terça-feira, 21 de outubro de 2008

Reencontro com Cabinda no caminho do petróleo

Para conhecer-se um elefante, basta andar! E foi andando que o homem descobriu a natureza e frutos que dela pode colher! A 300 km da costa angolana, existem plataformas com uma altura comparável a de um edifício de 6 andares, hotel para 180 pessoas. Telefones, água doce, energia eléctrica 24/24 horas e emissão de TV. Outro espanto é perceber como se explora petróleo no mar a uma profundidade superior a um quilómetro. Só visto!
São 9 da manhã! O tempo corre. Esta é a segunda vez que viaja para a província de Cabinda. A primeira ocorrera em 1984 integrado num grupo de finalista da antiga Escola Político-Militar Comandante Jika, em Luanda. Na altura, desembarcou no aeroporto da cidade e foi logo transportado por um camião de marca Ural.
Ao sair da cidade a caminho do município do Belize, por volta das 22 horas, os ocupantes do camião foram colhidos por uma chama que fez reluzir as coronhas das armas. Os olhos, que procuraram em vão alvos na densa floresta, foram encandeados pela chama. Nas narinas, o cheiro do óleo. Era o petróleo de Malongo!
Vinte anos depois estava de regresso. A companhia é outra e as preocupações também eram diferentes. Vinha como jornalista conhecer melhor o mundo dos petróleos. Sem fusil nem a preocupação de antanho, apenas trazia um bloco de notas e uma lapiseira. O cenário, este continua o mesmo. As tochas continuam acesas como que em monumentos históricos assinalando um feito heróico de inigualável valentia. Apenas ele mudara, crescera e deixara sonhos e ilusões à berma do caminho como restos de cigarros abandonados na borda do cinzeiro. A paisagem, esta continua a mesma: verde!
As sondas disseminam-se mar adentro. Ao anoitecer, as tochas acesas denunciam uma cidade flutuante sobre a orla marítima. Um verdadeiro caleidoscópio captura os olhares. Mas parte desse espectáculo tem seus dias contados. Em 2005, a queima de gás durante a exploração petrolífera vai ser reduzida. Para o efeito, a ChevronTexaco e suas associadas do Bloco Zero investem 1,5 biliões de dólares, para levar avante empreitada. O projecto implicará a recolha de gás associado e não associado dos Blocos Zero, 2, 14, 15, 17 e 18. A liquefacção do gás será feita numa instalação em terra, do tipo via única, com capacidade para 4 milhões de toneladas por ano. Esse produto será depois vendido nos mercados europeus e norte americano. Em 2006, não se queimará mais gás. Para além dos ganhos em receitas, os benefícios ambientais serão significativos. Por outro, muitos desempregados, que hoje vêem suas esperanças encalhadas, vão poder soltar o papagaio e sonhar.

ENCONTRO COM MUNDO DOS ÓLEOS

“Descoberto mais um poço de petróleo em águas profundas”. Assim têm sido as manchetes nos órgãos de comunicação. A notícia não passa despercebida, mas quantos têm a noção da localização geográfica dos blocos, as potencialidades das reservas, bem como a complexidade tecnológica que envolve a exploração, sobretudo em águas profundas? Já se chegou a confundir Benguela e Belize, localidades de Angola com as dos poços. Por isso os técnicos dos petróleos queixam-se dos equívocos da imprensa. É para prevenir embaraços que falhas do género provocam que a ChevronTexaco levou a Cabinda um grupo de jornalistas.
Depois de desembarcar no aeroporto de Cabinda, os profissionais da imprensa visitaram vários projectos sociais realizados pela multinacional americana em Angola. A primeira foi a escola Patrice Lumumba, inaugurada em 2001. Esta possui nove salas apetrechadas e funciona em três turnos. É hora de aulas. Em cada sala cabem 40 crianças. Ao verem entrar os visitantes, erguem-se dos assentos e em uníssonos dão as boas vindas: “Bom dia senhores....”. - Qual é o vosso sonho? Ouviram-se várias vozes: “engenheiro, médico, piloto... E o grupo saiu perseguido por olhares carregados de esperança.
Em plena hora de trabalho, viam-se muitas pessoas nas ruas. Nada difere do que ocorre nas demais províncias. É a síndroma do desemprego. A ChevronTexaco consciente desta dificuldade tem apoiado empresas locais. E com base em parcerias entre empresas nacionais e estrangeiras, a multinacional apoia esforços no sentido de relançar a actividade económica na província, fazendo com que muitos produtos e serviços hoje fornecidos por empresas estrangeiras possam ser prestados por nacionais.
Na bomba de abastecimento de combustível, a fila é enorme. Há falta de gasolina. A Cabinda Golf para suprir as suas necessidades instalou uma mini refinaria em Malongo, que produz cerca de 16 mil barris de gasóleo e fuel para os seus helicópteros. A empresa também produz gás, que serve para atender as necessidades do mercado local e exportar para o Brasil. A presença da ChevronTexaco faz-se notar para além dos campos de petróleos. Escolas, residências para professores e enfermeiros, piscina, centros médicos, maternidades, dioceses, condomínios, instalações para a associação de pescadores, fomento agrícola e outros projectos espalhados em toda extensão da província levam a sua marca. Anualmente, mais de 12 milhões de dólares são canalizados para projectos comunitários em todo país.
Ao passar por alguns empreendimentos em execução, ouvem-se queixas devido ao incumprimento dos prazos na entrega das obras. “Mas nós condescendemos, procuramos fazê-los compreender a situação”, diz um dos funcionários da multinacional.


