quarta-feira, 28 de maio de 2008

Quase amor!


Esquecidos da dor, caminhava descontraído entre as paredes frias da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora-Minas Gerais Brasil, quando, perto das escadas, cruzei com um grupo de meninas que vinha da Faculdade de Pedagogia. Olhei indiscriminadamente para o cacho de cabeças e cabelos, quando da multidão saltaram olhos que cruzaram com os meus. Parei, acalmei o coração descompassado e olhei de soslaio para as estudantes, que barulhentas gargalharam descontraídas.
Suspirei e retomei a marcha amaldiçoando-me por não ter sido capaz de mandar parar aquele grupo de estudantes e retirado do seu seio a dona daqueles olhos que me encandearam, que me confrontaram. É essa timidez, é essa incerteza, que nos faz perder muitas oportunidades na vida! E quantas? Perde-se quando se tem tudo para ganhar.
Entrei na sala e os meus pensamentos perderam-se na aula sobre literatura brasileira. A professora Marisa Timponi, inspirada, falava sobre o autor da “Idade do serrote”, Murilo Mendes. Depois “A Hora da Estrela” de Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Guimarães Rosa, Jorge Amado... Quando falou de poesia... o meu coração voltou a bater acelerado.
Pensei naquela menina, estreita, cabelos amarrados atrás da nuca, olhos cintilantes e um andar de gazela. Nos primeiros dias, ainda pensava nela, mas com o passar do tempo a menina perdeu-se entre bibliografias, fichamentos, resenhas, pautas, reportagens e edições.
Esquecia-me dos seus olhos, quando, por acaso, voltei a cruzar com ela. Vinha da sua faculdade e se dirigia para a Biblioteca Central. Com a coragem a querer fugir-me entre os dedos, saudei-a. Tudo bem? Tudo. Já está na hora? É, né! Estava aberto o canal da comunicação. Apresentei-me e falámos alguns instantes, depois partiu apressada com o rosto banhado por um sorriso morno.
Ao perde-se no horizonte, conferi, numa das páginas do caderno, o número do telefone. Ela é simpática e bonita. Uff... E rejuvenescido, engrenei a primeira a marcha.
Na tarde do dia seguinte, liguei. Ela não estava. Que desilusão! A inquietação salpicou o sono. Sonhei que eu estava com ela a passear nas margens do rio Paraibuna. Com o seu sorriso mal saído da adolescência, jogava pétalas para a corrente e animava-se em vê-las sendo levadas pela água. Acordei agitado. Não! Não! não leva! Ó pai, mas o quê que se passa? Era o Sangueve, apercebendo-se da minha aflição. Nada, pai! Esta merda está difícil! É preciso coragem, pai. E voltei a adormecer.
Noutro dia, voltei a ligar. Era ela! Trabalhava nas horas vagas numa floricultura e morava no Bairro Benfica. Vivia perfumada entre rosas, lírios, margaridas, campanhias e mal-me-queres.
Ainda me lembro. O primeiro encontro foi na Rua Santa Rita. Caminhámos calmamente e num entroncamento parámos para tomar sorvete. Era a primeira vez que ela tomava sorvete de banana. Falávamos sobre várias coisas, enquanto subíamos a Rua Halfeild, vulgo Calçadão. O relógio da Prefeitura marcava 21 horas e a temperatura era de 18 graus. Sentámo-nos num dos bancos do Parque e sonhámos. Quando a beijei, senti o seu corpo tremendo levemente. E o bálsamo do amor irrigou o cérebro e afastou as dores causadas pelos atrasos da bolsa.
O amor afinal é mágico! E na alcova de apaixonados cantávamos com Sandra de Sá a canção “Sozinho”:
Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
E fico ali sonhando acordada, juntando
O antes, o agora e o depois (...)

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