade. O horizonte é o espelho de novos desafios! <br />
- Valeu a pena a independência? <br />
- Sim! Quem duvida, desconhece o sabor da palavra Dignidade!Mazunguehttp://www.blogger.com/profile/03164687532195801565noreply@blogger.com0