MALANGO É UMA CIDADE À PARTE

Malango é uma cidade à parte, cercada por arame e habitada por gente de vários quadrantes. Diz-se que lá até existem pacaças, que andam tranquilamente sem temer a acção de caçadores furtivos.
Malondo tem escola de formação, um refeitório que atende mais de 2500 refeições/dia. Possui clínica e campos de jogos. Lá trabalham mais de 2 mil cidadãos nacionais e cerca de 300 expatriados.
O verde cobre a paisagem. Depois do almoço, os visitantes partem de helicóptero para o alto mar. Mas antes a preocupação com a segurança. Capacete, tapadores de ouvidos, colecte salva-vidas, óculos e botas. Não querem quebrar o recorde. Desde 1999 que não se regista qualquer acidente.
Um angolano e um americano formam a dupla de pilotos. É o processo de angolanização em curso no sector. O decreto 20/82 exige 70 por cento de angolanos nas companhias petrolíferas. A respeito a ChevronTexaco diz que a nível de quadros superiores já alcançou os 67 % e a de técnicos médios os 100%. A satisfação é indisfarçável ao ver angolanos como Daniel Rocha a exercer o cargo de director do Departamento de produção da multinacional americana.
O helicóptero levanta vou e a viagem dura mais de 30 minutos. Suficientes para alguns adormecerem ademais depois de um almoço cheio de iguarias.
Na sonda Sanha Condensados jovens angolanos impressionam qualquer visitante, pela maneira profissional como executam as suas atribuições. Trabalham lado-a-lado com colegas seus estrangeiros. A comunicação se processa em Inglês. Estes jovens permanecem no mar 30 dias e trabalham de dia e de noite. “Enquanto dormimos ele trabalham”. Não há tempo de descanso. Está tudo cronometrado. Basta ver, por exemplo, que o aluguel de um guindaste fixador de sondas custa 450 mil dólares/dia. Qualquer falha ou atraso acarretaria prejuízos avultados.
Os olhos enchem-se de surpresas. Algumas sondas têm uma altura comparável a de um prédio de 6 andares. No Takula existe um hotel para 180 pessoas. São autênticos edifícios. A estrutura é firme como se estivesse em terra. Tem luz e água canalizada. “A luz aqui não vai”, diz um dos operadores. A tecnologia usada é de ponta, em alguns casos Angola é o segundo país depois do EUA onde a mesma está a ser usada.
Os investimentos são avultados e os resultados espectaculares. Em 1966, eram exportados 3 mil barris hoje esta cifra atinge 4,5 milhões de barris carregados de dois em dois dias. Basta ver que em 2002 a produção da ChevroTexaco foi de 626,664 milhões de barris dia, dos quais 50% exportados para os Estados Unidos da América. Nemba produziu em 2003, 48 milhões de barris. A produção actual é de 132 mil barris/dia.
Segundo informações colhidas no local, parte daquela estrutura de ferro pesado das sondas é feita em Angola, nos estaleiros da Sonamet no Lobito. Chega a hora da partida. O superitendente Emanuel Leopoldo despede-se dos visitantes. Naquela altura, o sol era apenas uma bola de morna. Do Sanha Condensados os visitantes partem directo para o aeroporto. Chegam a Luanda por volta das 19 horas. Sob as luzes da cidade, os luandenses regressam a casa.
Antes do sono chegar, os excursionista passam em revista os dados memorizados: O país terá, o maior navio do mundo para armazenar gás em estado líquido. Já está em construção na Coreia...Próximo mês de Outubro Bomboco vai começar operar. Em Angola, a ChevronTexaco e suas associadas a maior produtora de petróleo. Composto por 36 campos principais, incluindo Tacula e Malongo, a produção média do Bloco Zero é de 400 mil barris de petróleo por dia. No Bloco 14, desde 1997, fez nove descobertas. A produção actual é de 85 mil barris/dia. No Bloco dois, perto da foz rio Zaire, 47 mil barris de petróleo/dia são extraídos em águas profundas.

P.S: Essa Reportagem foi escrita e publicada no Jornal de Angola em 2004

1 comentário:

Orlando Castro disse...

Amanhã, dia 22, quarta-feira, é apresentado na FNAC do Norte Shoping, Matosinhos (Portugal), às 21,30 horas, o livro de Francisco Luemba “O problema de Cabinda exposto e assumido à luz da verdade e da justiça”.