quinta-feira, 25 de março de 2010

A verdade das crianças!



OS OLHOS DAS CRIANÇAS VÊEM UMA REALIDADE QUE OS ADULTOS IGNORAM!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Angola centro da obra lançada em Lisboa




“Angola e África na Rota de Portugal” é o título do livro do Economista Manuel Ennes Ferreira lançado, segunda-feira, 22, em Lisboa.
- Fazemos parte do Partido África, constituído por gente que tem procurado promover a cooperação entre África e Portugal, disse o embaixador António Monteiro, ao apresentar a obra.
Para ele, da leitura do livro ressaltam 20 pontos importantes entre os quais se destaca a necessidades de se olhar para Angola como sendo um país que por si encontrou a via para o seu desenvolvimento.
Já para o director adjunto do Expresso Nicolau Santos: as crónicas mostram não só o domínio absoluto dos temas sobre que o autor escreve, como os descodifica para o leitor vulgar, servindo-lhe as ditas cujas em doses pequenas, facilmente apreensíveis e sempre polvilhadas com uma pitada de ironia ou de humor. É por isso que se lêem como se tratasse quase de um romance, pois todas elas se entrecruzam e nunca se perde o fio à meada.... Para quem quer saber o que se passa em África, em particular nos PALOP, este livro é indispensável na mesa-de-cabeceira ou no gabinete de trabalho. E para quem quer o exemplo de um académico que sabe descodificar e tornar interessantes os temas mais complicados e áridos, ei-lo nestas páginas.
Manuel Ennes Ferreira é Professor do Departamento de Economia do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa e investigador do SOCIUS, Centro de Excelência da FCT, e do Grupo África e do Conselho Científico do IPRI da Universidade Nova de Lisboa. É Doutorado em Economia pelo ISEG/UTL e lecciona e investiga sobre Economia Africana e questões ligadas ao desenvolvimento e cooperação internacional. É Sócio Honorário da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola.

domingo, 21 de março de 2010

REI ÉDIPO EM LISBOA


A peça Rei Édipo de Sófocles está em cartais no Teatro D. Maria II, em Lisboa. O que mais surpreende ao espectador é a sua actualidade. Escrita antes do nascimento de Cristo, ela fala com segurança para o homem do séc. XXI marcado por um contexto de violência, conflitos, terrorismo, incertezas, insegurança, arrogâncias, falsidade, pobreza, calamidades e corrupção! E a justiça que tarda no dia-a-dia, na peça funciona até ao ponto do rei ser vítima dela ao bem da comunidade tebana!

MULHERES E O REGRESSO DO COMBOIO AFRICANO


Março caminha para Abril! E Lisboa acorda calma para a sua rotina! É Domingo! Na Baixa Chiado, ela procura descontraída na prateleira da loja que comercializa música africana. E lá encontra Bonga, com Rosa Maria, Paulo Flores, com Sassasa, Danny L, com Kalumba , David Zé, com Sofredora, Candinha, Lamento da Angêlica e Mama Kudilé . Mas apenas desabrocha de contente logo ao rever a cantora Tchinina: Hossi, Somaiangue ! Uteque ! Taté , Ekumbi , Mukanda …!
A razão da escolha talvez resida no mês de Março dedicado às mulheres! Talvez, há escolhas mudas.
E no regresso a casa, o embalo na voz de Tchinina recoloca-lhe o aparelho de rádio de marca Philips empoeirado ao ombro décadas depois da última farra ali bem perto do rio Mazungue, na Gabela. Entre cafezeiros, ginga confundindo o seu andar com o da gazela.
Apanha o comboio em Sete Rios e parte! O tapete verde desliza na velocidade das lembranças, onde o único solavanco que chocalha a alma é a melancolia da saudade. No rastilho da paisagem em convulsão, desfilam laranjeiras e tangerineiras com seus frutos maduros pendentes enfronhados no seu aroma. As aldeias correm atrás. A angústia escava a Tundavala da melancolia naquela tarde chuvosa de inverno. No êxtase embrulha e expulsa tudo num longo suspiro! Mas fica no desejo! O enleio persiste!
Lá fora, a chuva cai e lentamente a água acumulada no tejadilho desce sobre o vidro embaciado da janela do comboio, que liga Lisboa a Sétubal. Mas ela percorre um outro atalho entre a cidade da Gabela e a de Porto Amboim numa distância de 123 quilómetros de extensão de linha.
Mano, olha fruta fresca! Era assim que na estação da Boa-Viagem as camponesas com seus filhos às costas ofereciam laranjas, tangerinas, agrião, couve, repolho, abacate e óleo de palma aos passageiros. Os produtos eram de qualidade e baratos! E o seu comboio do Caminho de Ferro do Amboim (CFA) ainda fumega no morro da memória.
Adicionada à paisagem de pomares, depois da estação do Setenta-Quirimbo e Torres-Quijiba emerge, nas bermas, as plantações de algodão. Aqui e acolá gente curvada protege a cabeça com o chapéu-de-sol. Nas mãos, o cesto de palmas cheio de tufos de algodão.
Fogueteiro! E a buzina do comboio eléctrico empurra-lhe para a praia. E desperta! Era diferente! A do seu comboio tinha vida própria. Tinha voz de gente falecida na construção da ferrovia! O corta-cabeça povoa o medo das aldeias. Dizia-se! O comboio gritava e dialogava com os falecidos! Uéé-Uééééé! Pouca-sorte-pouca-sorte-pouca-sorte-pouca-sorte!
E electrizava a garotada que corria na sua loucura inocente para ver o trem passar. Acenavam e enchiam a cabeça de sonhos! Era o Comboio Africano que virou signo precursor da libertação da Mãe Negra oprimida e colonizada.
O Comboio Africano conquistou a liberdade, mas logo depois tudo ficou na saudade, porque aboliram a linha e as populações ficaram em ilhas isoladas, tristes e perdidas no meio do capim alto. Gabela e Porto Amboim ficaram mais distantes uma da outra! Mas as populações esperam que um dia o comboio ainda volte a apitar no trajecto para reanimar vidas adormecidas! Quem sabe! A esperança é verde como o capim que hoje cobre a linha esquecida!
Ao desembarcar, ela estica o olhar perdido para o horizonte e renova a fé. E há razões para tanta fé, pois contrariamente aos carris, o sonho e a realidade terão um dia ponto de encontro.
Mona Ku Jimbe Manheno ! Kalunga Nguma !

