quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Fucik, prémios e jornalistas!

Prólogo: Jornalista debate-se no pântano, quando mais se mexe mais se afunda!

LARGO JULIUS FUCIK! Na baixa luandense, irreverentes e frondosas mulembeiras recusam a conformidade da esquadria humana e caminham para o meio do asfalto. Não temem sequer os automóveis endiabrados. De dia, sob a sombra, muita gente afaga seu próprio destino. A noite, morcegos disputam frutos e humanos paixões. O vento da noite vence a força de gravidade e dissemina o sentimento de liberdade mundo afora. O raiar do sol vence as trevas!
PRAGA! Era uma primavera incomum, a de 1943. “Cem vezes fui aqui espectador do meu próprio filme, mil vezes lhe segui os pormenores. Agora vou tentar explica-lo. E se o nó corredio da forca me apertar o pescoço antes de terminar, ainda ficarão milhões de homens para o completarem com um happy end”. Assim escreveu Fucik antes da sua morte aos 8 de Setembro de 1943.
Sob o silêncio da sua voz, outras vozes se ergueram entoando revigoradas as mesmas canções!
Conterrâneo de Franz Kafka, Fucik nasceu a 23 de Fevereiro de 1903. Filiado ao partido comunista checoslovaco, foi preso no dia 24 de Abril de 1942 e condenado à morte por um tribunal de Berlim.
Chileno Pablo Neruda em sua memória disse estarmos a viver uma época que amanhã se chamará a época de Fucik, época do heroísmo simples ...Em Fucik há o sentido não só de um cantor da liberdade, mas de um construtor da liberdade e da paz...»(10).
O marxismo, que desmascarou o capitalismo e previu seu velório sob responsabilidade do proletariado disciplinado e organizado, ruiu. O movimento operário comunista internacional entrou em colapso. Mas perenes continuam os ideias de liberdade e de justiça social. E são esses ideais que, como utopias de Saint Simon, mobilizaram milhares de cidadãos na luta contra a opressão e o despotismo. Milhares tombaram na luta renhida pela defesa da vida.
Como Che, para a maioria da juventude, Fucik continua vivo entre os que, no mundo inteiro, fizeram do jornalismo a profissão da sua grande paixão! Seu último trabalho, a “REPORTAGEM SOB A FORCA”, sobreviveu às masmorras. Nela, Julius narra passo a passo as intempéries passadas na prisão. A tortura e a morte! “Com certeza já não vou ter possibilidade de escrever. Fica aqui, portanto, o meu último testemunho”.
E o seu testemunho feita reportagem, continua nas vitrinas do mundo inteiro. Tem maior gratificação que isso?...
Rituais, fazem emergir a lembrança do feito heróico. Concursos e prémios sustentam a existência na necessidade de distinguir os que se salientam dentre os demais: Galardão aos jornalistas (...) Azulai, Candembo, Luísa Fançony, Ismael e Sanhanga. O prémio Maboque anima a classe. Acaba sendo o pico mais alto nas celebrações do dia internacional dos jornalistas.
Por isso a expectativa é grande! À partida todos os profissionais dos órgãos de comunicação nacionais são candidatos ao galardão. O sinal que indicia, na véspera, o facto de estar na lista dos seleccionados, é o convite para a Gala. Se estiver convidado, o cheiro do prémio está por perto. A possibilidade de vencer, faz desenterrar velhos projectos, alguns há muito adiados. Trinta mil dólares fazem bem a qualquer um, sobretudo quando se é jornalista. Enquanto se aguarda pelo dinheiro investido em jogos que se tornaram moda em Luanda, como o Pentágono! Apesar do dinheiro, sei-o que o melhor prémio mesmo, é saber que o seu trabalho está sendo seguido e seu esforço reconhecido.
Cada Nação tem seus heróis, cada disputa um vencedor! Os prémios não garantem excelência, mas rejuvenescem vontades! Valeu a pena!
Mas a cada edição do Prémio, algumas vozes discordantes se fazem ouvir! Um dos aspectos questionados está nos critérios. Um prémio único de jornalismo é incapaz de atender a peculiaridade de órgãos de todos os órgãos de comunicação. Julgar uma reportagem em TV e outra feita em jornal ou rádio é algo muito difícil. Pois, cada um dos órgãos tem a sua especificidade. Jornal é escrita, Rádio voz e Tv imagem. Julgar um diário de cobertura nacional e internacional com um Semanário deve ser algo penoso. E as novas Revistas? Tudo é joio? Como julgar, por exemplo, o feito de um jornal diário que conseguiu neste ano ser publicado em Luanda e na Europa simultaneamente. Critérios, critérios.
O prémio Pulitzer de jornalismo, um dos maiores do mundo desde 1917 é um exemplo. Administrado pela Universidade de Columbia, é outorgado anualmente para trabalhos em 21 categorias nos campos de jornalismo, fotografia, reportagem, literatura, música e teatro.
Para o nosso caso, é chegado o momento de procurar apoios para a criação de um prémio nacional. Aliás, o Ministério da Comunicação e o Sindicato de Jornalistas devem coordenar acções nesse sentido. Assim teríamos um prémio que entre outras categorias teria de contemplar:
- Categoria de impressos (Jornais e revistas)
- Categoria Rádio (reportagem)
- Categoria Televisão (reportagem, edição e imagem)
- Categoria Fotojornalismo (imagem)
- Categoria Jornalismo Político
- Categoria Jornalismo Económico
Assim, os riscos de misturar alhos e bugalhos seriam bem reduzidos!



OBS: Texto publicado em 2005 no Jornal de Angola sob a rubrica "Atalhos da Utopia"