sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cadê os Gambozinos?






Portanto, não há ilhas num mundo de interdependências crescentes! Não há qualquer descontinuidade possível entre nós. Multilateralismo!
No intervalo, vejo a ansiedade com que eles se convocam para a baforada urgente na varanda do edifício. Resignados procuram seu cantinho, pois é proibido partilhar nicotina com os não-fumadores!
Os rolos do fumo se perdem no ar como os sonhos! Vagamente, depois de cada baforada, vão conversando descontraídos sobre a vida, sobre as coisas… Dividem o olhar gaseado entre o relógio e o tamanho do cigarro. E aguça-se o prazer ao ver a cinza a aproximar-se dos dedos eriçados. Mas poupa-se, redobra-se o desejo, aprofunda-se o paladar! Quer-se prolongar o cigarro, mas em vão! É o prelúdio do fim! Depois a beata é afogada no cinzeiro! Soçobra! E regressam extasiados!
Durante as conferências gracejam feito adolescentes e há quem faça aviões de papel, quando a aula resvala na monotonia dos conceitos e na frieza do chumbo dos paradigmas! NATO, Geopolítica, geoestratégia…BRIC. CPLP, só Soft Power! Não há Cruz, nem Aquino por perto!
Na viagem, o cenário contagia! Hortênsios ornamentam o caminho enquanto o verde cobre as colinas onde vacas pastam calmamente! Da cratera do vulcão adormecido, brota um carpelo de esperança para fecundar a vida de açorianos.
A noite húmida, disfarçada pela luz do prolongamento dos dias de primavera, anima-se ao sabor de fermentos da amizade!
«Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade».
O meu amigo madeirense cantarola a música “Os Meninos de Huambo”, letra de Manuel Rui e música da Paulo de Carvalho.
Tropeça na memória, mas prossegue irreverente:
«Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia».
As meninas da mesa, respondem também com suas canções da infância. E todos juntos querem voltar a ser meninos!
Querem voltar a caçar Gambozinos.
- O que são gambozinos?
- São bichos, pretos e peludos. Tens de levar um saco, uma lanterna para poder apanhá-los.
E a rapaziada gargalha animada. A ignorância, insinua, na mente de um, os muitos bichos obsceno que inundam a noite. Mas sou homem adulto, feito para durar, vou gerindo e ingerindo o cardápio.
Na onda, alguém queixa-se de dores no peito. Contorce-se, ergue-se mas não desiste. Procura o maço de cigarros e convoca a sua turma para a baforada colectiva.
O Hermínio, não o Maio, mas o Matos; Hermínio, não o Engenheiro de Benguela e o Comandante do Regimento 13, mas o Comando, o seu nome condiz com o personagem! Mesmo com-dor, não arreda pé! Ainda bem, pois equipa estaria desfalcada. Seria uma ausência de mais de 100 quilogramas no equilíbrio do grupo CDN-10!
E a apanha de gambozinos marcará sempre o ritual de passagem da adolescência para a juventude! Essa juventude que desejo para todos florescente e eterna!
«Dividem a chuva miudinha pelo milho
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar»
Kamba-diami , cadê os Gambozinos? Meu computador corrigiu Kamba-diami e cadê! Ainda alguém procura por um acordo ortográfico?


Eis-me: Alfredo Mazungue

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