MULHERES E O REGRESSO DO COMBOIO AFRICANO

sexta-feira, 19 de março de 2010

PEDAÇO DE CHOCOLATE!


Karl Marx, esquecido na fragrância da Mais-Valia, espreita sorrateiro na esquina, onde os flashes bombardeiam a figura de um menino a urinar! Como crianças ao toque de recreio, quando livres da rotina laboral, os adultos gracejam e gargalham descontraídos.
Viajar em excursão tem esse condão de adocicar amarguras cristalizadas no passar dos anos. Se amolecem as tensões e o corriqueiro ganha direito na taxinomia.
No enlace das pedras da calçada, seguem enlaçadas diferentes raças e culturas. Na proxémica, cada um ocupa o seu lugar! Sem colisões mas com coalizões harmónicas, o lingala, o inglês, quimbundo, francês, russo, português… são línguas irmãs. Bruxelas é um mosaico de culturas e povos, um tipo de cidade onde o vocábulo forasteiro há muito caiu em desuso. É património-universal!
No labirinto da história, a modernidade pára ofegante no seu cortejo de ufanismo e ergue os olhos para o cimo das torres de edifícios e catedrais talhados com esmero por exímios e anónimos artesões.
- Como os homens conseguiram erguer tamanha obra no alvor do séc. XVI?
Na relutância da resposta, assume-se a consciência da pequenhez! O passado emerge e confronta o presente com o seu consumismo entregue ao desvario de um prazer insaciável. É o hedonismo!
O flash se apaga, decantando na imagem guardada na memória a curiosidade do novo no velho! E na pausa, o silêncio é eloquente, enquanto se dissolve sobre a língua o pedaço de chocolate negro!

Estamos juntos!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Caldo verde



Ainda era criancinha, mas voar era o meu sonho, para transpor aquelas montanhas que cercavam a minha aldeia como barreiras para impedir a evasão de sua gente. Queria conhecer além do horizonte nublado. Queria vencer o nevoeiro e conhecer mais coisas além das bananeiras e dos cafezeiros. Invejei os pássaros que no seu exibicionismo iam e vinham cheios de felicidade visível no cantar.
Um dia tardei dormir, quando pela primeira vez um avião passou bem baixinho sobre as casas da nossa aldeia. Corremos atrás do seu rasto até cairmos sob o cansaço das pernas e dos pulmões. Renovei o sonho de voar.
Naquela noite sonhei. Um sonho bonito. Meu pedido havia sido satisfeito. Um pássaro de ferro veio buscar-me e eu estava radiante despedindo-me dos meus amigos todos esfarrapados. Mas ao acordar, era afinal apenas sonho de menino pobre sem asas para voar.
Decidi retomar a rotina de lugares pequenos e deixar o meu sonho no molho verde da esperança. É como se alguém comprasse sapatos grandes e deixasse os pés crescerem para os por usar. E nessa espera nasceu uma outra paixão sobre as águas do rio Mazungue.
Agora queria ser marinheiro e descer rio abaixo até atingir o mar. Um dia desci até ao mar, não de barco, mas de camião. Um camião que fumegava e nos buracos jogavas os passageiros de um lado para o outro. Era preciso segurar para não rolar na carroçaria feito bola de trapos. Quando vi o mar tive medo. Fugi das ondas como louco, mas com o tempo fui-me acostumando a deixar-se embalar nas suas ondas.

domingo, 14 de março de 2010

Silêncio!



Uma criança
Na esquina
Sem amparo
Adultos passam
Sem pejo
MEDO baila
Nas ruelas escuras

sábado, 6 de março de 2010

Última Primavera!



Ainda era menino quando procurava decorar as quatro estações do ano. Na minha aldeia, depois do Verão, na inocência da idade corria eufórico atrás das folhas amarelas e dos frutos do Outono. No inverno, era o Presépio que mexia a rotina da criançada, que procurava na sua pobreza aconchegar o Menino Jesus que havia nascido para salvar o mundo do Pecado!
Depois, veio o vendaval e acabou com o Verão, Outono, Inverno e Primavera! As estações encolheram-se: tempo Seco e Chuvoso. Mas na reminiscência, as folhas ainda cobrem o chão atapetado de amarelo.
Com esses pensamentos, desembarquei na Avenida Marquês Pombal e caminhei até ao destino! Chovia, num Inverno que os europeus consideram o mais rigoroso dos últimos seis anos. E os estragos da Madeira são eloquentes!
Cheguei ao destino às 6H30 e na fila, entre sotaques de africanos, europeus do leste, asiáticos e sul-americanos, olhava com enleio a chuva que cai de mansinho.
Naquele dia, acordei cedo, nem deixei o despertador disparar. Aliás, a ligação da esposa e a mensagem da filha desejando parabéns pelo aniversário, foram madrugadoras. Que bom! Precisava chegar primeiro para a renovação do Visto de Residência em Portugal. Era Estrangeiro.
Enquanto aguardava, divertia-me em descobrir a nacionalidade de cada um deles. Ouvia e olhava, olhava! Perscrutava sobretudo a língua e o sotaque! A tarefa não foi difícil para a maioria deles. Chineses, ucranianos, senegaleses, guinienses, malianos se exprimiam na sua língua de origem. Português era apenas a ponte para unir falantes de outras línguas. Eu era o 4º na fila. Havia decifrado a origem de quase todos eles. Onde tivesse dúvida procurava confirmar!
- Desculpa, o senhor é mesmo da onde?
Chegou uma senhora. Aproximava-se das 8 horas. Esperei que ela falasse. De onde era ela? Angola? Moçambique? Cabo-Verde e Guiné-Bissau, não!
Esperei! Quando ela quis saber o lugar que ocupava na fila, consegui ver a silhueta da realidade cultural que o véu do silêncio escondia. Mas era insuficiente! Solução.
- A senhora é de Angola?
– Não, sou de S. Tomé.
Sorri contrariado! Perdi o jogo. Para o alívio, a porta se abriu e os estrangeiros em Portugal alinharam-se para a renovação dos papéis que garantia-lhes a permanência legal no espaço europeu.
Trinta minutos depois, estava tudo resolvido e parti apressado para o Instituto, onde cheguei antes do início do primeiro tempo. Mas no fim da aula, ocorre o inusitado! A primavera desabrocha, explode com as suas pétalas, seus coloridos, perfumes e borboletas.
A Turma ergue-se e canta parabéns a você! Todos os gestos e olhares absorvem-me. Saio da penumbra: era o dia do meu aniversário! Longe da pátria, eu estava radiante pela surpresa! No convés da Fragata desenhada sobre o bolo, os abraços, os beijos e desejos firmados de longos anos de vida!
Como eles descobriram a data do meu nascimento? E não tive dúvidas! Inconfidência! A vizinha de carteira, Lénia Godinho era a cúmplice de um momento sublime que se retém no altar da memória. Eu já não era mais estrangeiro, era apenas um cidadão de Angola, que em cada esquina de Portugal tinha alguém com quem partilhar lembranças, cultura, história e futuro.
Ainda caminhava nas nuvens, quando hoje o telefone toca. Era um amigo português de nome Augusto, que convidava-me para o almoço em sua casa. E cai para trás, quando ao entrar na sala, vi a mesa ornamentada tendo no centro um bolo com a Bandeira de Angola, Nosso Orgulho Maior!
Viva as primaveras da vida!